Áudio: “Sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo”

«Seguindo os passos de Cristo, não nos afastemos ante os defeitos do próximo e, sem nos sentirmos vítimas, compreendamos que não se trata de “suportá-lo”, mas aceitá-lo com humildade» é o conselho de Dom Javier no comentário à esta obra de misericórdia.

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9. Perdoar quem nos ofende (Agosto/2016)

10. Consolar os tristes (Setembro/2016)

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Ao longo deste ano, estamos procurando que a misericórdia de Deus marque a nossa vida interior e se traduza em obras. Como dizia São Josemaria, é nas situações normais onde se cria o ambiente mais adequado para tornar presente a bondade de Deus: ou O encontramos aí ou não O encontraremos nunca.

Desta forma, a convivência com os outros e o ambiente de trabalho ou familiar se transformam em ocasiões para nos identificarmos com Ele e com a alavanca do amor, elevar o mundo para Deus. Neste sentido, é muito oportuno examinar o modo como vivemos a obra de misericórdia que consideramos neste mês: Sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo.

Amor e sofrimento são duas realidades difíceis de separar. Quem não sofreu por amor a um cônjuge, um filho ou um amigo? Às vezes, esta combinação única pode ser um mistério, mas Jesus na cruz nos mostra que esse foi o caminho percorrido pelo próprio Deus. Conscientes de que o Senhor sabe mais, quando nos deparamos com este mistério na vida cotidiana, olhemos para a Cruz, que será uma fonte de paz.

O fundador do Opus Dei sempre aconselhou que levássemos um crucifixo no bolso, ou que o colocássemos na mesa de trabalho, ao lado da fotografia de entes queridos. Deste modo, beijando-o ou dirigindo umas palavras ao Crucificado, será mais fácil aceitar as contrariedades do dia, lidar com as nossas derrotas sem desanimar ou superar as divergências inevitáveis com os outros. São Josemaria acrescentava que não devemos “suportar” o próximo, mas amá-lo para percorrer com ele o seu caminho cotidiano.

Perder o medo da cruz, amá-la, abraçá-la sem medo quando chega nas situações comuns ou em circunstâncias extraordinárias, fará o nosso coração crescer e, assim, acolheremos os outros quando precisarem. Deste modo nos prepararemos para nos apresentarmos diante do Deus que nos compreende e nos espera no céu, pronto para derramar Seu infinito amor na nossa pobre alma.

São Paulo descrevia com estas palavras as características de um amor purificado: “A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor...”.

Amigos e amigas, se queremos seriamente o bem dos outros, compreenderemos que diante do irmão fraco não há espaço para a pressa, crítica ou impaciência. Embora às vezes queiramos moldar o próximo de acordo com o nosso gosto, e podemos nos irritar com a sua persistência nos mesmos defeitos, não é verdade que Deus teve e tem mais paciência conosco?

Durante a transfiguração, enquanto o Senhor se alegrava com o Pai e o Espírito Santo, os nove discípulos que esperavam ao pé da montanha, tentaram em vão curar um menino epiléptico. A sua falta de fé fez com que fossem incapazes de aliviar o menino, que se jogava na água e fogo para fazer mal a si mesmo. Jesus Cristo, ao ser informado do fracasso dos seus discípulos, reagiu com uma certa desilusão, em que, talvez, reconheçamos a nossa própria decepção ou distanciamento em relação aos defeitos dos outros. Até quando vou ficar convosco? Até quando vou suportar-vos? – exclamou o Redentor.

No entanto, como Jesus veio à Terra para redimir os homens, com grande paciência para com todos, curou o menino e explicou aos seus discípulos a causa do seu fracasso: “Se tiverdes fé (...) Nada vos será impossível.” - disse-lhes. O amor profundo do Senhor pelos homens, é a força que O move a nos salvar, para nos dar o seu perdão uma e outra vez, para considerar a dignidade de filhos de Deus, que Ele mereceu para nós, e que está escondida sob as nossas misérias.

Seguindo os passos de Cristo, não nos afastemos perante os defeitos do próximo e, sem nos sentirmos vítimas, compreendamos que não se trata de “suportá-lo”, mas o acolher com humildade. Olhemos para os outros com olhos benignos com que Deus os olha e nos olha, não com os nossos. Se a crítica interna surge facilmente ou pensamos que somos incapazes de aguentar mais tempo o caráter desta ou daquela pessoa, façamos melhor o nosso exame de consciência pessoal. Quem não se conhece bem, quem não procura a humildade, tende a ser intransigente com os outros. Sobre isso, Santo Agostinho escreveu que “É melhor um pecador humilde do que um santarrão soberbo”.

Lembro que São Josemaria costumava recolher-se uns minutos diante do Sacrário, também no fim do dia, antes de dormir, para fazer o balanço do seu dia. Esses momentos diante do Senhor o ajudavam a recordar os momentos em que poderia ter-se dado mais aos outros, e pedia perdão a Deus, e ajuda para melhorar no dia seguinte. Só quem conhece a sua própria fraqueza, e riu um pouco da sua pouquidão, descobre o quanto precisa de Deus e da compreensão dos irmãos.

Apenas uma alma paciente e humilde, consciente das suas limitações, é capaz de se abrir para quem precisa de uma mão, de um conselho ou de um sorriso que expressa uma compreensão sincera. Se consegue pouco, no entanto, com a confrontação ou com frases carregadas ou cinismo ou despeito.

São Josemaria dava este conselho aos casais: “Procurem ser sempre ‘jovens’, conservem-se completamente um para o outro que vocês cheguem a se amar tanto que amem os defeitos do cônjuge, se não forem ofensa a Deus”. Amar os defeitos do cônjuge, ou de uma amiga, ou de um amigo, é possível quando o amor é maduro. E esta atitude não implica aceitar estoicamente os defeitos dos outros. Desejamos o bem dos outros, e, portanto, procuraremos ajudá-los a eliminar estas faltas, como por exemplo o caráter colérico ou apático, a desordem, a sensualidade, a preguiça, o ativismo, a falta de pontualidade, o desperdício, etc.

Estas imperfeições são cruzes que cada um de nós carrega durante muitos anos, talvez de modo permanente. Não acrescentemos mais peso à cruz que cada um suporta: a paciência com o próximo será para muitos este Cireneu que alivia a luta diária e que nos ajuda a nos identificarmos com este Cristo que caminha para o Calvário, carregando a Cruz por nós.

Peçamos à Nossa Senhora que nos ensine a ser pacientes. Ela soube acolher os apóstolos que tinham abandonado o seu Filho e acompanhou maternalmente a Igreja nos seus primeiros passos. Tenhamos certeza de que Maria caminha conosco, ajudando-nos a encher de compreensão misericordiosa as relações entre os homens.