“Através do trabalho, colaboro com os planos de Deus”

Diego Álvarez, que acaba de completar 30 anos, foi durante três anos militar de profissão e há cinco anos trabalha como estivador no Porto de Valência. Ele é casado — sua esposa chama-se Tânia — e é supernumerário do Opus Dei.

Como foi que você conheceu o Opus Dei?

Através de uns tios meus que moram na Galícia. Em 1998 minha tia Marina me falou do Opus Dei e me pôs em contato com uma pessoa da Obra daqui de Valência. Essa pessoa me convidou para ir à Jornada Mundial da Juventude que seria em maio, no santuário mariano de Torreciudad. Foi lá que eu fiz a minha primeira romaria à Nossa Senhora. Foi uma surpresa. Até esse momento eu não tinha consciência do que era a vida cristã: como tantas pessoas, pensava que isso de rezar não levava a nada, que não era moderno. Descobri a devoção ao Santo Rosário, e comecei a rezá-lo com assiduidade, quando podia...

O que aconteceu depois?

Nada de especial. Não voltei a entrar em contato com a Obra até alguns anos depois. Nesse meio tempo escolhi a carreira militar. Com a intenção de ajudar as pessoas, pensei que seria uma boa idéia participar de uma missão internacional da OTAN em Kosovo. Pouco antes de tomar essa decisão voltei a falar com essa pessoa da Obra, que conhecia esse tipo de missões. Mas foi um contato superficial. De fato, o meu conhecimento da vida cristã era muito superficial. Estive em Kosovo durante quatro meses. Ali me apoiei muito no Rosário. Uma das minhas tarefas foi escoltar um sacerdote ortodoxo, com o qual travei certa amizade: ele até me deu o seu terço, ficando com o meu.

E quando você descobriu que o Opus Dei poderia ser o seu caminho?

Isso foi na volta de Kosovo, no fim do ano de 2001. Minha mãe me deixou uma biografia de São Josemaria da qual tinha gostado muito. O conhecimento da vida do fundador do Opus Dei me levou a descobrir que podia ajudar as pessoas sempre, no meu próprio ambiente, sem precisar ir a outros lugares. Comecei a conversar com um sacerdote da Obra, a assistir aos retiros espirituais e a receber aulas de Catecismo, porque não tinha idéia de nada. Também comecei a fazer oração mental.

A sua vida mudou?

Radicalmente. O espírito do Opus Dei mostrou-me que o trabalho é muito mais do que um simples meio de sustento: é através do trabalho que eu colaboro com os planos de Deus. Além disso, a formação me ajudou a ver que os preconceitos que muitas pessoas têm contra Jesus Cristo e contra a Igreja — e que eu mesmo tinha também — procedem do desconhecimento da realidade. A Obra me dá formação, que é algo que você precisa para si mesmo e para poder ajudar os outros. Tânia – que naquela época era minha noiva e hoje é minha esposa – foi quem mais notou a mudança.

Como é o seu trabalho de estivador? É compatível com uma vida de entrega a Deus no meio do mundo?

Nós, os estivadores, trabalhamos com transporte de carga e com descarregamento de navios. Trata-se de um trabalho muito duro, porque os horários só são informados na véspera e estão sujeitos a mudanças constantes, o que supõe transtornos importantes no sono e nas refeições. Além disso, o manejo dos guindastes e as outras tarefas exigem muita concentração durante as seis horas que dura cada turno. Mas é claro que é compatível! Nessas circunstâncias, na grua, sei que Jesus Cristo está me esperando lá todos os dias. Trato de fazer as coisas do melhor modo possível e de ser um bom companheiro.

O que os seus colegas e amigos dizem quando conhecem o seu estilo de vida?

As pessoas me perguntam muito sobre a Igreja e sobre a vida cristã. Os preconceitos que possam existir no ambiente procedem do desconhecimento, como dizia antes. Eu só tenho motivos para agradecer muito a Deus por ter encontrado um rumo para a minha vida. E uma maneira de agradecer é ajudar os outros e explicar-lhes tudo o que aprendi e o que vou aprendendo.

Se não for indiscrição, o que você costuma pedir a São Josemaria?

Muitas coisas de todo tipo. Mas gosto de pedir-lhe algumas vezes pela paz social no meu ambiente de trabalho, porque ocorrem muitos conflitos e com certa frequência alguns confrontos entre as propostas da empresa proprietária e as do sindicato são justificáveis. Peço para que as relações sejam mais amistosas. Em todo caso, o nível de profissionalismo dos estivadores é muito alto, e o trabalho sempre acaba sendo feito: quando é preciso ceder para obter alguma melhoria, cedemos.