No dia 29 de novembro, em Milão, o Vigário Regional do Opus Dei, Mons. Lucio Norbedo, concelebrou com outros cinco sacerdotes. Também foi emocionante e cheia – mais de 500 pessoas, amigos da família, companheiros de colégio, de natação e do grupo de escoteiros – a Missa fúnebre concelebrada no dia seguinte, na sua cidade de Montefalcone, pelo arcebispo de Gorizia, D. Dino De Antoni, e por outros cinco sacerdotes. Em homenagem a Marco, que deixou uma lembrança indelével em todos aqueles que o conheceram, transcrevemos a seguir a homilia do arcebispo:
“Quanto ao justo, ainda que morra prematuramente, gozará de repouso (...). Ele agradou a Deus e foi amado por Ele” (Sab 4, 7.10).
Quem pode permitir-se, diante de uma revés tão radical como a perda de uma pessoa amada – não só pelos seus pais, pela irmã, pelos familiares, mas também por centenas de pessoas, como vocês aqui testemunharam e documentaram –, quem pode permitir-se dizer uma palavra como essa: “Ele agradou a Deus e foi amado por Ele”?
No entanto, caríssimos, a Igreja, a Igreja nossa Mãe, que aqui sensivelmente experimentamos e tangivelmente sentimos, aplica a Marco e à sua morte, esta grande afirmação ao nosso coração doído.
E como é literal, no caso de Marco, isto que a primeira leitura comenta: “Tendo chegado rapidamente ao termo, percorreu uma longa carreira. Sua alma era agradável ao Senhor, e é por isso que Ele o retirou depressa do meio da perversidade” (Sab 4, 13-14).
É claro que nesse momento necessitamos de apoio; sobretudo os seus pais têm necessidade de sustento, a irmã, os familiares, os amigos, sustentados pela dulcíssima experiência da companhia que a página do Evangelho nos propõe: Jesus retornou para ele e para nós. Para ele, para levá-lo aos umbrais do Mistério; para nós, para iluminar o nosso caminho à luz das Escrituras.
Jesus veio para dar um sentido a uma experiência tão inaudita, totalmente inacessível, para não deixar-nos perturbados diante de uma morte tão aparentemente terrível e injusta.
2. Um grande amigo de Marco, Giovanni Crostarosa Guicciardi, presidente da Associação dos Residentes de Torrescalla, disse sobre a sua figura:
“Marco (...) foi sempre um rapaz veloz. Na água, onde foi uma promessa da natação veneziana. Nos estudos, onde sempre esteve entre os alunos mais brilhantes. Sobre a neve, onde as extremidades dos seus esquis deslizavam elegantemente. Na dedicação aos outros, onde esteve na primeira fila desde o tempo de escoteiro até o último dia da sua vida”.
“Inteligente, generoso, cheio de fé, sábio”, assim era descrito por aqueles que o conheciam. “Familiar, delicado, apaixonado pelo futuro, educador”, definiram-no.
Mas, ao mesmo tempo, determinado no seu trabalho formativo, inspirado pelos ensinamentos de S. Josemaria Escrivá, em cuja Obra ele descobriu muito cedo a sua vocação; vocação apoiada com inteligência e afeto pelos seus pais, de um modo que só um pai e uma mãe sabem apreciar, não sem o trabalho de compartilhar uma escolha assim, exigente; porque, quando Deus vem ao encontro, transforma e perturba, como nos ensina o encontro de Maria com o anjo.
Marco era consciente disto, como se nota em algumas frases, que desejo ler, de uma carta dirigida aos seus pais, do dia 9 de abril de 2001:
“Poderia continuar a escrever ainda muitas coisas, mas prefiro parar por aqui. Se vocês se sentem tristes, façam isto que diz S. Tiago: ‘Se alguém entre vós está triste, reze’. Rezem muito por mim, pela minha vocação, e invoquem o Espírito Santo, para que dê a vocês a luz necessária para aceitar, entender e compreender e compartilhar a minha escolha. Sei perfeitamente que os faço sofrer e lhes peço perdão por isso; ofereçam tudo a Deus Pai e unamo-nos à Cruz de Cristo para estarmos no Paraíso por toda a eternidade. Sei por experiência que custa aceitar as provas que o Senhor nos manda, mas este é o caminho para o Paraíso. Imploro que vocês continuem a rezar por mim, eu o faço por vocês. Só assim não nos encontraremos de novo em situações difíceis, tensas para todos, que nos fazem sofrer. Quero incrivelmente bem a vocês. Marco”.
Não vos parece notar nessas afirmações de Marco toda a sabedoria ardente de quem coloca em primeiro lugar o encontro com Cristo, que agora vive e experimenta de modo completo?
Escutemos outras palavras suas, escritas a Mons. Armando Zorzin em 2002, seu pároco nos anos de juventude, depois de ter descrito a experiência de um congresso para universitários:
“Asseguro-lhe como é emocionante falar aos outros da própria vocação, fazê-los participar do amor a Deus que se derrama nos nossos corações, contar angústias, dúvidas, vitórias, luzes e propósitos... E, certamente, tudo isso tem um preço: meus pais gostariam de ver-me, como também eu gostaria de vê-los, mas o Senhor vem antes, não há muito o que fazer”.
Marco não foi em direção a nada, mas ao Pai, isto é, em direção a uma relação de perfeição que recupera e define tudo o que foi a sua vida.
Realmente, diante da auto-consciência que ele tinha do dom de si, feita – e são ainda palavras suas – através de “poder ver e ouvir várias pessoas da Obra, tendo nas costas algumas dezenas de anos de vocação, contados desde que conheceu S. Josemaria... tudo com simplicidade e humildade, a ponto de levar à comoção e também a renovar os propósitos de luta pela santidade”; diante deste auto-conhecimento de si, compreende-se a intensidade da primeira leitura: “A honra da velhice não provém de uma longa vida, e não se mede pelo número dos anos, mas pela sabedoria do coração”.
Por isso, podemos entender que Deus leva consigo as suas pessoas queridas, para o lugar definitivo, e lá eles continuam incessantes a sua ação.
3. Agora, porém, nós nos encontramos perante a prova e a dor desta dura separação.
Sabemos que Marco, morto na plenitude dos anos, não perdeu e não perde nada da sua vida, desde que no nosso caminho, e mesmo com o rosto triste, deixemos Cristo pôr-se ao nosso lado e caminhar conosco.
Porque só a Sua presença e companhia, a fraternidade e a amizade que podemos encontrar na Igreja, podem fazer-nos viver a espera que nos une seriamente uns aos outros.
Com todo o coração desejamos repetir as palavras de Emaús: “Fica conosco Senhor, porque já se faz tarde e o dia termina”. Desejamos repeti-las porque são consoladoras para os pais, para a irmã, para os familiares, para os amigos, para todos os membros do Opus Dei, e por todos que trabalhavam com ele.
A sua vida e a sua experiência de dedicação total a Deus são germes de vocações, das quais é muito rica, de modo discreto, a nossa diocese.
E, mesmo na dor, dizemos que acreditamos que Cristo, autor da vida, nos precedeu no caminho estreito da morte, para glorificar-nos na plenitude da pátria celestial.
Marco, agora do Céu, sabemos e acreditamos, pode interceder por nós junto ao Pai. Amém.