Nos bastidores da notícia

Centenas de jornalistas de diversos países vieram ao Brasil para a cobertura da viagem do Papa Bento XVI. A opinião de muitos desses profissionais é de que o Papa surpreendeu o mundo ao manifestar profunda compreensão e afeto para com todos os fiéis. Reproduzimos alguns destes depoimentos.

Eduardo veio do Peru.

Eduardo S., jornalista de uma televisão peruana, ficou emocionado ao presenciar o Papa entre os doentes e dependentes químicos, da Fazenda Esperança. Considerou este momento o ponto alto da visita e disse que o Papa retratou duramente esta infeliz realidade: «Para mim o momento mais emocionante foi o encontro na Fazenda Esperança. As palavras de Sua Santidade foram, quem sabe, um pouco fortes e enérgicas sobre as drogas, mas creio que é necessário, porque um pai que ama a seus filhos, se o filho está a ponto de cair no precipício ou de se queimar, o pai não lhe vai dizer filhinho se você quiser continue assim, mas dirá tenha cuidado! (...) O Senhor quer que sejas livre e feliz e as drogas estão te levando a um mundo de escravidão, de infelicidade e de obscuridade para ti e para todos os teus familiares. Todos os que mais te querem irão sofrer muito e para você sair daí será muito difícil. Creio que essas palavras foram muito boas. Eu me alegrava junto com os rapazes e quando pude me juntei a eles, era uma festa. Realmente, para mim, foi o momento mais impressionante».

A simples passagem do Santo Padre pelas ruas era como um encontro familiar. As pessoas contemplavam o papamóvel querendo fixar estes momentos, numa atitude de quem tem em Bento XVI um pai comum.

Aline A., radialista brasileira, repórter de uma importante cadeia nacional, expressou com precisão o impacto dessa viagem: «O Papa surpreendeu a todo o mundo, porque muito se falava, desde a sua eleição em 2005, de que seria um sucessor conservador. Mostrou completamente o contrário. Só retribuiu os gestos de carinho da população desde que chegou. Os seus discursos vão bem ao encontro dos dogmas da Igreja e o respeito à família. Quando falou do aborto, penso que não foi no intuito de polemizar. Todas as religiões condenam o aborto, porque é uma vida. Então eu acredito que o Papa Bento XVI surpreendeu nesse sentido de demonstrar um carisma que as pessoas não esperavam. Acho que ele volta para a Itália deixando uma imagem muito positiva e conseguindo realmente cumprir a missão, não só de abrir a V Conferência, mas também de impulsionar o Catolicismo na América Latina».

Mais de 800 jornalistas se credenciaram para a cobertura da viagem do Papa. Alguns canais de TV trouxeram uma verdadeira equipe de produção para transmitir ao vivo para os mais distantes cantos do país e do mundo.

Alex e Javier vieram da Itália

Javier M. trabalha numa importante produtora de cinema e vídeo, sediada em Roma. O cameraman que o acompanhou na viagem era croata, mas num português rudimentar conseguiu dizer que estava encantado com o Brasil. Javier compreendeu que o Papa deixou um recado preciso ao povo brasileiro: «Impressionou-me a abertura com que recebeu o povo brasileiro e também me encantou o seu empenho em defender a família, os filhos e o papel da Igreja na vida social. O Santo Padre, no primeiro dia, enfatizou que a Igreja, sem intervir na política, guia as consciências para que as pessoas possam decidir livre e voluntariamente».

Gregory B., norte-americano que trabalha para uma importante cadeia de rádio americana, também opinou sobre a visita: «Penso que o Papa quis assumir um risco ao vir ao Brasil. A Igreja experimenta um momento difícil e o Papa viu que aqui o jogo pode começar a ser ganho. Ninguém é ingênuo para perceber como a situação é séria. Mas a visita foi muito positiva e nós veremos isso mais tarde. Acho que a realização desse evento foi como um jogo de alto nível, com riscos altos, mas o importante é analisar as coisas com calma e colocar isso sobre a mesa».

A Assessoria de Imprensa da Visita do Papa desempenhou um papel fundamental no atendimento dessa grande massa de profissionais, sobretudo estrangeiros. Além do site da visita que recebeu mais de 10 milhões de acessos, a estrutura montada em cada local e a atuação de muitos voluntários, contribuíram para que o sucesso da visita superasse as expectativas.

Maria Inês M., responsável pela Assessoria de Imprensa, explica o desafio que supôs este gigantesco trabalho: «Foi um enorme desafio e não sabíamos como as coisas sairiam. Mas a Igreja, contratando profissionais com experiência no setor jornalístico, mostrou um desejo de profissionalismo e isso foi um passo gigantesco. Houve desafios de posicionamento dentro da própria Igreja, em um segundo momento com o governo, nas diferentes esferas, federal, estadual, municipal e em um terceiro momento com o próprio Vaticano, que é o que enfrentamos agora de forma imediata nessa visita do Papa. Quando eu digo “enfrentar” significa política de relacionamento: como compaginar uma equipe com a outra, como compartilhar os momentos adequados para a cobertura, etc. Esse foi o grande desafio».

O jornalista se dispõe a qualquer coisa para realizar uma boa matéria.

Enquanto Maria Inês tem 22 anos de profissão, os estudantes de jornalismo Thaís T., 17 anos, e Pedro D. M., de 18, estão no primeiro ano do curso de Jornalismo. Pedro diz que trabalhar “para o Papa” foi mais do que prestação de serviço: «É uma grande realização pessoal. Poucas pessoas tiveram acesso às informações como nós tivemos». Thaís conta que entrou para a equipe quando ainda estava na terceira semana de faculdade: «Aqui é uma grande escola, uma oportunidade única. É talvez a maneira mais forte de se aproximar da santidade profissionalmente».

Ao concluir este conjunto de impressões, reunidas no breve convívio com inúmeros jornalistas, reproduzimos umas palavras de D. Odilo Scherer, Arcebispo de São Paulo, a modo de mensagem final: «Depois de termos recebido muito, é hora de partilhar largamente com os outros o rico patrimônio da fé e da experiência de vida eclesial que nos foi legado. Talvez um dos motivos da visita do Papa ao Brasil seja, justamente, recordar-nos isso».