Quando você conheceu a Obra?
Aos 19 anos, embora já tinha ouvido falar dela uns anos antes. Minha melhor amiga e minhas primas começaram a estudar em Alcazarén. Ao ver que elas assistiam aos meios de formação cristã após as aulas, perguntei se eu não poderia ir também. Disseram-me que isso era uma coisa séria, e a tomei com responsabilidade. O que eu estudava na época permitia que me dedicasse a um emprego ao mesmo tempo, de modo que comecei a trabalhar na administração de um Centro. Esses anos de trabalho ajudaram-me, em primeiro lugar, a pôr ordem na minha vida e, depois, a conhecer muito melhor a Obra.
Por que você entrou para o Opus Dei?
Primeiro, porque Deus queria, é uma vocação, e entendi isso no seu momento. Os acontecimentos vão-se entrelaçando e você começa a compreender a vida de uma forma diferente: tudo se encaixa. São Josemaria dizia que, se contássemos o processo íntimo de nossa vocação, todo mundo julgaria que é coisa do céu; também acredito que é assim. Custou-me. A briga interior intensificou-se no Natal de 93, e desde o dia 23 de março, dia em que Dom Álvaro do Portillo – o primeiro sucessor de São Josemaria – faleceu, até o 25 de junho, dia em que teria celebrado na terra suas bodas de ouro sacerdotais, travei uma verdadeira luta. Ao final, decidi responder que sim à vontade de Deus e posso dizer que devo minha vocação a Dom Álvaro.
Você compreende claramente o seu chamamento, mas como sabe que Deus a quer?
Porque conheço minhas condições. Por exemplo, é lógico que se sou coxa de nascimento, ninguém vai me pedir que participe nos jogos olímpicos correndo os 100 metros rasos. Aquilo que se vê claramente no corpo, também se vê por dentro. Desde que tinha 16 anos ia a Lourdes, como voluntária, acompanhando doentes; ajudei nas piscinas; nos refeitórios... Via muitas coisas, mas o que verdadeiramente me doía na alma não era a falta de saúde, mas a falta de formação na fé católica que encontrava em gente muito boa. Pessoalmente, não fazia as coisas sempre bem, mas quando falhava, sabia que tinha feito errado. Por outro lado, encontrei-me com muitas pessoas que não sabiam sequer que ofendiam a Deus. Quando conheci o Opus Dei, logo entendi a Obra como “uma grande catequese” (expressão que São Josemaria gostava de usar) e isso acalmava a minha inquietação.
Uma entrega total é exigente hoje em dia. Foi difícil para você renunciar a um amor na terra e à constituição de uma família?
Uma vez que Deus me fez ver que me queria no Opus Dei, me fez compreender que precisava de um amor exclusivo. Isto não quer dizer que me considere auto-suficiente; preciso dos outros como qualquer pessoa; para outras pessoas, o casamento é um degrau para o céu; no meu caso, o celibato é a rampa pela qual chego até lá. Nos dois casos, custa subir, porque ganhar o céu requer esforço.
Como você descobriu que Deus a queria como Numerária Auxiliar?
A verdade é que não me vejo em outro lugar dentro do Opus Dei. O trabalho da administração tira o melhor de mim, e não me refiro simplesmente à habilidade manual, ainda que certamente é uma satisfação poder fazer melhor as coisas a cada dia. Refiro-me à oportunidade que esse trabalho me dá de servir os outros. O serviço é o núcleo de qualquer trabalho.
Por que você diz que esse trabalho tira o melhor de si?
“O trabalho tira o melhor de mim, é oportunidade de servir os outros”
Porque é uma escola de virtudes, um treinamento sem o qual não teria atingido humanamente boa parte do que agora sou. Por outro lado, o que é mais importante na administração é que se trata de um serviço direto a Deus. Em primeiro lugar, por cuidar dos Oratórios dos Centros do Opus Dei e, em segundo, porque cuido de pessoas do Opus Dei. O maravilhoso do meu trabalho não é outra coisa senão o fato de me dar a oportunidade de tornar o Centro um ambiente familiar, um lar. Nós que pertencemos à Obra vivemos e comprovamos diariamente a certeza de constituirmos uma família.
Poderia dar algum exemplo?
Sim, claro. Penso no que chamo “os milagres da administração”, que são essas coincidências oportunas em que você dá a uma pessoa o que ela realmente precisava no momento. Ocorrem coisas lindas, como vir um convidado e, sem o saber, você prepara o seu prato favorito; ou que a decoração de um aniversário traga à memória lembranças da infância etc.
E esse serviço é mútuo?
Claro. Cada um, na sua casa, contribui com tudo que pode para dar o menor trabalho possível. Nos 15 anos em que trabalho, encontro quartos organizadíssimos e banheiros ordenados quando chego para limpar... Enfim, como em qualquer família, porque onde há carinho, todos cuidam uns dos outros e o demonstram na primeira oportunidade.
Para terminar, você só se dedica ao trabalho da administração ou o concilia com outras atividades?
O tempo que não dedico à administração invisto na formação de jovens. Trabalho num projeto educativo focado em preparar humana e espiritualmente as pessoas que frequentam o Centro onde vivo, para que no dia de amanhã sejam boas filhas de Deus, boas profissionais, cidadãs e mães de família, se for o caso. Com certeza, a minha especialidade é tudo o que favorece a formação da família. Tenho comprovado que, se alguém aprende a converter sua casa em um lar, ganha toda a família para si.