O seu trabalho sacerdotal consiste em procurar atender os mais de quarenta mil habitantes dos dezenove bairros da sua paróquia. Bairros de famílias trabalhadoras e simples, com a alegria natural que costuma caracterizar o povo sevilhano. A entrevista se dá num pequeno parque entre prédios de apartamentos, muito perto da sua igreja.
Como o senhor descobriu a sua vocação sacerdotal?
Os meus pais são bons cristãos e ensinaram-me desde pequeno a relacionar-me com Deus com confiança e simplicidade. A família toda ia à Missa aos domingos e, ainda menino, participei algumas vezes do coral do Mosteiro da Encarnação de Sevilha.
Quando veio a adolescência, embora não tenha deixado de ir à Missa aos Domingos, arrefeci bastante no convívio com Deus. É curioso, não rezava quase nada, mas recordo que a coerência era um valor que apreciava bastante. E os comportamentos incoerentes aborreciam-me, com essa raivinha que é tão própria dos adolescentes e que às vezes também é pouco razoável.
Terminei o ensino médio e comecei o curso de Direito. Gostava de sair com o meu grupo de amigos e amigas e conversávamos muito de todos os temas que costumam interessar a um universitário: as aulas, os professores, as possibilidades profissionais, política, amizade, esportes, a vontade que tínhamos todos de nos divertirmos… Já no primeiro ano do curso, sentia uma certa inquietação interior. A felicidade que eu andava a procurar não estava nas noites movimentadas, nem nas festas, nem nesses comportamentos superficiais que nos deixam vazios por dentro...
A minha inclinação para detestar as incoerências, que na adolescência me tinha causado mais do que uma dor de cabeça, levou-me a Deus. Uma moça da minha turma falou-me do Opus Dei. Até então, eu tinha um conhecimento muito superficial da Obra e, além disso, com referências negativas; pensava que a Obra era só para pessoas com muito poder aquisitivo e outras coisas que podem passar pela cabeça de quem não conhece o espírito sobrenatural da Obra.
No segundo ano do curso, comecei a ir quase todos os dias ao “Club Universitario Plaza de Cuba”, um centro da Obra em Sevilha. Impressionou-me a alegria, o bom humor e a simplicidade no convívio que encontrei lá. Intensifiquei a minha vida cristã, descuidada desde a adolescência, e propus-me ir à Missa todos os dias. Falar com Deus na oração abria-me horizontes insuspeitados, grandes ideais de entrega ao Senhor que estavam como que soterrados no fundo da minha alma. Tenho que dizer que nesses anos estava namorando sério, com uma moça estupenda com quem saía há alguns meses. Nas conversas que mantinha com o sacerdote desse Centro da Obra, ele animava-me a crescer na minha vida de piedade e a viver um namoro limpo.
Assim postas as coisas, vi claramente a minha vocação sacerdotal e decidi entrar para o seminário diocesano de Sevilha no mês de setembro de 1998.
Como é o dia a dia do seu trabalho na paróquia?
A cada dia percebo com mais clareza que muitas pessoas têm sede de Deus. Quando cheguei à Paróquia Nossa Senhora da Oliveira e São José Operário não tinha consciência do carinho com que ia ser recebido pelos paroquianos.
Tenho muito claro que um sacerdote deve ser um homem de Deus. Para isso, necessito da oração, da Santa Missa, do recurso filial à Virgem Maria e a São José…
Também me propus cuidar muito dos doentes da região. Procuro visitá-los com frequência, aliviar, na medida do possível, a sua dor, pedir por eles, apoiar-me na sua oração, que tanto vale na presença de Deus...
Nos primeiros natais que passei à frente da paróquia, quis dar as boas-festas a todos os habitantes da paróquia: 40.000 pessoas. Umas semanas mais tarde, apareceu na igreja uma senhora que queria voltar a viver a sua fé, que tinha abandonado há tempo. Ao perguntar-lhe o motivo da sua decisão, disse-me: “nunca ninguém me deu as Boas-Festas pelo Natal. Quando chegaram a minha casa as Boas-Festas da paróquia, decidi voltar a praticar a minha fé”.
Pressente-se a ação do Espírito Santo nas almas. Graças a Deus, dois jovens da paróquia já estão no Seminário diocesano e cada vez mais pessoas vão ao Sacramento da Confissão; enfim, tudo são motivos para dar muitas graças a Deus.
Em 13 de Junho colocaram na sua paróquia uma relíquia de São Josemaria Escrivá, fundador do Opus Dei. Como a Obra o ajuda a viver a sua vocação sacerdotal?
Graças ao espírito do Opus Dei, aprendi que a minha vocação sacerdotal fica plena de sentido quando estou plenamente unido ao meu Bispo, o Cardeal D. Carlos Amigo e ao Bispo coadjutor da diocese, D. Juan José Asenjo; quando procuro estar muito unido aos meus irmãos sacerdotes da diocese e, claro, quando procuro estar perto dos meus paroquianos, ajudando-os em tudo o que me pedem e rezando por eles. Encontrei a maravilha da vocação sacerdotal graças ao espírito do Opus Dei. Logo, estou em dívida para com São Josemaria, que tanto se interessou pela formação dos sacerdotes diocesanos. Queremos honrar, assim, a sua memória na nossa paróquia, para que muitas almas se encomendem à sua intercessão.