Mudar de vida sem mudar de trabalho

Carmen Fernandez é andaluza e balconista na seção de perfumaria de uma grande rede de lojas. É casada, tem dois filhos e é supernumerária do Opus Dei.

“A minha vida mudou desde que comecei a dizer, pela manhã, quando me levanto: Senhor, ofereço-Te o meu trabalho, ofereço-Te o meu dia”. Trabalho como balconista desde os quinze anos e descobri, agora, que se pode realizar o trabalho por amor a Deus, servindo uma pessoa que é uma filha, um filho de Deus, uma irmã, um irmão. Isso muda a vida!

Antes me esforçava apenas quando a venda supunha mais dinheiro, e reclamava interiormente quando aparecia um cliente e começava a fazer perguntas sem intenção de comprar… Agora digo: “Senhor, por Ti” e acompanho o cliente até o lugar onde está o produto mais barato, em vez de lhe indicar com a mão e dizer: “Senhor, procure por ali”.

Procuro ser amável com todas as minhas colegas, ainda que, como é lógico, tenha mais afinidades com umas do que com outras. Procuro ouvir, aprendi a escutar. Anos atrás, pensava estar perdendo o tempo, mas vi que não é assim; saber ouvir os outros é algo muito importante. Às vezes, às quatro da tarde, quando termina o meu turno, parece-me inacreditável como continuo a ter coragem.

Todas as semanas assisto a palestras de formação cristã com outras mães do clube juvenil que a minha filha frequenta. Eu queria para ela um local com bom ambiente, onde aprendesse uma série de virtudes, e um amigo da família falou-nos no Albihar e das atividades que disponibilizam. Agradou-nos muito porque o meu marido e eu não queríamos que estivesse todo o dia à toa, dado que ele trabalha no hotel, e a discrepância dos seus horários com os meus eram uma autêntica bomba-relógio!

Eu era uma pessoa que estava próxima de Deus porque tinha nascido e crescido numa família cristã, mas não O tinha presente desta forma tão íntima na minha vida.

Comecei a frequentar o clube com a minha filha e ali encontrei uma formação cristã que constituiu o empurrão de que precisava. Eu era uma pessoa que estava próxima de Deus porque tinha nascido e crescido numa família cristã, mas não O tinha presente desta forma tão íntima na minha vida.

Foi uma surpresa. Parecia-me impossível, com a vida tão “estressada” que levava, poder dedicar mais tempo ainda a Deus. Mas comecei a organizar-me, a ir à Missa todos os dias, a fazer oração… e agora tenho a minha casa arrumada, o trabalho não me pesa tanto e até a dor nas costas desapareceu! Ajuda-nos muito pensar que muito mais dores passou Jesus Cristo na Cruz… E assim vou vivendo, sabendo que esta é a minha vida, sem ficar esperando ganhar na loteria.

As minhas companheiras perguntam-me porque estou tão contente. Respondo-lhes que O que está lá em cima também está nos altares desde as oito da manhã e, portanto, alguma coisa tem que fazer! É Ele que faz tudo; porque eu, como tantas outras pessoas, em muitas manhãs não me levantaria da cama. Mas encomendo-me a toda a corte celestial e… para frente! Pode-se estar triste e preocupada… mas quando se tem a ajuda de Deus e a formação cristã, as coisas avançam.

Pela manhã faço um tempo de oração. Comprovei que, se dou a Deus meia hora, Ele me multiplica o tempo. Antes pensava que não sabia fazer oração; tinha que fazer fisioterapia por causa da dor nas costas e não havia descoberto que poderia fazer os exercícios que o médico aconselhava, caminhando pela rua, falando com Deus.

Pela manhã faço um tempo de oração. Comprovei que se dou a Deus meia hora, Ele me multiplica a vida.

Na realidade, não é fácil, nesta altura, conciliar o trabalho dentro e fora de casa e atender a minha família, que está em primeiro lugar. Isso exige uma grande ordem interior. Temos que aprender a dizer a nós mesmas: “Agora não vou passar as roupas, vou antes conversar um pouco com o meu marido e com os meus filhos”. Estou também procurando que os meus filhos se organizem e que aprendam a fazer as coisas, em vez de ser eu a fazê-las por eles. No início se perde o tempo, mas o importante é educá-los bem, com alegria e bom humor.

A alegria é muito importante; não é a mesma coisa acordar as crianças pela manhã com agrado, com carinho, com calma dizendo-lhes: “Crianças, vamos oferecer o dia, dar graças a Deus”, em vez de dizer: “Acordem! Vamos embora!” Antes lhes transmitia todo o “stress” que eu mesma tinha…

Dou graças a Deus por ter conhecido o Opus Dei; já conhecia São Josemaria desde pequena, porque tínhamos em casa uma estampa dele e rezávamos muito, sobretudo pelo negócio familiar. Tanto é assim que sabia a oração de cor; pedi ajuda a ele para conseguir o meu primeiro emprego, e também para tirar a carteira de motorista!...