Um rio humano corre pelas ruas de Roma, cheio de pessoas jubilosas que se dirigem a Praça de São Pedro, com os olhos fixos na fachada de Maderno, onde um alto-relevo representa o momento em que Jesus Cristo entrega as chaves da Igreja a um pobre pescador. Já alegrou o céu de Roma a fumaça branca, e a multidão expressa a sua alegria.
Isto representa um primeiro ponto de reflexão. Estas pessoas não esperam conhecer o homem concreto para manifestar a sua alegria. Um católico não precisa conhecer o perfil concreto do eleito para alegrar-se. Para o povo fiel o importante é que a Igreja conta já com um pastor: o nome, a pessoa, a cor da pele importam menos: o decisivo é que esse homem, seja quem for, converteu-se em Pedro, no novo Vigário de Cristo. Sua origem geográfica, sua idade, são elementos secundários: é o sucessor do Príncipe dos Apóstolos que se aguarda, que se aplaude.
Por essa razão, este júbilo, além de ser uma manifestação de entusiasmo, tem um grande sentido e profundidade teológicos. Não sabemos quanto durará este Papado: Vinte e tantos anos, como o do último Papa, ou trinta e três dias, como o do penúltimo?
Ouve-se um novo fragor de aplausos. Abrem-se as grandes janelas e aparece a silhueta do cardeal Medina, enquanto caem algumas gotas.
“Irmãos e irmãs queridíssimos – diz em italiano. Depois pronuncia a mesma expressão em castelhano, francês, inglês e alemão. Anuncio-vos uma grande alegria... Habemus papam!
Uma onda de alegria percorre a Praça de São Pedro, a Via della Conciliazione e as ruas de Roma. Há pessoas reunidas em todas as varandas e terraços que dão para esta Praça, e para as telas de televisão do mundo inteiro. Poucos acontecimentos de nossa sociedade globalizada adquirem uma dimensão tão global como esta.
- ... qui sibi nomen imposuit... Benedictus XVI.
Novos aplausos na Praça de São Pedro. Bento XVI. Escolheu o nome do Pontífice da paz, do Papa evangelizador.
“Queridos irmãos e irmãs – diz Bento XVI – depois do grande Papa João Paulo II os senhores cardeais elegeram a mim, que sou um humilde trabalhador da vinha do Senhor... me consola o fato de que o Senhor se serve de instrumentos insuficientes e confio em vossas orações.”
Segue uma invocação a Cristo Ressuscitado e a Nossa Senhora. A grande estola de bordados dourados sobre a brilhante murça vermelha. O novo Papa sorri e a oração se transluz nos seus olhos. Chamava-se Ratzinger, um cardeal que morreu neste Conclave para converter-se no Primeiro Papa do terceiro milênio.
José Miguel Cejas, escritor.