Ensinando Deontologia do jornalismo

​São Josemaria deu aulas de Ética geral e moral profissional durante o ano de 1940-1941, em Madri, integradas nos "Cursos de especialização para jornalistas".

São josemaria Escrivá em 1939

São Josemaria deu aulas de Ética geral e moral profissional durante o ano de 1940-1941, em Madri, integradas nos "Cursos de especialização para jornalistas" que com o tempo deram origem à Escola Oficial de Jornalistas[1].

São poucas as biografias sobre o Fundador do Opus Dei que mencionam o fato[2], e pouco significativas as referências nos livros de memórias publicadas por alguns dos que conviveram com ele durante esses anos[3]. Contudo, as breves alusões que foram feitas são esclarecedoras sobre a predileção de Josemaria Escrivá pelo jornalismo. Assim, Andrés Vázquez de Prada afirma que o que levou São Josemaria a aceitar aquelas aulas foi a “importância relevante que dava às normas morais em toda a sociedade, especialmente a veracidade informativa”[4]; enquanto que Ana Sastre dá uma informação breve sobre os conteúdos daquela matéria Ética e moral profissional: ensinou “aos futuros profissionais a transcendência do seu trabalho e as normas que o convertem num grande serviço humano e cristão a toda a sociedade”[5]. Francisco Ponz, que vivia nessa altura com o Padre Josemaria na Residência de Jenner[6], fala das circunstâncias peculiares da atividade docente do Padre Josemaria: “sem deixar de aceder aos pedidos dos bispos e de atender outras atividades pastorais, entregava-se e gastava-se de um modo incansável, chegando ao ponto de se esgotar fisicamente. Como se essa dedicação extenuante não bastasse, aceitou ainda a tarefa de colaborar durante esse ano de 1940-1941 nos Cursos de Especialização para jornalistas, antecedente imediato da Escola Oficial de Jornalismo, em Madri, como Professor de Ética e Deontologia. Essas aulas deixaram nos alunos recordações inesquecíveis”[7].

1. 1940-1941 Anos de crescimento e de contradição. Tempo da docência do Padre Josemaria nos Cursos de Especialização para Jornalistas

O que absorvia "até ao esgotamento físico" Josemaria Escrivá? Os testemunhos que existem dos anos de 1940-41 apresentam dados de evidente interesse. Conhecê-los ajuda a compreender a participação do Padre Josemaria nos Cursos para jornalistas.

Os anos de 1939-45, imediatamente posteriores à Guerra civil espanhola, são anos de uma intensa atividade do Fundador do Opus Dei. Depois de ter sido restabelecida a paz em Espanha, regressa a Madri. Verifica que da Residência de Estudantes de Ferraz não ficara pedra sobre pedra[8] e reinstala uma nova Residência Universitária na Rua de Jenner, nº 6. José María Casciaro conta nas suas memórias que, além das “idas a cidades da província durante a segunda metade de 1939 e durante o ano letivo de 1939-40, no Verão de 1940, se abriram, a partir dos que viviam em Jenner, mais três centros da Obra: em Valência, a Residência Universitária de Samaniego; em Madri, em Setembro, o centro da Rua de Martínez Campos, nº 15, para atender apostolicamente os que já haviam terminado os estudos; e, em Outubro, no prédio da Rua de Diego de Léon, nº 14, esquina com a Rua de Lagasca”[9]. José Orlandis[10], por sua vez, testemunha que as frequente saídas do Padre Josemaria às cidades da província eram viagens de caráter apostólico durante as quais atendia pessoalmente todos os que se lhe dirigiam.

Para mais, no Verão de 1940, realizam-se na residência de Jenner a segunda e a terceira Semana de Estudos ou de Trabalho – a primeira tinha-se organizado nesse mesmo ano -. José Orlandis comenta nas suas memórias que participaram “quase todos os membros do Opus Dei, incluindo os que tinham pedido a admissão nos últimos meses não somente em Madri, mas também noutras cidades por onde se tinha estendido o trabalho, como Barcelona e Valência, Valladolid ou Saragoça. Foram dias de intensa formação. O Padre dedicou generosamente o seu tempo e as suas forças a esses seus filhos: falava-lhes durante horas inteiras, em meditações e palestras, aulas e tertúlias; e conversava também com cada um, para atender como convinha as suas necessidades concretas pessoais. O número de membros da Obra tinha-se multiplicado por quatro ou cinco, em relação com aos que existiam antes da Guerra”[11].

Álvaro del Portillo menciona também os numerosos retiros que o Padre Josemaria, a pedido dos bispos espanhóis, pregava em diversas províncias[12].

Mas não foram só a formação dos primeiros do Opus Dei, a atividade apostólica, a abertura de centros em Madri e noutras cidades, a resposta a solicitações dos bispos que marcaram o tempo e as ocupações de Josemaria Escrivá: esses foram também momentos de grande contradição contra o Opus Dei que, do ponto de vista humano, não era nada. O primeiro sucessor de São Josemaria, Álvaro del Portillo, afirma a este respeito, como “em fins de 1939 e começos de 1940, cresceram as calúnias contra o Opus Dei e contra o seu Fundador. De princípio, o Padre não queria acreditar que era alvo de uma verdadeira campanha difamatória, mas, ante a evidência das provas, não teve outro remédio senão admiti-lo. A Obra era acusada de heresia, de conspirar clandestinamente para se instalar no cume do poder, de maçonaria, de antipatriotismo, etc.. Não se tratava de atos isolados, mas de uma autêntica campanha; os que promoviam essas calúnias não hesitavam em propalá-las nas mais altas esferas da hierarquia eclesiástica, para semear desconfiança e suspeita em relação à Obra e ao Padre. Outras incompreensões procederam das famílias, poucas certamente, dos estudantes que participavam nas atividades apostólicas da Obra, ou de familiares dos próprios membros do Opus Dei. Quase sempre, quem estava na origem desses problemas eram alguns religiosos que não hesitavam em difundir suspeitas e desconfianças: faziam-no a partir do confessionário ou indo visitar as famílias para pô-las de sobreaviso. Mais de uma vez o Padre teve de intervir pessoalmente para pôr cobro às falsidades que se divulgavam naqueles lares”[13].

Foi esta dura contradição que deu azo à primeira aprovação do Opus Dei como Pia União, no dia 19 de Março de 1941. Álvaro del Portillo comenta: que “para desfazer aquelas calúnias, D. Leopoldo Eyjo y Garay, bispo de Madri, que já tinha intervido repetidamente por palavras em defesa do Opus Dei e do seu Fundador, decidiu comprometer a sua própria autoridade e, para dissipar os equívocos, quis dar uma aprovação escrita à Obra. Com esta finalidade pediu ao Padre uma cópia dos Regulamentos”.

É provavelmente a esta petição do bispo de Madri que se refere a lembrança que José Orlandis deixou nas suas memórias: “desses anos de 1940-1942 conservo a imagem de uma cena que presenciei mais de uma vez: o Padre no seu quarto de Diego de Léon e diante dele, noutro cadeirão, D. José Maria Bueno Monreal, o futuro Arcebispo de Sevilha, então perito oficial em Direito Canônico da diocese de Madri. Os dois tinham nas mãos um Código de Direito Canônico e dissertavam sobre a possibilidade de "enquadrar" a Obra no Código, embora se tratasse de uma solução provisória e em curto prazo”[14].

E o Padre Josemaria, em Outubro de 1940, começa a dar as suas aulas de Ética geral e moral profissional nos "Cursos de especialização para jornalistas". Pedro Gómez Aparicio, secretário daquele primeiro curso, comenta num artigo comemorativo da "Escuela Oficial de Periodismo": “Naqueles dias de 1940, o Padre José María Escrivá, que tinha feito os estudos para o doutoramento em Direito na Universidade de Madri, era um jovem sacerdote aragonês – nascera em 1902 – já com certa aura de popularidade nos ambientes estudantis e operários madrilenos, que frequentava com gosto. Havia fundado alguns anos antes a sociedade Opus Dei, ainda pouco conhecida a não ser entre os ainda poucos associados, mas o seu pequeno livro "Caminho" já circulava em profusão. Quem conhecia, talvez através de parentes afastados, as suas virtudes, os seus conhecimentos e dotes para o ensino era o Diretor-geral da Imprensa, Jiménez Arnau, que lhe confiou a cadeira de Ética profissional e Deontologia”[15]. E noutro artigo: “Penso que a sua participação não tinha sido nem casual nem esporádica, porque atribuía à imprensa toda a importância que, como fato social, ela encerra”[16].

De qualquer modo também houve uma razão de obediência ao aceitar esta tarefa docente. Numa carta do Padre Josemaria Escrivá a Enrique Jiménez Arnau, escrevia: “Recebi a nomeação para professor da "Escuela de Periodismo". Agradeço, e, como o meu Senhor Bispo de Madri tem um empenho especial em que me encarregue dessas aulas, fá-lo-ei com gosto”[17].

2. Capacidade de diálogo, apreço pela profissão de jornalista. Alguns testemunhos pessoais sobre São Josemaria como professor de Deontologia jornalística

Para aqueles que se dedicam à área da Ética e Direito da Informação em Faculdades ou em Escolas de Comunicação, os ensinamentos de São Josemaria acerca da veracidade e da responsabilidade profissional de que falava nas suas aulas revestem-se de uma singular riqueza: não procedem da reflexão teórica a partir de postulados do direito, ou da análise dos códigos deontológicos – já do conhecimento geral nos anos quarenta[18] -, mas de uma valorização excepcional da profissão de jornalista. Excepcional pelo que encerra de reconhecimento e de visão ampla, aberta e dialogante das atividades profissionais da comunicação, mas sobretudo pela abertura de horizonte sobrenatural com que as abarca.

Um dos seus alunos de Ética Geral e moral profissional, Enrique del Corral Vázquez, escreve[19]:

“As suas aulas eram tão sugestivas que era raro os alunos não assistirem. Às aulas dele e às de Jesus Pavón ninguém faltava: não acontecia assim noutras cadeiras”.

Se me é permitido fazer um comentário: estes estudantes eram provavelmente bem diferentes dos que hoje frequentam as aulas das escolas de jornalismo – alunos quase todos muito novos, muitas vezes sem experiência profissional, com um ingênuo idealismo sob a roupagem de “já nada me diz nada” -. Os outros eram profissionais de diversas idades e profissões, que iam às aulas a partir das seis da tarde, num horário que lhes permitia compatibilizar os estudos com um trabalho; e, o que era mais determinante, acabavam de sair de uma guerra civil.

Continuo com o testemunho: “Dizia-nos que devíamos ser fortes nos conteúdos e brandos na forma, sempre abertos ao diálogo”.

Esta afirmação não deve interpretar-se, contudo, no sentido político; dos testemunhos estudados pode deduzir-se que era evidente para todos que o Padre Josemaria se estava a referir-se com estas palavras a que deviam ter uma postura pessoal de abertura e respeito para com os outros, de rejeição de toda e qualquer intolerância.

“O Padre Josemaria possuía uma concepção de um jornalismo novo, diferente daquele que até então se praticava, doutoral, solene. Imprimiu em nós uma ética profissional mais clara, mais aberta, mais alegre, mais luminosa.

Tinha em alta consideração a dignidade profissional informativa.

As aulas eram o oposto da lição magistral típica, mais do que uma aula era um diálogo. Ali não havia estrado. Encurtava distâncias. Quando falava fazia-nos ver a importância daquilo que dizia, não por ser ele a dizê-la, mas porque as coisas eram assim mesmo. Não era desses professores que consideram que tudo o que dizem é importante, pelo simples fato de serem eles a dizerem-no.

A mim parecia-me que era impossível que quem fundou o Opus Dei fosse aquele homem tão simples, tão afável, tão humano; que nos falava de tu a tu, que parecia falar conosco, a cada um pessoalmente, e não à aula inteira”.

Pedro Gómez Aparicio[20], como secretário da Escola, recorda São Josemaria como professor:

“Suponho que a lembrança do Padre Josemaria perdura entre os que foram seus alunos. Era de trato simples, respeitador e afável; era de caráter aberto, otimista e generoso, sempre disposto a um diálogo cordial. Penso que seria um bom jornalista se não estivesse tão absorvido nas suas atividades apostólicas. Verifiquei isso num almoço que o então embaixador junto da Santa Sé, Joaquín Ruiz-Giménez, ofereceu em Roma. Estivemos – o Padre José Maria e eu – um ao lado do outro na mesa. E a conversa – fulgurante, talentosa e amena – de Mons. Escrivá girou em boa parte sobre as recordações da Escola, sobre as qualidades de todos os seus discípulos e sobre um jornalismo que amava profundamente e a cuja transcendência na vida moderna dava muito valor.

A imprensa, para ele, era um veículo de cultura e de ideias, mas principalmente uma maneira de servir – sempre tinha na boca a palavra 'serviço' – para o aperfeiçoamento da sociedade. O problema da imprensa não é tanto de quantidade, mas de qualidade. O jornalista deve basear-se, no tocante à vida profissional, num conceito claro de uma responsabilidade fervorosamente realizada e exercida”[21].

Destaco alguns dos aspectos recorrentes destes testemunhos:

- “As aulas não tinham nada a ver com a típica lição magistral; mais do que uma aula era um diálogo”;

- “Dizia-nos com frequência que devíamos (estar) sempre abertos ao diálogo”;

- “O seu relacionamento era simples, respeitador e afável; o caráter aberto, otimista e generoso, sempre disposto a um diálogo cordial”;

- “um jornalismo que amava profundamente e a cuja transcendência na vida moderna dava muito valor”;

- “porque dava à imprensa toda a importância que tem, como fato social que é”;

- “A imprensa, para ele, era um veículo de cultura e de ideias, mas principalmente uma maneira de servir – sempre tinha na boca a palavra 'serviço' – para o aperfeiçoamento da sociedade”;

- “O jornalista deve basear-se no tocante à vida profissional, num conceito claro de uma responsabilidade fervorosamente realizada e exercida”.

Penso que estes ensinamentos deviam causar surpresa no ambiente jornalístico da Espanha do imediato pós-guerra, em que o tom panfletário, de uma visão única da realidade, invadira todas as redações da imprensa e da rádio[22]. Em minha opinião, o que São Josemaria promovia entre aqueles estudantes de jornalismo tem muito mais a ver com o tom afirmativo de existência e consistência da profissão de jornalista do famoso The journalist Creed, de Walter Williams[23], que com qualquer outra das propostas estritamente deontológicas[24] que se alardeavam na época, sem entrarmos na descrição do sistema legal espanhol sobre a imprensa que era, ao fim e ao cabo, uma negação dos princípios mais básicos do jornalismo.

3. O exercício do jornalismo: caminho de santidade.

Ensinamentos de São Josemaria aos seus alunos dos "Cursos"

Mas a visão da atividade jornalística de São Josemaria era excepcional, principalmente pelo horizonte sobrenatural que abria àqueles que o desempenhavam. Enrique Corral Vázquez escreve:

“Falava-nos frequentemente da vocação profissional como chamamento divino. Comparava a vocação para o jornalismo com a do sacerdócio no sentido em que ambas pressupunham um serviço àquilo que Deus queria. Levava-nos a olhar e a transformar o jornalismo a partir desta perspectiva, e fazia-nos ver a responsabilidade que tínhamos nela. Repetia-nos com frequência que não nos devíamos comportar como pessoas que tivéssemos caído no jornalismo como de paraquedas, mas que devíamos ser um fermento que tinha de transformar as redações”.

Era impensável nessa altura – e ainda hoje se apresenta como ousada – a comparação do jornalismo ao sacerdócio. Contudo, como o próprio São Josemaria ensinaria nessa época, e em numerosas ocasiões posteriores, é a verdade cristã que ilumina o sentido mais profundo de todas as atividades humanas.

“posso dizer-vos que a nossa época precisa de restituir à matéria e às situações que parecem mais vulgares o seu sentido nobre e original, colocá-las ao serviço do Reino de Deus, espiritualizá-las, fazendo delas o meio e a ocasião do nosso encontro permanente com Jesus Cristo.

“São muitos os aspectos do ambiente secular em que vos moveis, que se iluminam a partir destas verdades. Pensai, por exemplo, na vossa atuação de cidadãos na vida civil. Um homem sabedor de que o mundo – e não só o templo – é o lugar do seu encontro com Cristo, ama esse mundo, procura adquirir uma boa preparação intelectual e profissional, vai formando – com plena liberdade – os seus próprios critérios sobre os problemas do meio em que vive; e toma, como consequência, as suas próprias decisões[25] .

Sem dúvida, ao comparar o jornalismo – e o exercício de qualquer atividade humana honesta – com o sacerdócio, São Josemaria estava a fazer alusão à dimensão mais digna e dignificante da profissão de jornalista, aquela que lhe permite não se vergar perante condicionamentos econômicos, políticos, ou de qualquer outro tipo: a dimensão de serviço aos outros, mediante a difusão da verdade informativa, respeitando a dignidade pessoal de todos. Dimensão essencial do jornalismo, caminho de santidade para o cristão profissional da informação.

Fica claro que Josemaria Escrivá não vê o jornalismo como uma plataforma propagandística do catolicismo. Vê-o como uma profissão com entidade própria, com as características de reta conduta que são as que definem o seu papel na vida social, e essa reta conduta tem como cerne – assim o via Josemaria Escrivá – a verdade informativa.

4. Verdade informativa e campanhas difamatórias

Mas há um fato que coincide, no tempo, com a sua dedicação às aulas de deontologia e que, para quem ensinava sobre a reta conduta jornalística, terá dado azo a uma situação paradoxal, e certamente dolorosa. O Opus Dei sofreu uma campanha difamatória – campanha porque foi um acontecimento organizado – durante esses anos 40-41; em décadas posteriores ir-se-ão repetir as críticas e mal entendidos com outras origens e motivos, organizados com mais ou menos inteligência, num único país ou em vários simultaneamente, e na medida em que os meios de comunicação se tornaram configuradores determinantes da opinião pública foram também protagonistas em primeira linha destes casos.

O Padre Josemaria tinha os pés bem assentes na terra. Não ignorou nem de onde vinha aquela avalanche de calúnias, nem os propósitos de quem as difundiam – ele mesmo falaria de uma "contradição dos bons", dizendo que alguns o caluniavam pensando que prestavam um serviço à Igreja -. Sofreu. Existem numerosos testemunhos desse fato. Em nenhum momento deixou transparecer rancor; nem no convívio do dia a dia com os seus filhos naqueles anos, nem nas aulas nos Cursos de Especialização de Jornalismo, nem sequer – como poderia ser lógico como um desabafo – com amigos seus que tinham por essa altura grande influência no jornalismo espanhol.

A conversa, que a seguir se transcreve, com Manuel Aznar, que durante muitos anos foi considerado o melhor jornalista espanhol e manteve uma longa amizade com São Josemaria, não está datada; terá tido lugar nesses primeiros anos da década de quarenta. O jornalista alude às incompreensões de que foi alvo Josemaria Escrivá, e deixa entrever aquilo que percebeu como constantes da conduta de São Josemaria: o seu respeito pela liberdade dos outros, e pela sua dignidade, também numa dimensão à que ele era muito sensível: a de não permitir que nenhum critério utilitarista – nem sequer a defesa pessoal ante a difamação – distorcesse a amizade mútua. Num artigo publicado no jornal La Vanguardia, de 6 de Julho de 1975, três dias apenas depois da morte do Fundador do Opus Dei e intitulado Amigo de la liberdad, Manuel Aznar[26] escreveu:

“Outra vez (nesta conversa também estava presente o querido Ramón Matoses) em que me pediu lhe dissesse o meu parecer sobre as atividades do Opus Dei, disse o que pensava.

- Julgo que és uma personagem quase desconhecida. Imagina os problemas que à tua Obra vão se apresentar tratando-se de discípulos que vivem no centro das paixões do mundo. A santidade, ou o desejo de santidade no meio das voltas e reviravoltas das tempestuosas lutas humanas?! É verdadeiramente extraordinário o que propões aos que te seguem!

- Pois é assim mesmo; e não de outro modo.

- Por isso corres o risco de parecer agora, e continuares a parecer durante muito tempo, uma personalidade desconhecida, um ignorado por deformações alheias, um enigma, uma pessoa um pouco misteriosa.

- Isso não importa, se continuarmos a promover a liberdade humana e a conjugação correta do natural e do sobrenatural.

Assim costumava falar o Padre Josemaria Escrivá. Esses eram os seus horizontes de vida, de amor e de esperança.”

Amor à liberdade, escreve Manuel Aznar, e a par desse traço tão presente na visão que Josemaria Escrivá tinha do jornalismo, outro inseparavelmente unido: a capacidade de diálogo:

- “dizia-nos com frequência que devíamos (estar) sempre abertos ao diálogo”.

- “O seu trato era simples, respeitador e afável; o seu caráter aberto, otimista e generoso, sempre disposto a um diálogo cordial”.

Assim era São Josemaria nas aulas daqueles Cursos de Especialização de Jornalismo, tal como o testemunham aqueles que compartilharam com ele aulas, corredores e amizade.

“Jesus Nosso Senhor amou tanto os homens, que encarnou, tomou a nossa natureza e viveu em contacto diário com pobres e ricos, com justos e pecadores, com novos e velhos, com gentios e judeus.

Dialogou constantemente com todos: com os que gostavam dele e com os que só procuravam a maneira de retorcer as suas palavras, para condená-lo.

- Procura comportar-te como Nosso Senhor”.

Muitos dos escritos do Fundador do Opus Dei refletem experiências pessoais. E isto é o que escreve num ponto de Forja que acabamos de transcrever, o n. 558.

Tinha os pés na terra e amava o jornalismo porque via a grande tarefa em prol da liberdade e da dignidade humana que incumbe à comunicação social. Numa entrevista publicada na "Gaceta Universitaria", de Madri, descreve com finura magistral um panorama realista da atividade dos jornalistas; é uma visão, por assim dizer, descarnada das principais insuficiências da profissão, mas o seu realismo está também aberto à esperança. Porque ao fim e ao cabo, o jornalismo está nas mãos dos seus profissionais.

“O jornalismo é uma grande coisa, também o jornalismo universitário. Podeis contribuir muito para promover entre os vossos companheiros o amor aos ideais nobres, o afã de superação do egoísmo pessoal, a sensibilidade ante os afazeres coletivos, a fraternidade. E agora, uma vez mais, não posso deixar de vos convidar a amar a verdade.

Não vos oculto que me repugna o sensacionalismo de alguns jornalistas que dizem a verdade a meias. Informar não é ficar a meio caminho entre a verdade e a mentira. Isso nem se pode chamar informação, nem é moral, nem se podem chamar jornalistas aqueles que misturam, com poucas meias verdades, bastantes erros e mesmo calúnias premeditadas; não se podem chamar jornalistas porque não são mais do que as engrenagens – mais ou menos lubrificadas – de qualquer organização propala Dora de falsidades, que sabe que serão repetidas até à saciedade sem má fé, pela ignorância e estupidez de muitos. Tenho de confessar-vos que, pela minha parte, esses falsos jornalistas ficam a ganhar, porque não há dia em que não reze carinhosamente por eles, pedindo a Nosso Senhor que lhes esclareça as consciências.

Rogo-vos, pois, que difundais o amor ao bom jornalismo, que é aquele que não se contenta com rumores infundados, com os boatos inventados por imaginações febris. lnformai com fatos, com resultados, sem julgar as intenções, mantendo a legítima diversidade de opiniões, num plano equânime, sem descer ao ataque pessoal. É difícil que haja verdadeira convivência onde falte a verdadeira informação; e a informação verdadeira é aquela que não tem medo à verdade e que não se deixa levar por desejos de subir, de falso prestígio ou de vantagens econômicas”[27].

5. O seu contributo para o Jornalismo

São Josemaria com a sua mensagem de “a santidade é para todos” contribuiu de forma única no sentido de redescobrir a perspectiva cristã das atividades temporais. Compreender que “o mundo – e não só o templo – é lugar de encontro com Cristo”[28], que a competência profissional específica, a formação dos critérios próprios sobre o ambiente em que uma pessoa desenvolve a sua atividade, o exercício da liberdade e a responsabilidade individual em qualquer atividade – evidentemente também na do jornalismo -, tudo isto é caminho que Deus quer que percorramos para construir um mundo – e um jornalismo – mais humano, foi o cerne da sua docência nos Cursos de Especialização de Madri, e é também o centro da espiritualidade laical que o Opus Dei difunde pelo mundo.

O amor á liberdade, à verdade, a defesa do respeito pela dignidade do ser humano que Josemaria Escrivá transmitiu ajudou inúmeros profissionais do jornalismo e da comunicação a serem especialmente sensíveis perante situações de injustiça que se apresentam no exercício da profissão de jornalista no dia a dia; em resumo, penso que São Josemaria promoveu um entendimento das atividades profissionais da comunicação como um meio excepcional para a convivência em sociedade num clima de liberdade.

Ana Azurmendi é Professora com agregação de Direito da Informação na Faculdade de Comunicação da Universidade de Navarra.


[1] Estes cursos de especialização para jornalistas foram criados por decreto do Ministério de la Gobernación de 24 de Agosto de 1940 («B.O.E.» 257, de 13 de Setembro); por outro Decreto de 17 de Novembro de 1941, da Vicesecretaría de Educación, foi criada a "Escuela Oficial de Periodismo". A continuidade entre os dois é tal que Pedro Gómez Aparicio, secretário dos "Cursos", num artigo de homenagem publicado na "La Hoja de Lunes" de Madrid, a 14 de Julho de 1975, fala dos 35 anos da "Escuela Oficial de Periodismo", incluindo o ano de 1940-1941. Em 1972 foram criadas as primeiras Faculdades universitárias de Ciências da Informação em Espanha.

[2] Biografias que referem esta atividade de Josemaria Escrivá são as seguintes: A. Vázquez de Prada, O Fundador do Opus Dei: Mons. Josemaria Escrivá (1902-1975), São Paulo, 1989, p. 258-259; A. Sastre, Tempo de Caminhar. Lisboa, 1994, p.251.

[3] Entre as memórias de fiéis do Opus Dei que conviveram com Josemaria: F. Ponz, Mi encuentro com el Fundador del Opus Dei. Madrid, 1939-1944. Pamplona, 2000, p.76

[4] A. Vázquez de Prada, cit., p. 258.

[5] A. Sastre, cit., p. 251.

[6] Sobre a Residência de Estudantes de Jenner e sobre os fiéis do Opus Dei dessa época, José Orlandis comenta: «Viviam (?) em Jenner uns trinta residentes, entre eles a maior parte membros do Opus Dei residentes em Madrid, o que nessa época equivalia a dizer quase todos os que faziam parte da Obra. Chamou-me a atenção a personalidade forte daqueles homens, todos novos e dos quais apenas uns poucos tinham mais de trinta anos: Isidoro Zorzano, engenheiro mecânico, o membro mais antigo da Obra, o fisiólogo Juan Jiménez Vargas, o químico-físico José Maria González de Barredo, o arquiteto Ricardo Fernández Vallespín; e José Maria Albareda, o grande impulsionador da investigação científica espanhola, que tinha pedido a admissão na Obra nas 'catacumbas' de Madrid nos anos trágicos de 1936-1937. Outros eram mais novos, como Álvaro del Portillo, o Secretário Geral do Opus Dei - cuja existência passaria para a história inseparavelmente unida à pessoa do Fundador -, e o engenheiro de minas José Maria Hernández de Garnica, gravemente doente como resultado das sevícias sofridas nas prisões republicanas durante a Guerra Civil. Ainda longe dos trinta anos estavam o matemático Francisco Botella e Pedro Casciaro, seu companheiro em Ciências e Arquitetura, principal responsável pela decoração da Residência, pessoa de fino humor e extremo bom gosto, cujo pai, catedrático de tradição familiar liberal-republicana, tivera que se exilar ao terminar a Guerra de Espanha. Mais jovem ainda era o historiador Vicente Rodríguez Casado, que seria depois quem iria criar a Escola de Estudos Hispano-Americanos de Sevilha e a Universidade de "La Rábida". Estes e mais algum ou outro pertenciam ao Opus Dei há vários anos; mas em Jenner conheci também alguns membros da Obra que acabavam de pedir a admissão. Entre estes se contava o jovem Fernando Valenciano, que preparava a admissão na Escola de Engenharia Civil, e José Luís Múzquiz de Miguel, que era já desde antes da Guerra engenheiro civil; também Fernando Delapuente, engenheiro mecânico que chegou a ser um pintor de renome e era então diretor de uma refinaria de açúcar; e ainda um estudante de Ciências, Francisco Ponz Piedrafita, de Huesca, que com o tempo viria a ser catedrático da Universidade de Barcelona e Reitor da Universidade de Navarra». Em Años de juventud en el Opus Dei, Madrid, 1993, p.66.

[7] F. Ponz, Mi encuentro, cit., p. 76.

[8] P. Casciaro, Soñad y os quedaréis cortos, Madri, 1994, p. 122.

[9] J.M. Casciaro, Vale la pena. Tres años cerca del fundador del Opus Dei: 1939-1942, Madri, 1998, p. 142. Esta instalação de centros levou-se a cabo com escassez de meios. Tanto J.M. Casciaro, como J. Orlandis, como F. Ponz, mencionam nas suas memórias a fome e o frio que passaram por falta de dinheiro. J. Orlandis dedica nem mais nem menos que um capítulo das suas memórias à fome (p. 134 e ss.) e outro ao frio: “Na casa de "Donadío" (era como chamavam à casa da rua de Diego de Léon), com as suas grandes janelas e quartos amplos, a temperatura era glacial: Andavam com luvas de lã para proteger os dedos das mãos, cheias de frieiras. Nem um único dia acenderam o aquecimento, porque lhes faltava o carvão e o dinheiro para comprá-lo”, p. 123.

[10] J. Orlandis, Años de juventud, cit, p. 84-85: narra com pormenor uma dessas viagens a Salamanca e a Valladolid em Fevereiro de 1940, em que, com Pedro Casciaro, acompanhou o Padre Josemaria. Também P. Casciaro, Soñad, cit., p.190.

[11] J. Orlandis, Años de juventud, cit., p. 95.

[12] A. del Portillo, Entrevista sobre o Fundador do Opus Dei, realizada por Cesare Cavallieri, S. Paulo, 1994, p. 216-217. O Cardeal Marcelo Gómez Martín, Arcebispo de Toledo e Primaz da Espanha, refere-se também a esta atividade do Padre Josemaria: “ no começo dos anos quarenta, bispos de toda a Espanha, conhecedores da sua santidade e da sua preparação, pediam-lhe para pregar numerosos retiros para sacerdotes: houve anos em que mais de mil sacerdotes ouviram as suas palavras vibrantes, que calavam fundo nos ouvintes. A um clero que, nos anos anteriores, sofrera a dura prova da guerra, o Padre Josemaria Escrivá propõe-lhe, com garra e tom positivo, um regresso às fontes da eficácia pastoral. Foi, nessa altura e sempre, um campeão da santidade sacerdotal. Urgiu com força o amor à Igreja, o sentido da unidade com o Bispo, a dedicação plena à missão das almas. Contribuiu poderosamente para a renovação de um clero autenticamente diocesano, bem preparado, consciente da sua vocação peculiar.” No seu artigo La huella de un hombre de Dios, in: Mons. Josemaría Escrivá de Balaguer y el Opus Dei: En el 50 Aniversario de su fundación. Pamplona, 1985, p. 389. Cfr. F. Ponz, Mi encuentro, p. 76; J.M. Casciaro, Vale la pena, cit., p. 169-170, e J. Orlandis, Años de juventud, cit., p. 126-127. Nestes dois últimos livros menciona-se essa dedicação aos sacerdotes, ao falarem da morte da mãe do Padre Josemaria, pois este se encontrava precisamente a pregar um retiro espiritual a sacerdotes em Lérida.

[13] Ibidem, p. 119-121. A este respeito conta o seguinte: “Um dia, o agostiniano Frei José López Ortiz, que mais tarde seria bispo de Tuy-Vigo e arcebispo castrense da Espanha, e que era então o confessor ordinário da nossa Residência de Diego de Léon, em Madri, entregou ao Padre uma cópia de um "dossiê confidencial" sobre a Obra e o seu Fundador: os serviços de informação da Falange tinham-no feito chegar às autoridades locais, e López Ortiz recebera-o de uma pessoa de confiança. O documento estava cheio de calúnias atrozes e significava o começo de outra campanha difamatória contra o Fundador. Fazia-se eco de todas as maledicências divulgadas anteriormente. Eu assisti àquela entrevista e confirmo o testemunho de Frei José: "Quando Josemaria terminou a leitura, ao ver a minha dor, começou a rir e disse-me com heroica humildade: 'Não te preocupes, Pepe, porque tudo o que dizem aqui, graças a Deus, é falso: mas, se me conhecessem melhor, poderiam ter dito com toda a razão coisas muito piores, porque sou apenas um pobre pecador que ama com loucura Jesus Cristo'. E, em vez de rasgar aquele cúmulo de insultos, devolveu-me os papéis para que o meu amigo os pudesse deixar no lugar de onde os tinha tirado, no Ministério da Falange: 'Fica com eles, disse-me, e entrega-os ao teu amigo para que possa deixá-los no seu lugar, e assim não o persigam também a ele'"”. Ver também J. Orlandis, Años de juventud, cit., p. 161-182, e S. Bernal, Mons. Josemaría Escrivá de Balaguer. Apontamentos sobre a vida do Fundador do Opus Dei, Lisboa, 1978, p. 266-282.

[14] J. Orlandis, Años de juventud, cit., p. 98.

[15] P. Gómez Aparício, no seu artigo Termina la Escuela Oficial de Periodismo, em “La Hoja del Lunes”, de Madri, de 14 de Julho de 1975.

[16] P. Gómez Aparício, Por los caminos de la santidad, em “La Vanguardia”, de Barcelona, 21 de Julho de 1976.

[17] Carta documentada no Instituto de Estudos Josemaria Escrivá de Balaguer, da Universidade de Navarra (Espanha), EF-410122-1

[18] N.A. Crawford, (The ethics of Journalism, New York, Vall-Ballou Press, 1924), transcreve catorze códigos éticos de jornais dos Estados Unidos; na Europa, o testemunho mais importante da crescente preocupação pela deontologia jornalística é a Carta Profissional do jornalista, aprovada pelo Sindicato Nacional de Jornalistas Franceses em 1918, e atualizado e reformulada em 1939. Transcrita, entre outros, por P. Auvret, Les Journalistes, Statut, Responsabilités, Paris, Delmas, 1994, p. 54-55.

[19] Testemunho documentado no Instituto de Estudos Josemaria Escrivá de Balaguer, da Universidade de Navarra (Espanha), T-04211.

[20] No seu artigo Termina la Escuela Oficial de Periodismo, cit.

[21] Artigo Por los caminos de santidad, cit.

[22] No regime franquista, concebia-se a imprensa como uma das instituições do poder político; é significativo – entre outros documentos – o texto foi publicado no Anuario de la Prensa Española (editado pela Dirección General de Prensa, 1945-1946): “"A imprensa nacional" figura já como incorporada no quadro de poderes do Estado. Não se podia, acrescentemos, alardear de "quarto poder" nem, consequentemente, o exercer, em linha e grau não coincidentes com os poderes e fins estatais. Mesmo que os seus anteriores desvios não tivessem sido concludentes, a inspiração íntima do 'Movimiento' não poderia deixar em mãos da iniciativa particular, na livre concorrência do mercado da notícia, uma força vital e necessária no entramado político que permitisse à Espanha desenvolver-se como nação. A Imprensa fica vinculada à Nação como instituição necessária: a instituição do serviço público da notícia. O seu enquadramento entra na esfera da Administração do Estado, tal como os outros serviços públicos. A Nação tem direito a um serviço de uma imprensa objetiva, veraz e colaborante com os fins do 'Movimiento', que são os do Estado espanhol “, transcrito em C. Barrera, El perodismo español en su historia, Barcelona, 2000, p. 189.

[23] Mais do que com os princípios ou com as ideias contidas no "Credo dos jornalistas", a conexão que estabeleço tem a ver com o apreço que demonstra pelo jornalismo e com a visão positiva que adota. Um reconhecimento e uma visão que muito poucos, fora da profissão, tinham nessa altura. Walter Williams foi um veterano jornalista do Missouri (Estados Unidos) eleito pela Associação da Imprensa desse Estado decano da Escola de Jornalismo da Universidade Missouri, entre 1908 e 1935 (é a primeira Universidade a organizar estudos de Jornalismo). O seu Credo dos jornalistas é um dos símbolos clássicos de conduta da profissão. Na atualidade, a Escola de Jornalismo da Universidade de Missouri continua a distribuir folhas soltas, como insígnia do verdadeiro jornalismo:

"I believe in the profession of journalism.

I believe that the public journal is a public trust; that all connect with it are, to full measure of their responsibility, trustees for the public; that the acceptance of a lesser service than the public service is betrayal of this trust.

I believe that clear thinking and clear statement, accuracy, and fairness are fundamental to good journalism.

I believe that a journalist should write only what he holds in his heart to be true.

I believe that suppression of the news for any consideration other than the welfare of society is indefensible.

I believe that no one should write as a journalist what he would not say as a gentleman; that bribery by one's own pocketbook is as much to be avoided as bribery by the pocketbook of another's instruction or another dividends.

I believe that advertising, news, and editorial columns should alike serve the best interests of the readers; that a single standard of helpful truth and clearness should prevail for all; that the supreme test of journalism is the measure of its public service.

I believe that the journalism which succeeds best – and the best deserves success – fears god and honours man; is stoutly independent, unmoved by pride of opinion, or greed of power; constructive, tolerant, but never careless; selfcontrolled, patient, always respectful of its readers, always unafraid; is quickly indignant at injustice; is unswayed by the appeal of privilege, or the clamour of the mob; seeks to give every man a chance, and, as far as law and honest wages and recognition of human brotherhood can make it so, an equal chance; is profoundly patriotic, while sincerely promoting international good will, and cementing world comradeship, is a journalism of humanity, of and for today's world”. Versão em: A. Knoff, The Ethics of journalism (New York, Vall-Ballou Press, 1924), p. 239-240.

[24] Um dos textos é a mencionada Carta do jornalista, aprovada pelo Sindicato Nacional de Jornalistas Franceses em 1918 e atualizado e reformulada em 1939; consiste num catálogo de ações que devem evitar-se; embora deixe transparecer a dignidade da profissão do jornalista, está sobrecarregada com o elenco de riscos, abusos e insuficiências em que se insiste: “Un journaliste digne de ce nom prend la responsabilité de tous ses écrits; tient la calomnie, les accusations sans preuve, l'alteration des documents, la déformation des faits, le mensonge, pour les plus graves fautes professionnelles; ne reconnait que la jurisdiction de ses pairs, souverains en matière d'honneur professionnelle; n'accepte que des missions compatibles avec la dignité professionnelle; s'interditd'invoquer un titre ou une qualité imaginaire, d'user de moyens déloyaux, pour obtenir une information ou surprendre la bonne foi de quiconque; ne touche pas d'argent dans un service publique ou une entreprise privée où sa qualité de journaliste, ses influences, ses relations soient susceptibles d'être exploitées; ne signe pas de son nom des articles de réclame commerciale ou financière; ne commet aucun plagiat; cite les confrères dont il reproduit un texte quelconque; ne sollicite pas la place d'un confrère ni ne provoque son renvoi en offrant de travailler à des conditions inférieures; garde le secret professionnel; n'use pas de la liberté de la presse dans une intention intéressée; revendique la liberté de publier honnêtement ses informations; tient le scrupule et le souci de la justice pour des règles premières; ne confond pas son rôle avec celui du policier”.

[25] Homilia Amar o mundo apaixonadamente, pronunciada no campus da Universidade de Navarra, a 8 de Outubro de 1967, publicada em Entrevistas com Mons. Escrivá, n. 114 e 116.

[26] M. Aznar, Amigo de la libertad, em: Así le vieron. Testimonios sobre Mons. Escrivá de Balaguer, Madri, 1992, p. 25-32. Artigo publicado em "La Vanguardia", Barcelona, 6-7-75.

[27] Entrevista de Andrés Garrigó em “Gaceta Universitaria” (Madri), 5-4-1967, publicada também em Entrevistas, n. 86.

Noutra entrevista realizada pelo correspondente da “Time”, de Nova Iorque, Peter Forbath, e publicada em 15-4-1967 (também em Entrevistas, n. 30) refere-se em concreto às difamações sofridas em momentos sucessivos: “No entanto, não se estranhe que, de vez em quando, alguém renove os velhos mitos: porque procuramos trabalhar por Deus, defendendo a liberdade pessoal de todos os homens, sempre havemos de ter contra nós os sectários, inimigos dessa liberdade pessoal, sejam de que campo forem, e tanto mais agressivos quanto mais se tratar de pessoas incapazes de suportar a simples ideia de religião, ou, pior ainda, se se apoiarem num pensamento religioso de tipo fanático. Apesar de tudo, são, felizmente, em maior número as publicações que não se contentam com repetir coisas velhas e falsas, e que têm clara consciência de que ser imparcial não é difundir uma coisa que fique a meio caminho entre a realidade objetiva e a calúnia, sem um esforço por refletir a verdade objetiva. Por mim, penso que também é notícia dizer a verdade, especialmente quando se trata de informar sobre a atividade de tantas pessoas que, pertencendo ao Opus Dei ou colaborando com ele, se esforçam, apesar dos erros pessoais (assim como eu erro, não me espanto de que os outros errem), por realizar uma tarefa de serviço a todos os homens. Desfazer um falso mito é sempre interessante. Considero que é um grave dever do jornalista documentar-se bem e manter atualizada a sua informação, embora, algumas vezes, isso implique modificar os juízos anteriormente feitos. Será assim tão difícil admitir que alguma coisa seja límpida, nobre e boa, sem misturar absurdas, velhas e desacreditadas falsidades?”.

[28] Amar o mundo apaixonadamente, em Entrevistas, n. 116.