Ajudando os jovens imigrantes de Marselha

Frédéric Prat, diplomado pela Escola Central de Lyon e pela Escola de Minas de Paris, pertence ao Opus Dei. Atualmente ajuda a mais de 100 jovens imigrantes de Marselha a melhorarem o seu rendimento escolar.

Como conheceu o Opus Dei?

Estava assistindo uma aula quando um amigo me perguntou: você é cristão? Respondi-lhe que sim com certa frieza, porque a única coisa que eu fazia era ir à Missa aos domingos. Propôs-me assistir a uma palestra de um sacerdote num Centro do Opus Dei. Não quis saber do assunto, porque naquela altura eu não estava muito interessado em fazer alguma coisa a mais por Deus. Mas vários meses depois mudei de idéia e fui ao Centro, movido principalmente pela curiosidade por saber o que era o Opus Dei.

Você criou uma associação em Marselha, a “Jovens Mais”...

Sim. Depois de defender a minha tese na Escola de Minas de Paris, decidi dedicar-me ao ensino, e acabei descobrindo as várias dificuldades enfrentadas pelos jovens que provêm de setores sociais menos favorecidos. Percebi-o especialmente no caso de um jovem doente, de grande capacidade intelectual, cujo pai o considerava um inútil, e que se sentia desprezado quando não conseguia tirar a nota mais alta. Falamos com os professores, mas sem encontrar uma solução, já que não tínhamos nenhuma relação com a família. Então pensei que deveria colocar em prática essa iniciativa.

“Jovens Mais” é uma associação de que participam cem rapazes e uns 60 tutores, que lhes dão uma aula de reforço escolar por semana. É uma frequência que permite evitar uma dependência excessiva e que estimula a sua autonomia. Temos uma sede num bairro de Marselha onde ocorrem muitos problemas, como o desemprego, o abandono da escola, etc. Queremos ajudar cada um dos rapazes e estimular a sua autoconfiança, convencendo-o de que pode triunfar como estudante. Porque em muitos casos o que acontece é só uma falta de adaptação ao sistema escolar; e o fato de que uma pessoa mais velha se preocupe com os seus problemas os anima muito, e já é um passo para a sua solução.

Como o Opus Dei influi nisso tudo?

O espírito do Opus Dei me estimula pessoalmente e me ajuda a ter sensibilidade para os problemas dos outros. Conheço muitas iniciativas desse tipo, promovidas por pessoas do Opus Dei no mundo todo, e que são mais ou menos similares à minha. Observei nessas iniciativas como os rapazes valorizam, principalmente, o interesse que as pessoas formadas no espírito do Opus Dei têm por eles, e isso fica inclusive acima da qualidade técnica da ajuda prestada. Essa dedicação, essa preocupação com os problemas dos outros, que é fruto do espírito cristão do Opus Dei, é uma das grandes soluções para esse problema.

No momento, proponho-me a ajudar esses rapazes a desenvolverem a sua capacidade de aprendizagem, e assim possam pensar com mais independência; que saibam desenvolver na esfera cultural um pensamento próprio, o seu próprio critério, sem mimetismos que alienam. É um caminho que leva à felicidade e ao conhecimento de Deus. Mas o primeiro passo é combater o fracasso na educação, sem nenhum tipo de discriminação por motivos religiosos.

No bairro em que trabalhamos costuma haver uma porcentagem mais alta de muçulmanos do que de cristãos, e a nossa atuação é profundamente respeitosa para com a sua fé. É fruto de uma concepção antropológica de inspiração cristã que valoriza cada um desses rapazes como aquilo que são: pessoas, e não simples alunos ou futuros consumidores.

Recebemos subsídios do Conselho Geral da Cidade de Marselha, mas ainda continuamos precisando da ajuda de muitos particulares para podermos ajudar os rapazes, como é o caso de um que me recordo. Seus pais haviam falecido e estava sob a guarda de uma tia sua doente. Nós professores não sabíamos o que fazer para motivá-lo intelectualmente. Mas agora, depois de dois meses de atenção por parte dos tutores da “Jovens Mais”, já superou essa situação, ao ver que existiam pessoas que se ocupavam dele. Para a direção da escola foi um milagre. É um caso um pouco extremo, mas serve para compreender o sentido do nosso trabalho.