Em Macau: “Aprendemos a nos adaptar como família”

Monica conta como ela e sua família aprenderam a se adaptar às restrições da pandemia em Macau, no sul da China, e a agradecer a Deus por todos os pequenos dons que Ele nos dá a cada dia.

A pandemia do coronavírus mudou nosso modo de vida, assim como o de muitas outras pessoas, levando quase todos em Macau a trabalhar e estudar em casa.

Meu marido Miguel e eu nos estabelecemos em Macau anos atrás, e agora temos dois filhos: Matilde, que tem quase 13 anos, e Miguel, que tem 10. Conheci o Opus Dei através de uma amiga que fiz quando nossos filhos começaram as aulas de Catequese na Catedral em 2017. Naquele tempo, me dei conta de que precisava me aprofundar em formação doutrinal, e minha amiga me convidou para ter aulas em um centro do Opus Dei. Mais tarde, comecei a participar dos Recolhimentos também, e no final do ano passado me tornei cooperadora do Opus Dei. Antes das restrições da pandemia, eu estava tentando participar da Missa durante os dias da semana sempre que possível, pois a Santa Comunhão é sempre uma fonte de paz e força para mim.

Vista de Macau (By Mimihitam - Wikimedia Commons, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=28234766)

As igrejas em Macau tiveram que fechar por um tempo indefinido, e não conseguiríamos receber a Santa Comunhão. Antes disso, além da Missa diária, eu também buscava ter tempo para rezar diante do Santíssimo Sacramento, em uma capela perto de meu escritório. Quando eu não conseguia, me sentia vazia.

Deus é nosso Pai e está sempre no controle. Logo depois, tivemos Missas online, retiros, novenas e outras atividades que nos ajudaram a continuar a viver nossa fé. Aqueles momentos de silêncio orante fizeram toda diferença. Eles me ajudaram a aceitar a pandemia como uma forma de ajuda para aumentar minha fé. Agora, espero por esses eventos virtuais e sou muito mais agradecida pelas pequenas coisas do dia a dia que eu considerava garantidas.

Aprendemos a nos adaptar como família. Continuamos a participar da Missa Dominical como se realmente estivéssemos na igreja, e ajudamo-nos mutualmente a terminar o café da manhã a tempo para cumprir o jejum Eucarístico, como faríamos se recebêssemos a Santa Comunhão. Acendemos uma vela e colocamos um crucifixo ao lado da TV durante a Missa. Aprendemos a oração da comunhão espiritual que nossa paróquia reza, e minha amiga também compartilhou comigo a comunhão espiritual que São Josemaria gostava de rezar. Acho que estamos aprendendo a apreciar o profundo valor das comunhões espirituais.

Também trabalhamos juntos para agendar as atividades para as crianças, uma vez que estão em casa e eu e meu marido trabalhamos. Nesta agenda, Matilde e Miguel têm tempo para estudar, usar a Internet, fazer exercício e rezar.

Nossa vida familiar se beneficiou com essa situação. Passamos mais tempo juntos conversando calmamente, e como as crianças não precisam acordar mais cedo para se deslocarem até a escola, não temos que nos apressar para ir dormir. Temos tempo para perguntar-nos o que fizemos no dia, fazer um exame de consciência, partilhar algo pelo que somos gratos e fazer uma oração de agradecimento. Embora isso signifique ir dormir um pouquinho mais tarde, a qualidade do tempo que passamos juntos torna isso recompensador. Quando nossas crianças retornarem á escola, encontraremos uma maneira para manter esse novo hábito.

Também começamos a rezar o Terço em família após o jantar. No começo não era fácil para as crianças fazerem isso, mas depois elas se comprometeram por si mesmas e aprenderam a disponibilizar tempo para rezar. Compartilhamos nossas intenções quando rezamos, e minha filha Matilde vê as notícias de diferentes países para que rezemos pelos que estão doentes ou morreram pelo corona vírus.

O pequeno Miguel começou a prestar mais atenção e a entender melhor a importância da oração. Tenho tosse alérgica e às vezes não paro de tossir, e agora ele me pergunta se estou bem.

Cada um de nós diz um dos mistérios do Terço enquanto rezamos. Uma noite meu marido dormiu após um dia árduo e Matilde também, pois tinha acordado muito cedo para terminar uma tarefa. E eu também dormi. Era minha vez de rezar e quando acordei vi Miguel rezando o Terço sozinho. Perguntei a ele se tinha dito o mistério, e ele me disse que era minha vez, mas como eu tinha dormido, ele disse, “alguém tem que dizer o mistério, então eu disse por você”.

Graças a Deus, após poucos meses com a igreja fechada, a diocese se organizou para que pudéssemos receber a Santa Comunhão na entrada de algumas igrejas em Macau. Começamos a participar da Missa online usando nossos celulares dentro carro, e depois sair para receber a Santa Comunhão. Foi um passo importante para nossa família porque já sentíamos falta de receber a Comunhão. Assim como para muitas outras coisas, creio que fazer um pequeno sacrifício nos ajudou a dar valor a coisas.

Para minha família, a pandemia foi uma chance para percebermos que não estamos desamparados: algumas coisas são mais difíceis, mas podemos encontrar novas formas para realizá-las. No início estávamos com medo, pois não sabíamos o que aconteceria. Mas agora vimos como o bem pode surgir nessa situação difícil, e agradeço a Deus todos os dias pelo que Ele me dá. Alguns de Seus dons são grandes e outros pequenos, mas o dom mais importante é como Ele me ajudou a ouvir Sua voz mais claramente em minha vida e em minha família.