Quem teve a idéia e qual foi sua motivação?
Um grupo de colegas engenheiros, conscientes da sua dívida para com a sociedade, decidiu levar adiante uma iniciativa de solidariedade para canalizar certas inquietações que carregávamos nesse campo. Também decidimos expor aos demais nossos anseios, abertamente. Dessa forma, pretendíamos despertar nos outros o ânimo de trabalhar para o desenvolvimento de populações carentes. Nossos companheiros de outros Colégios de Engenheiros do País Basco quiseram participar nessa iniciativa. Com isso, a IC-LI é constituída hoje por mais de 250 engenheiros e engenheiras.
No meu caso concreto, a idéia de trabalhar nesse projeto foi uma consequência lógica – e, diria, quase inevitável – do meu compromisso cristão e da assimilação dos ensinamentos recebidos de São Josemaría, que suscitaram alguns questionamentos: quais consequências pessoais deve ter a mensagem da santificação do trabalho para mim? Em outras palavras, como posso, através do meu trabalho profissional – eminentemente técnico, como engenheiro –, contribuir para melhorar a sociedade em que vivo? Como é lógico, cada um daria uma resposta diferente. No meu caso, pensei que poderia colaborar na fundação dessa ONG, com sua opção preferencial pelos mais pobres e, ao mesmo tempo, com a sua capacidade de sensibilizar e comprometer quem nos rodeia. Tudo isso no terreno do meu trabalho profissional.
É difícil avaliar e medir a solidariedade, mas você poderia fornecer alguns números que dêem uma idéia do trabalho que é realizado?
Em oito anos, desenvolvemos quase cinquenta projetos na América Central, América do Sul e África, com um investimento total superior a dez milhões de euros. Aproximadamente, 200.000 pessoas foram beneficiadas. Fundamentalmente, são projetos educacionais, sanitários e de infra-estrutura: escolas, postos de saúde, rede de luz na zona rural, etc. Normalmente colaboramos com agentes locais, acompanhando iniciativas de desenvolvimento oriundas do próprio país beneficiado e incorporando nos projetos ações que promovam a igualdade entre o homem e a mulher.
Também têm grande importância os esforços de transformação da nossa própria sociedade, especialmente através de campanhas de sensibilização e com o maravilhoso exemplo de mais de 250 profissionais comprometidos com a ONG.
Qual é o projeto mais ambicioso em que estão trabalhando atualmente?
É uma pergunta difícil, visto que estamos envolvidos em diversos trabalhos, sérios e urgentes, com nossos sócios locais: municípios, organizações civis e também instituições vinculadas à Igreja, como dioceses, congregações, paróquias, etc. Talvez o projeto mais significativo esteja em Angola. Consiste na reabilitação das infra-estruturas educativas e sanitárias de diversas missões de Malanje. Agora que, aparentemente, a paz chegou a essa terra tão castigada, afinal, estamos trabalhando com D. Luis María Pérez de Onraita, bispo dessa diocese angolana, na reconstrução de escolas e postos de saúde para facilitar o regresso dos que foram obrigados a abandonar o país durante os anos de conflito bélico.
Um projeto menos ambicioso, mas muito gratificante, ocorre todos os anos nos Camarões: enviamos para lá milhares de brinquedos doados numa partida de futebol do Deportivo Alavés. Recentemente, uma empresa da nossa região financiou os estudos universitários de um jovem camaronês.
A idéia inicial era simples: cada trabalhador da empresa devia doar uma hora de trabalho por ano para gerar, junto com a quantia doada pela própria empresa, os recursos econômicos para que um camaronês pudesse realizar seus estudos. A confluência de vontades e esforços dos trabalhadores e da direção da empresa, tornou possível que Olivier Nkooubou estudasse Bioquímica. Um dos sócios da IC-LI, que impulsionou a idéia, afirmou: “Foi a experiência humana mais importante que tive em toda minha vida profissional”.
Há pouco tempo você foi nomeado Hóspede de Honra de San Miguel em El Salvador. Por quê?
De fato, é uma dessas circunstâncias nas quais você se encontra sem saber explicar o porquê. Na primeira semana de maio, viajei a El Salvador e Nicarágua para trabalhar nos vários projetos que já estão bem desenvolvidos e também nos que acabamos de começar.
De um modo concreto, tínhamos que impulsionar em San Miguel, a segunda cidade de El Salvador, um projeto recentemente subvencionado pelo Governo Basco. Quando cheguei lá, recebi a surpresa: a Câmara Municipal decidira nomear-me Hóspede de Honra. Ao ver todo o ambiente de festa, com bandeiras, músicas, hinos e discursos, e ao perceber o imensa gratidão das pessoas, não pude evitar o enrubescimento pensando no pouco que estávamos fazendo.