Bruno Leroy, educador de rua

Educador de rua, escritor, Bruno Leroy, que não é membro do Opus Dei, explica-nos como São Josemaria ajuda-o em seu trabalho cotidiano a serviço dos mais necessitados.

Bruno Leroy

Poderia falar-nos sobre o senhor e sua trajetória?

Tenho 48 anos e, desde os 19 anos, exerço a profissão de educador. A tomada de consciência para efetuar um trabalho social veio de uma revolta visceral contra as injustiças, principalmente, aquelas que dizem respeito aos machucados pela vida.

Queimava-me a minha fé em Deus, diariamente, e incitava-me a seguir em frente.

Antes de revoltar-me face às misérias materiais ou psíquicas, decidi canalizar os meus impulsos para um trabalho de caráter social.

Uma noite, encontrei um jovem tiritando de frio sentado numa sarjeta. Eram duas horas da manhã, fazia menos de 10 graus. Ele me disse que o seu pai, bêbado, expulsara-o de casa. Levei-o para dormir em minha casa, no chão, e preparei-lhe uma reconfortante refeição.

Agradeceu-me, explicando que outros adolescentes viviam em situações dramáticas, envolvidos com droga, bebida, violência, prisão. Minha decisão foi tomada naquele dia mesmo: viver no meio deles, na rua.

Atualmente tenho investido muito junto às pessoas idosas: sonho com os verdadeiros relacionamentos intergerações. Todo indivíduo tem necessidade da presença do outro e pode enriquecê-lo qualquer que seja a sua idade.

Como o senhor conheceu São Josemaria?

Encontrei São Josemaria por ocasião de uma feira de saldos! A Providência fez-me descobrir um velho livro, desconhecido, intitulado Deus vomita os mornos(1) , que, eu acho, sintetiza o pensamento de Josemaria. Eu o deixei de lado porque, naquela época, estava mais interessado na Teologia da Libertação. Depois, durante um período extremamente difícil, comecei a lê-lo. Este livro não só colocou-me de pé como deu-me uma força interior indefectível.

O Opus Dei enfrenta uma imprensa desfavorável e eu, no início, estava muito reticente quanto à sua leitura. Os benefícios provocados por esse livro fizeram-me descobrir o seu site . E lá constatei que todos os ataques ao Opus Dei são absolutamente infundados.

Mais ainda, São Josemaria tem um frase na qual eu me encontro plenamente, quando ele escreve: Eu quero anticonformistas, revolucionários e sobretudo rebeldes do Amor. Isto foi quase um choque para mim, porque era assim que eu me definia há alguns anos. Eu disse para mim mesmo: nossas almas se encontram! Eis uma das razões essenciais pelas quais tenho um incomensurável respeito por esse santo. Nós podemos tirar de seus atos e pensamentos um sentido para o nosso cotidiano. Ele é o único santo que elaborou, teologicamente, uma espiritualidade do instante presente.Eu chamo isso de sua teologia do dia presente . Habitar o tempo com Jesus Cristo tanto nas tempestades como nos momentos ensolarados.

O senhor cita seus escritos, regularmente. Por quê?

Nossa sociedade perdeu o sentido do Amor. Ela ignora a consciência do trabalho bem feito. O dinheiro tornou-se o deus do desempenho, do individualismo e da negligência. O trabalho perde o seu sabor interior e a vida, o seu brilho. Havia um sopro de esperança e de humor sobre as pressões que podemos sentir como tais. São Josemaria era de uma liberdade de espírito surpreendente. Ele nos ensina a transcender o nosso dia-a-dia, às vezes muito pesado, e transformá-lo numa pluma suave transportada pelo Espírito Santo. Sua espiritualidade está sempre sendo redescoberta, porque ela conduz à uma felicidade real. Essa felicidade que ele me fez descobrir, devo dividi-la com os outros.

É o que tento fazer no meu blog.

Isso tem influência sobre seu trabalho como educador de rua ou como escritor?

Certamente, sua visão do mundo é um maná inesgotável. Entretanto, eu reatualizo a sua espiritualidade em função dos acontecimentos vividos. Veja essa famosa teologia do tempo presente , da qual falei anteriormente. É preciso adaptar-se às mutações e novas tecnologias sem, contudo, perder nossa alma. Ele me ajuda e me inspira nesse sentido. Ele também dá consistência ao meu trabalho educativo.

Eu jamais faço proselitismo e, contudo, muitos jovens e pessoas com dificuldades sentem que uma chama vinda de algum lugar me ampara e me torna consciencioso em cada gesto realizado.

É a luz delicada de São Josemaria que me guia sobre os caminhos escarpados.

Existe alguma outra coisa que o senhor queira dizer ou destacar?

Primeiramente, testemunhar que é o Espírito Santo quem nos faz agir. Eu acredito muito na pedagogia do exemplo. Uma criança, um jovem, olha seus pais ou os adultos para aprender como se comportar em sociedade. Mas, se você mentir, ele generalizará, dizendo que todos os adultos são mentirosos. E com o risco de tornar-se um deles. Se você mostrar a ele como é preciso respeitar o seu próximo, mesmo que suas idéias sejam diferentes, ele compreenderá que o respeito é uma noção fundamental.

Os valores que queremos ver florescer em nossa sociedade, devemos antes encarná-los. A oração ajudar-nos-á a encontrar os verdadeiros comportamentos. E a espiritualidade de Josemaria dar-nos-á a audácia de inovar em função dos indivíduos encontrados. É por isso que o seu pensamento fica e permanecerá sempre atual.

Rezemos para que ele nos dê essa alegria de colocar em pé os homens feridos. Nossa sociedade terá o semblante que ele desejava, estou certo disso, eu, o Rebelde do Amor!