Agora começo!

Um psiquiatra do séc. XX, Victor Frankl, convidava as pessoas a comportarem-se “como se vivessem pela segunda vez”. É um conselho que Gianluca Segre, supernumerário italiano do Opus Dei, procura seguir, recordando as palavras de São Josemaria: “Nunc coepi: agora começo!”.

'O caminho da santidade pode ser encontrado em todas as circunstâncias, em todas as horas, em todos os minutos, em cada um dos sessenta segundos, como diria Kipling'.

Conheci o Opus Dei quando era um jovem estudante, pouco antes de começar a Universidade. Impressionaram-me o clima de alegria e o nível humano e profissional de algumas pessoas.

Pertenço à Obra desde o final dos anos 70.

'O caminho da santidade pode ser encontrado em todas as circunstâncias, em todas as horas, em todos os minutos, em cada um dos sessenta segundos, como diria Kipling'.

Que tipo de ajuda você recebeu nesses anos?

Diria, antes de mais nada, que me animaram a retificar o meu caminho continuamente, primeiro como estudante, depois como professor – sou docente de Filosofia em um Instituto de Turim – e finalmente como marido e pai.

Valorizei especialmente a abertura de horizontes na vida, coisa que atribuo à constante formação cristã que recebi.

Lembro-me agora do meu tempo de estudante, quando frequentei uma atividade organizada por um Centro do Opus Dei, em que estudamos os grandes pensadores, clássicos e contemporâneos.

Mas a principal ajuda foi, fundamentalmente, interior: os meios de formação cristã, em especial a direção espiritual, levaram-me, com grande liberdade, a uma contínua descoberta de Deus e da sua presença. Assim, dia após dia, procurei relacionar-me com Ele como a um amigo.

Mas o que acontece quando essa relação ou essa formação sofrem descontinuidade?

Recolocamos a bola em jogo em alguns dos encontros mensais ou semanais que são organizados.

"Dei-me conta de que o grande ideal — mostrar Cristo em toda a realidade humana — exige que eu seja capaz de lutar contra os meus defeitos".

No fundo, a formação cristã que se recebe no Opus Dei é mais ou menos como encher o tanque de gasolina. O carro anda, mas sou eu quem decide para onde.

É outra coisa que gosto na minha vocação. Ser do Opus Dei não supõe ficar fechado em um grupo. Muito pelo contrário: convida-se a pessoa a viver a responsabilidade e a iniciativa pessoal no meio do mundo.

E o que supõe receber tantas coisas?

Tenho recebido tanto que tenho a necessidade de dar o que recebi, porque o bem se difunde por si. Por exemplo, como professor, sugiro metas humanas e cristãs atraentes aos alunos. Uma lição de filosofia ou de história permite tratar de questões éticas e antropológicas que interessam aos alunos.

Às vezes são eles mesmos que entram no tema. Lembro-me que, não faz muito tempo, falando sobre o Concílio de Trento, fizeram-me um monte de perguntas sobre a Confissão, a consciência e o sentido do bem e do mal.

'A principal ajuda foi, fundamentalmente, interior: os meios de formação cristã, em especial a direção espiritual, levaram-me, com grande liberdade, a uma contínua descoberta de Deus e da sua presença. Assim, dia após dia, procurei relacionar-me com Ele como a um amigo'.

Um dos maiores desejos de um cristão deve ser, como nos recordava São Josemaria, “dar doutrina”. Eu procuro fazê-lo com naturalidade, respeitando a consciência de cada um, e ao mesmo tempo sem prejudicar a verdade.

Muitos períodos da história merecem ser analisados com outro espírito. Os meus alunos, por exemplo, sabem que me recuso a tratar a época medieval como um período obscuro. Nem apresento a ciência como algo oposto à fé. Muito pelo contrário.

É sempre uma alegria descobrir que alguns alunos lêem por sua conta os livros que recomendo em aula ou os que eu aconselho para leitura nas férias. Vê-se que têm sede de conhecer a verdade.

Nos últimos anos, junto com outros amigos, organizei alguns cursos chamados “Minimaster”. Neles, estudamos alguns temas de história, de pensamento político ou econômico, bioética, ou de outros aspectos que afetam a ciência, a filosofia e a fé. Todos unidos pelo denominador comum do humanismo cristão.

Juntamente com a minha mulher, tenho tido a alegria de ver que os nossos filhos, acompanhados pelos de outros amigos, participam de um clube para meninos, no qual outros jovens mais velhos organizam atividades de formação e de tempo livre. A formação religiosa está a cargo do Opus Dei.

Dei-me conta de que o grande ideal — mostrar Cristo em toda a realidade humana — exige que eu seja capaz de lutar contra os meus defeitos, como a impaciência ou o nervosismo. Cristo me pede que eu O encontre na minha vida, no meu trabalho, na minha família.

O caminho da santidade pode ser encontrado em todas as circunstâncias, em todas as horas, em todos os minutos, em cada um dos sessenta segundos, como diria Kipling. Convencido disso, posso começar cada dia com novo ânimo e nova esperança.

Assim, a aventura da vida continua.