Jesus Cristo Nossa Esperança. II. A vida de Jesus. As parábolas 7. O samaritano. Passou junto dele e, ao vê-lo, ficou profundamente compadecido. (Lc 10,33)

Na catequese de hoje, o Papa Leão fala de um doutor da lei que “precisa mudar sua perspectiva, porque está focado em si mesmo e não se importa com os outros”.

Estimados irmãos e irmãs!

Continuemos a meditar sobre algumas parábolas do Evangelho que constituem uma ocasião para mudar de perspectiva e para nos abrirmos à esperança. Às vezes, a falta de esperança deve-se ao fato de nos fixarmos num certo modo rígido e fechado de ver as coisas, e as parábolas ajudam-nos a olhar para elas de outro ponto de vista.

Hoje gostaria de vos falar de uma pessoa experiente, preparada, um doutor da Lei que, contudo, deve mudar de perspectiva, porque está concentrado em si mesmo e não se dá conta dos outros (cf. Lc 10, 25-37). Com efeito, ele interroga Jesus sobre o modo como se “herda” a vida eterna, recorrendo a uma expressão que a entende como um direito inequívoco. Mas por detrás desta pergunta talvez se esconda precisamente uma necessidade de atenção: a única palavra sobre a qual pede explicações a Jesus é o termo “próximo”, que literalmente significa aquele que está perto.

Por isso, Jesus narra uma parábola que é um caminho para transformar aquela interrogação, para passar de quem me ama? a quem amou? A primeira é uma pergunta imatura, a segunda é a pergunta do adulto que compreendeu o sentido da sua vida. A primeira pergunta é a que pronunciamos quando nos colocamos num canto e esperamos, a segunda é a que nos impele a pôr-nos a caminho.

Com efeito, a parábola que Jesus narra tem como cenário uma estrada, e é uma estrada difícil e impérvia, como a vida. É a estrada percorrida por um homem que desce de Jerusalém, a cidade na montanha, para Jericó, a cidade abaixo do nível do mar. Trata-se de uma imagem que já prenuncia o que poderia acontecer: efetivamente, acontece que o homem é atacado, espancado, roubado e deixado meio-morto. É a experiência que ocorre quando as situações, as pessoas, às vezes até aqueles em quem confiamos, nos tiram tudo e nos deixam no meio do caminho.

No entanto, a vida é feita de encontros e, nestes encontros, revelamo-nos pelo que somos. Encontramo-nos diante do outro, perante a sua fragilidade e a sua fraqueza, e podemos decidir o que fazer: cuidar dele ou fingir que nada aconteceu. Um sacerdote e um levita descem por aquela mesma estrada. São pessoas que prestam serviço no Templo de Jerusalém, que habitam o espaço sagrado. Todavia, a prática do culto não leva automaticamente a ser compassivo. Com efeito, antes de ser uma questão religiosa, a compaixão é uma questão de humanidade! Antes de sermos crentes, somos chamados a ser humanos!

Podemos imaginar que, depois de terem permanecido muito tempo em Jerusalém, o sacerdote e o levita têm pressa de voltar para casa. É precisamente a pressa, tão presente na nossa vida, que muitas vezes nos impede de sentir compaixão. Quem pensa que o seu percurso deve ter a prioridade, não está disposto a parar por outra pessoa.

Mas eis que chega alguém que efetivamente é capaz de parar: trata-se de um samaritano, portanto de alguém que pertence a um povo desprezado (cf. 2 Rs 17). No seu caso, o texto não especifica a direção, mas diz apenas que se encontrava a caminho. Aqui, a religiosidade não tem nada a ver com isto. Este samaritano detém-se simplesmente porque é um homem diante de outro homem que precisa de ajuda.

A compaixão exprime-se através de gestos concretos. O evangelista Lucas concentra-se nas ações do samaritano, a quem chamamos “bom”, mas que no texto é simplesmente uma pessoa: o samaritano faz-se próximo, pois se quisermos ajudar alguém não podemos pensar em manter-nos à distância, devemos envolver-nos, sujar-nos, talvez contaminar-nos; faz curativos nas suas feridas depois de as ter limpado com azeite e vinho; carrega-o na sua cavalgadura, isto é, responsabiliza-se por ele, pois só ajudamos verdadeiramente se estivermos dispostos a sentir o peso da dor do outro; leva-o para uma hospedaria, onde gasta dinheiro, “dois denários”, mais ou menos dois dias de trabalho; e compromete-se a voltar e eventualmente a pagar mais, porque o outro não é um pacote a entregar, mas alguém de quem devemos cuidar.

Caros irmãos e irmãs, quando também nós seremos capazes de interromper o nosso caminho e ter compaixão? Quando compreendermos que o homem ferido ao longo da estrada representa cada um de nós. E então a recordação de todas as vezes que Jesus parou para cuidar de nós tornar-nos-á mais capazes de compaixão.

Portanto, oremos para poder crescer em humanidade, a fim de que as nossas relações sejam mais verdadeiras, mais ricas de compaixão. Peçamos ao Coração de Cristo a graça de ter cada vez mais os seus próprios sentimentos.