Cardeal de São Paulo celebra Missa de Ação de Graças pelo Papa

Publicamos a íntegra da homilia pronunciada pelo Arcebispo de São Paulo, Cardeal D. Cláudio Hummes, na última sexta-feira, dia 29 de abril, às 15h00, na Catedral Metropolitana.

D. Cláudio Hummes, cardeal de São Paulo

Irmãos e irmãs!

No Evangelho de hoje, Jesus diz aos seus discípulos: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça” (Jo 15,16). Ainda que dirigida a todos nós, seus discípulos, esta palavra de Jesus se aplica admiravelmente ao que celebramos nesta solene Santa Missa, ou seja, à eleição de Sua Santidade, o Papa Bento XVI. Estamos aqui para louvar a Deus e agradecer-lhe por haver escolhido e dado à sua Igreja esse novo papa, pastor universal, “servo dos servos de Deus”, Vigário de Cristo na terra. Certamente, todos nós, e eu também pessoalmente, estamos muito felizes e esperançosos com o novo papa.

Na verdade, ainda estamos emocionados com tudo o que ocorreu em Roma, neste mês de abril, que chega ao seu término. Os grandes e tão significativos eventos que envolveram toda a Igreja, a cristandade do mundo inteiro e, mesmo, toda a humanidade. Os eventos da morte e funerais do muito amado e saudoso Papa João Paulo II, magnificados pela grande peregrinação mundial - cerca de 5 milhões de pessoas e 172 delegações oficiais, com chefes de Estado, de governo e cabeças coroadas, representando países, organizações internacionais e organismos supranacionais – todos indo a Roma em homenagem ao falecido papa, o qual marcou com seu pontificado carismático os últimos 26 anos de nossa história. Depois, os eventos do conclave, da eleição do novo Papa, Bento XVI, e de suas primeiras mensagens e movimentações.

Destacou-se, em meio a tudo isso, a cobertura que a mídia mundial deu aos fatos. Foi algo nunca visto até hoje, tal o volume de notícias, informações, análises, debates e propostas, que os meios de comunicação de massa jogaram diariamente sobre a opinião pública, no mundo inteiro. A Igreja obviamente agradece este trabalho esplêndido da mídia. Graças a essa, os olhos e os ouvidos de toda a humanidade estiveram voltados para Roma, neste mês.

“Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi” (Jo 15,16). Esta palavra de Jesus se aplica, como disse, concretamente à eleição de cada novo papa. Sabemos pela fé que a eleição de um papa não é primeiramente fruto da eleição de homens, mas da eleição anterior e determinante de Jesus Cristo. É ele quem escolhe, ainda que queira envolver misteriosamente nesta eleição a mediação humana do colégio dos cardeais. Mas o senhorio de Jesus Cristo permanece intacto. Ele é o único Senhor, que guia a história humana e governa a sua Igreja. Desta forma, nossa fé nos diz que foi Jesus Cristo quem nos deu o novo papa, Bento XVI. Ao novo papa Jesus diz: “fui eu que te escolhi”. Por esta razão, podemos saudar o escolhido, aclamando-o: “Bendito aquele que vem em nome do Senhor”. Bendito, Benedito, Bento, são sinônimos. Assim, numa variante, poderíamos dizer: “Bento XVI, tu és aquele que vem em nome do Senhor”.

“Eu vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça” (Jo 15,16). Essas palavras de Jesus, no evangelho de hoje, nos fazem lembrar de novo, o saudoso papa João Paulo II. Jesus diz: “Eu vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto”. Está aqui o mandato missionário. “Eu vos designei para irdes”. A missão exige ir, ir em busca, sair de casa, partir da comunidade e ir em missão em busca das pessoas, para conduzi-las a Cristo e integrá-las na comunidade dos discípulos de Cristo. O missionário deve ir e produzir frutos. Ora, João Paulo II se distinguiu como o missionário universal, que foi em busca do mundo e de cada pessoa para anunciar-lhes Jesus Cristo, morto e ressuscitado, e seu Reino. Ele fez mais de uma centena de viagens, chegando a quase todos os países do mundo. Um missionário incansável, de grande carisma, que viajou por todo o planeta, usou todos os meios de comunicação existentes para atingir a todos. Diríamos hoje que foi um missionário “global”. Foi também um missionário que “produziu frutos”. De fato, moveu os corações, especialmente dos jovens e dos pobres, confirmou seus irmãos Bispos pelo mundo afora, consolidou o anúncio da mensagem evangélica para a sociedade de hoje, pregou sem medo e com especial convicção o Evangelho a todos. Foi admirado e respeitado, mesmo por aqueles que talvez nem sempre concordassem com sua doutrina.

Temos a certeza de que também o novo papa, Bento XVI, será um missionário universal. Dentro de suas próprias possibilidades pessoais e condições, mas sempre um missionário. Alguém que foi chamado por Jesus Cristo para ir e dar frutos, que permaneçam. Alguém que confirma seus irmãos Bispos por todo o mundo, consolida a fé dos cristãos, dialoga com outras crenças e com todos os segmentos da sociedade humana, com a ciência e a cultura, levando a luz de Cristo, de modo sempre renovado e inculturado, ao mundo de hoje. Com certeza, ele será um papa aberto e misericordioso com todos. Amará em especial os pobres e será solidário com eles e com todos os sofridos e excluídos deste mundo. Todos sabemos como a pobreza e a miséria crescem no mundo e como os pobres clamam por seus direitos, por justiça social, por fraternidade, trabalho e cidadania. Bento XVI já disse que: “todos os católicos devem estar disponíveis para cooperar num autêntico desenvolvimento social, que respeite a dignidade de cada ser humano”(Missa na Capela Sistina, com os Cardeais). Falando de como o pastor deve buscar a ovelha perdida no deserto, acrescentou que hoje há muitos desertos em que se encontram ovelhas perdidas. Entre esses desertos, nomeou “o deserto da pobreza, da fome e da sede”, portanto o deserto dos pobres, para onde o bom pastor deve dirigir-se e resgatar as ovelhas vítimas da pobreza, da fome e da sede. O papa quer ser esse bom pastor para com os pobres.

O papa deverá ser acolhedor, bondoso, pai, irmão, amigo e pastor. Ele já disse, como papa, que “não é o poder que salva, mas o amor”. Já disse também que se dedicará a construir a paz no mundo e que pretende levar à frente o diálogo ecumênico e inter-religioso. Já enviou uma mensagem especial à comunidade judaica, confirmando a continuidade do diálogo. O diálogo com o Islã também estará certamente em sua agenda principal.

Cada papa tem sua originalidade. Nenhum é igual ao outro. Pois, os tempos em que exercem seu pontificado são diferentes. A história caminha e traz novas situações, progressos e questionamentos. Cada papa é um novo tempo para a Igreja. Inaugura uma nova época. Assim também será com Bento XVI.

A todos nós, católicos e católicas, cabe acolher o novo papa, com amor efetivo, com alegria, com compromisso de fidelidade, obediência e comunhão eclesial. Rezemos por ele, para que o Espírito Santo sempre o ilumine, o fortifique, o console e o faça feliz, mesmo no meio dos muitos sacrifícios, dedicação, críticas e fadiga que o ministério papal dele exigirá. Com nossa caridade, acolhida e colaboração, ajudemo-lo a carregar o peso de suas responsabilidades.

Agora, em Roma, após a sua eleição, quando eu tive a primeira oportunidade de cumprimentá-lo e saudá-lo, ele me recebeu, dizendo: “A grande cidade de São Paulo”. Eu então lhe disse: “Santidade, abençoa São Paulo e o Brasil. Queremos ficar muito unidos em comunhão com Vossa Santidade. Venha visitar o Brasil”. Ele deu sua bênção apostólica e, sobre a visita ao Brasil, disse: “Vamos ver, vamos ver!”.

Meus irmãos e irmãs! Vamos então cantar os louvores de Deus nesta Missa. Louvá-lo porque nos deu Jesus Cristo, que por nós morreu e ressuscitou. Louvá-lo porque nos chamou e nos fez membros de seu povo, sua Igreja. Louvá-lo porque nos deu este novo papa, Bento XVI. Vamos louvar o Pai eterno, por meio de seu Filho Jesus Cristo, no Espírito Santo. Vamos cantar um canto novo, como diz o salmo 97: “Cantai ao Senhor um canto novo, porque Ele fez maravilhas... O Senhor fez conhecer sua salvação e sua justiça às nações... Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira, alegrai-vos e exultai”. Sim! Que esta missa seja uma grande ação de graças a Deus e um compromisso de comunhão com o novo pastor universal da Igreja, Bento XVI. Amém!

+ Cardeal Dom Cláudio Hummes

Arcebispo Metropolitano de São Paulo