No próximo dia 06 de abril, no Santuário Sagrado Coração de Jesus, em Florianópolis, acontece a Solenidade de Encerramento da Fase Arquidiocesana da causa de Beatificação e Canonização do Servo de Deus Marcelo H. Câmara, presidida pelo Arcebispo Dom Wilson Tadeu Jönck. No âmbito dessa celebração, entrevistamos Maria Zoê Bellani Lyra Espindola, autora da biografia “No Caminho da Santidade: a vida de Marcelo Câmara, um Promotor de Justiça”. Ela nos conta detalhes sobre esse processo, que poderá levar mais um brasileiro aos altares.
1. Como e quando começaram as manifestações de graças alcançadas pela intercessão de Marcelo Câmara?
Após o falecimento do Marcelo em 2008 algumas pessoas que o conheceram e que enxergavam a sua santidade começaram a pedir espontaneamente a sua intercessão para as mais diversas necessidades. Durante um período de 5 anos os relatos de graças alcançadas eram comunicados de uma pessoa para outra apenas verbalmente; não havia uma estrutura organizada para captação e registro. Somente com a aprovação da oração para devoção privada pelo Arcebispo de Florianópolis Dom Wilson Tadeu Jönck, em 2013, organizou-se o site com um e-mail para comunicação dos favores. Importante mencionar que nesse período dos primeiros anos pós-falecimento devotos anônimos colocaram placas de graças alcançadas no túmulo do Marcelo no cemitério onde ele estava sepultado.
2. Quais foram as etapas mais importantes desse processo?
Iniciamos com uma fase preparatória e mais oculta de investigação da vida de virtudes e elaboração da biografia (que é requisito essencial para instauração do processo), período que durou de 2012 a 2017. O primeiro marco significativo foi a Missa em ação de graças aos 10 anos da páscoa do Marcelo com o lançamento oficial da sua biografia, em março de 2018. Em seguida a criação da Associação Marcelo Henrique Câmara, promotora da causa, com a entrega do pedido de abertura do processo ao Arcebispo, no dia 25 de novembro de 2018, em uma Missa campal em frente à Catedral Metropolitana de Florianópolis na festa de Santa Catarina de Alexandria, padroeira do estado e encerramento do ano do laicato no Brasil. Após o recebimento do nihil obstat da Santa Sé, destaco o marco importantíssimo da convocação da primeira sessão solene do tribunal eclesiástico para a abertura do processo de beatificação, em 08 de março de 2020. E agora, finalizando 4 anos de instrução do inquérito diocesano com a juntada de documentos e oitiva de depoimentos, aguardamos a sessão solene de encerramento da fase arquidiocesana em 06 de abril de 2024, na oitava da Páscoa, festa da Divina Misericórdia.
3. Já há algum milagre para a beatificação?
Nós da Associação Marcelo Henrique Câmara já consideramos um verdadeiro milagre chegarmos ao final desta etapa. Quando me perguntam sobre isso gosto de dizer que já recebemos muitos relatos com evidente caráter sobrenatural, com a inequívoca assinatura do Marcelo. Mas um relato que atenda aos rigorosos (e necessários) requisitos para servir ao processo, ainda não temos. E não precisamos ter pressa; esta causa é obra de Deus, respondemos ao que Ele nos pede a cada etapa. Confiamos que no tempo oportuno o milagre para a beatificação ocorrerá. Até lá vamos evangelizando, divulgando a vida do Marcelo e celebrando as inúmeras graças que vão sendo derramadas ao longo deste caminho.
4. O prelado do Opus Dei quer que a prelazia esteja a serviço e ao lado de outras realidades da Igreja Católica. Como a devoção ao Marcelo tem aproximado outros católicos do Obra?
É impressionante como no testemunho do Marcelo se concretiza de forma muita clara este desejo do prelado, Monsenhor Fernando Ocáriz, este aspecto do espírito da Obra. Marcelinho soube harmonizar a diversidade dos carismas que tocavam e constituíam a sua vocação, consciente de que na Igreja esses dons do Espírito Santo se complementam e se somam. Promoveu a unidade, jamais a divisão e o fechamento, conciliando, na medida do possível, o serviço na paróquia e no Movimento de Emaús com o compromisso da sua vocação ao Opus Dei como fiel supernumerário. Observamos então um duplo movimento: ao mesmo tempo em que aqueles que tomam contato com a vida do Marcelinho se encantam pela santificação do cotidiano e buscam aprofundar o conhecimento acerca de São Josemaria Escrivá e do Opus Dei, a Obra é chamada nesta causa a trabalhar lado a lado com a realidade eclesial da Arquidiocese de Florianópolis e suas pastorais e movimentos, especialmente com a paróquia Sagrado Coração de Jesus e o Movimento de Emaús. Estamos unidos a serviço da Igreja.
5. Qual mensagem gostaria de deixar sobre a vida do Marcelo?
Para nós do Opus Dei a vida do Marcelo confirma, ratifica a mensagem de São Josemaria Escrivá e do Concílio Vaticano II. É possível ser “santo de altar” vivendo a grandeza da vida cotidiana. A santidade é difícil, mas acessível a todos nós. É possível ser um homem da lei, e um servo de Deus, um cidadão do tempo que através das realidades mais comuns e aparentemente sem qualquer transcendência peregrina para a eternidade. Marcelo dá um rosto para milhões e milhões de pessoas que procuram viver santamente a sua vida corrente, os deveres e circunstâncias de cada dia.