Évora: O sonho que me fez galopar

Tomé pensava que Deus e a Igreja eram uma invenção humana. Deixou de ir à Missa depois da primeira comunhão. Foi na Universidade que conheceu novos amigos e a vida levou outro rumo. Hoje é veterinário, casado e pai de quatro crianças.

Em 1980, o meu irmão gêmeo e eu nascemos em São Jorge, uma pequena aldeia perto da costa portuguesa. É um lugar calmo, mas cheio de história. Seiscentos anos antes de eu nascer, teve ali lugar a famosa batalha de Aljubarrota: cresci rodeado de histórias dessa batalha medieval. E talvez por isso desde criança me entusiasmavam os cavalos até que decidi que queria dedicar a minha vida a ser veterinário equino.

A minha infância foi normal. Os meus pais estavam longe da prática religiosa, mas decidiram batizar-me aos quatro meses. Bem, para ser mais preciso, decidiram batizar-nos. Desde que nasci, tenho feito tudo com o meu irmão Tiago, o gêmeo. Embora normalmente não fôssemos à Missa, com cinco anos começamos a frequentar aulas de catecismo, mais por insistência dos nossos avós. Pouco depois fizemos a primeira Comunhão. Depois não voltámos às aulas de catecismo e deixámos de ir à Missa.

Olhando para trás, vejo que devo uma grande parte da minha vocação aos meus pais. Com eles aprendi o valor do trabalho e a não ter medo da verdade, ensinamentos fundamentais na minha vida.

Quando terminei a escola consegui entrar na Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa. O meu sonho estava mais perto de ser realizado. Durante esses anos, comecei a considerar-me um ateu. Fiz muitas perguntas a mim mesmo e as respostas mais convincentes que obtive foram nessa direção. Eu pensava que Deus era uma necessidade para as pessoas se sentirem melhor e que muitas coisas não podiam ser provadas cientificamente. Deus e a Igreja, pensava eu, eram de alguma forma uma invenção humana.

No programa da RTP "Faça Chuva, Faça Sol" - Ver aos 6min:45seg

Uma das coisas que mais me afastou de Deus foi ver como alguns dos meus amigos que iam à Missa eram incoerentes. Mas na universidade conheci um grupo de amigos que eram diferentes. Eram coerentes com a sua fé e tinham uma alegria contagiante. Tínhamos conversas sobre Deus e a Igreja e os meus preconceitos iam desaparecendo.

Por vezes apanhava-me a falar com um Deus em que não acreditava ou enquanto lia o horóscopo. Tornei-me um procurador da verdade, pois nunca quis viver no engano. E enquanto procurava respostas para as minhas dúvidas, Deus veio ao meu encontro.

Um destes grandes amigos que conheci na faculdade convidou-me para fazer um curso básico de doutrina católica na Residência Universitária Montes Claros. Embora eu ainda fosse muito preconceituoso, aceitei o convite. E foi aí que tudo começou a mudar. Comecei a falar com um padre que tinha uma licenciatura em medicina: ele era exatamente a pessoa que eu precisava naquele momento.

Decidi finalmente confessar-me e tudo assumiu um significado diferente: oração, amigos, estudo, trabalho, casamento, sofrimento, doença, vida e morte. Uma nova forma de ver o mundo. De repente, tudo me falava de Deus.

Após alguns meses de longas conversas, decidi finalmente confessar-me, estávamos no ano 2000. Tudo assumiu um significado diferente: oração, amigos, estudo, trabalho, casamento, sofrimento, doença, vida e morte. Uma nova forma de ver o mundo. De repente, tudo me falava de Deus.

A mensagem do Opus Dei era outro grande tesouro. Sempre fui um estudante aplicado e considerei o trabalho como um dos pilares da minha vida. Mas descobrir que tudo isto era uma forma de encontrar Deus, era uma nova luz. Era a coerência que me faltava nos meus amigos e era o espírito que, de certa forma, os meus pais me tinham ensinado.

Em 2007, realizou-se um referendo sobre o aborto. No último dia da campanha, conheci a Teresa, a minha futura mulher. Um ano mais tarde pedi-a em casamento e agora temos quatro filhos. Tenho a certeza que não teria conhecido Teresa se Deus não tivesse colocado algumas pessoas na minha vida em momentos chave, muitos anos antes.

E finalmente consegui realizar o meu sonho: há vários anos que trabalho como veterinário de cavalos. Embora não seja tão idílico como eu pensava, é um trabalho que me apaixona. É uma profissão dura, com todo o tipo de emergências. E uma grande oportunidade para conhecer muitas pessoas: diariamente falo com clientes e fornecedores. Muitos ficam surpreendidos quando explico que tenho quatro filhos, ou quando descobrem uma imagem de Nossa Senhora ou do Beato Álvaro no meu lugar de trabalho.

Aos fins de semana convidamos amigos com filhos pequenos, para uma refeição em casa ou um piquenique no campo.

Vivo agora em Évora, uma cidade onde não há muitos católicos. A minha mulher e eu estávamos muito contentes por conhecer famílias cristãs. Participamos em várias reuniões da IFFD (Federação Internacional para o Desenvolvimento da Família) que nos deu grandes conhecimentos sobre como ajudar os casais jovens. Aos fins de semana e durante o tempo livre, convidamos amigos casados, geralmente da mesma faixa etária e com filhos pequenos, para uma refeição em casa ou um piquenique no campo. Estes são momentos em que partilhamos os apaixonantes desafios familiares e os grandes desejos que temos de educar os nossos filhos na fé.

Quando olhamos para trás, percebemos que Deus sempre esteve ao nosso lado, e que os nossos fracassos e acontecimentos imprevistos nos levaram até Ele. Todos os dias agradeço-Lhe pela minha vocação, pela Teresa e pelos quatro filhos que me deu.