Vicente, estudante de Engenharia, é um dos principais dinamizadores de “Mãos que Cuidam”, um projeto social que surge em resposta a uma realidade frequentemente tornada invisível: a situação dos cuidadores de pessoas com deficiência e/ou pessoas idosas no Chile.
Enquanto a maioria das iniciativas sociais se dirige a quem enfrenta doenças ou condições de dependência, poucas se focam em quem está por trás deles dia após dia: os cuidadores.
Vicente, como surgiu o projeto?
A ideia ganhou forma em agosto de 2024, quando decidimos participar no Congresso Universitário UNIV no Chile, um evento onde estudantes universitários apresentam propostas de impacto social. O tema do congresso de 2025 era “Cidadãos do Mundo”, pelo que queríamos contribuir com uma abordagem humana e social, embora ainda não tivéssemos claro que problemática abordar.
Foi assim que, após várias reuniões com a Fundação Teletón, iniciamos uma pesquisa aprofundada que nos conduziu a números alarmantes: 69% dos cuidadores sofrem de sobrecarga física e emocional severa, e 87% desempenham tarefas de cuidado 24 horas por dia, 7 dias por semana, sem descanso. Este foi o ponto de inflexão: decidimos concentrar todos os nossos esforços em cuidar de quem cuida.
Após entrevistas com profissionais e especialistas, definimos o objetivo da nossa iniciativa: oferecer acompanhamento integral e apoio contínuo aos cuidadores de pessoas em situação de dependência. Com este propósito, apresentamos o nosso projeto no UNIV Chile, onde foi selecionado como projeto vencedor nacional, o que nos concedeu a oportunidade de o representar no Congresso InternacionalUNIV FORUM em Roma, Itália, que aconteceu em15 de abril de 2025.

Como puseram o projeto em prática?
Após este primeiro passo, enfrentamos o desafio de implementar um plano piloto que nos permitisse apresentar resultados concretos em abril. Entramos em contato com a Fundação Las Rosas, que acolheu a nossa proposta com entusiasmo e se comprometeu a apoiar-nos, colocando-nos em contato com Egnis Ubillo, Chefe de Saúde e Área Psicossocial da Fundação, que se tornou uma aliada fundamental na estruturação e execução do plano.
Dado que os recursos financeiros eram limitados, procuramos também a colaboração da Residência Universitária Alborada, onde moramos, e nos juntamos aos seus trabalhos de verão na comunidade de Cajón (Temuco), organizados através de outra iniciativa social, os Operativos Llaima. Graças a essa colaboração, conseguimos alimentação, transporte, voluntários e alojamento.
Assim, em 3 de janeiro de 2025, teve início a nossa experiência no terreno. Realizamos visitas domiciliares previamente coordenadas com o CESFAM (Centros de Saúde Familiar) da localidade de Cajón, com o intuito de conhecer em profundidade a realidade dos cuidadores locais. A experiência levou-nos a expandir a iniciativa para a comuna de Vilcún, uma das mais vulneráveis do país, onde estabelecemos uma colaboração estratégica com o grupo “Abrazo Solidario”, outro parceiro-chave na implementação do nosso projeto.
Durante o plano-piloto, conseguimos alcançar mais de 20 famílias, incluindo cuidadores e pessoas cuidadas. A partir desta experiência, e com o acompanhamento contínuo da Fundação Las Rosas, concebemos uma nova fase do projeto: três ações clínicas e psicoeducativas realizadas em março, abril e maio, que beneficiaram 30 famílias com membros em situação de dependência severa.
Cada ação contou com uma equipe interdisciplinar composta por profissionais de Enfermagem, Fisioterapia, Terapia Ocupacional e outros, responsáveis pela coordenação geral. De forma especial, no mês de abril juntou-se ao projeto o Dr. Alejandro Ceriani, médico internista e geriatra, que prestou cuidados especializados a pessoas com mais de 60 anos.

Depois da experiência no terreno, apresentaram o projeto em Roma. Como foi?
Com este respaldo e evidência em mãos, apresentamos “Mãos que Cuidam” no Congresso Internacional UNIV FORUM em Roma, onde fomos reconhecidos pela sustentabilidade, inovação e profundidade do projeto. Por fim, fomos distinguidos como vencedores internacionais do congresso, o que reforçou ainda mais a urgência e a importância de apoiar os cuidadores nos nossos sistemas sociais.
Atualmente, estamos em fase de planejamento para garantir a sustentabilidade a longo prazo desta iniciativa, fortalecendo alianças com a Fundação Las Rosas e o grupo Abrazo Solidario de Vilcún, e avaliando novas zonas de intervenção
Você poderia nos explicar o projeto com mais detalhes?
O projeto “Mãos que Cuidam” está estruturado em duas fases principais: a primeira é de Diagnóstico e acompanhamento humano: Nesta fase inicial, um grupo de voluntários visita áreas rurais para conhecer de perto a realidade dos cuidadores e das suas famílias. O objetivo é oferecer um acompanhamento humano e próximo, conversar sobre as suas necessidades, histórias de vida, e proporcionar um espaço de diálogo pessoal e espiritual.
Depois vem a etapa da intervenção profissional em que se realizam operações mensais coordenadas pela Fundação Las Rosas com uma equipe de especialistas que visita as famílias identificadas. Ali é oferecida assistência clínica, psicoeducação e formação em técnicas de cuidados aos cuidadores, melhorando assim o seu bem-estar e o dos seus entes queridos.

O prelado do Opus Dei, monsenhor Fernando Ocáriz, reuniu-se com jovens participantes do Congresso UNIV 2025.
O tema do encontro – “Cidadãos do nosso mundo” – serviu de ponto de partida para que Mons. Fernando Ocáriz, prelado do Opus Dei, encorajasse os jovens a “rezar muito por tantas pessoas que sofrem no mundo: guerras, terremotos, tragédias que conhecemos através dos meios de comunicação e muitas outras que nem sequer chegam a ser conhecidas”. Inspirando-se nas palavras de São Paulo, recordou que “todo o mundo é nosso. Tudo é muito nosso e em tudo podemos ajudar. Quando ouvirem uma notícia sobre uma guerra, façam uma oração, isso vale muito”.