Abraçando a cruz do câncer: Jessica van Leeuwen

A história de Jessica, fazendeira, mãe de 6, e sua batalha contra um câncer no cérebro.

Jessica com seu marido Norbert

Os visitantes deste site devem ter visto um vídeo com cenas da visita do Prelado do Opus Dei, Mons. Fernando Ocariz, à Nova Zelândia em agosto do ano passado. A miniatura do vídeo mostra Jessica van Leeuwen, mãe de 6, que estava então lutando contra uma forma agressiva de câncer no cérebro.

Muitas pessoas de diversos países ficaram tocadas pela paz e alegria que a mulher de 40 anos irradiava diante do diagnóstico que lhe dava, no máximo, mais um ano de vida. Todas essas pessoas se uniram a ela em oração pedindo por uma cura milagrosa, mas Deus tinha outros planos. Em 30 de abril de 2024, Jessica faleceu no Hospital Waikato acompanhada de seu marido, Norbert, e sua mãe, Linda.

Jessica era a mais velha dos quatro filhos de Linda e Geoff Deane, fazendeiros no distrito de Waikato na Nova Zelândia. Seus irmãos mais novos lembram dela como uma irmã mais velha protetora e amorosa, uma pacificadora em meio às brigas de irmãos. “Vendo os filhos da Jess agora”, diz o mais novo, “vejo muito de nós neles. Tomas, Anastasia e Marie estão sempre cuidando dos mais novos, puxaram os modos amorosos da mãe”.

Enquanto estudava biologia e química na Universidade de Waikato no início dos anos 2000, Jessica fez amizade com alguns membros do Opus Dei e colaborou com projetos organizados pelo Centro de Estudos Rimbook em Hamilton. Esta amizade a ajudou a redescobrir a fé Católica que seus pais lhe ensinaram, e por fim discerniu sua vocação como supernumerária.

Em 2009 ela se casou com Norbert, que tinha migrado da Holanda para a Nova Zelândia 5 anos antes. Na época ela tinha começado um PhD, e poderia ter iniciado uma carreira científica, mas por seu amor à terra, ela escolheu uma vida de família com Norbert em sua própria fazenda de laticínios. Lá ela trabalhou duro: administrando a fazenda enquanto Norbert trabalhava na cidade, atendendo as necessidades diárias de seus filhos, concluindo seu doutorado e criando um rebanho de uma raça premiada de vacas.

Ela estava muito feliz por descobrir, através da Obra, que o trabalho diário pode ser oração e ajudar-nos a ser santos. Muitos acreditam que ela alcançou este objetivo.

Jéssica com o Prelado do Opus Dei durante sua visita à Nova Zelândia em 2023

Os que se reuniram para sua Missa de Réquiem na Igreja de São José em Morrinsville ouviram que Jess amava trabalhar. Ela sempre respondia a pedidos de oração com “Oferecerei meu trabalho por isso”. Durante um retiro rural em Brookslands, ela passou seu tempo livre borrifando ervas. “Não acha que deveria descansar?”, perguntaram. “O que você quer dizer?”, ela respondeu. “Isto é relaxante para mim”.

Os amigos testemunharam sua grande cordialidade e capacidade de conectar com os outros. Durante seus anos de mestrado, ela foi à Califórnia para uma conferência. Enquanto caminhava pela praia de manhã cedo, ela parou para conversar com uma mulher mais velha, falando da bela manhã e de como ela gostava de ver o mar do outro lado do pacífico. Ao final da conversa, a mulher olhou fixamente para ela e lhe agradeceu. Ela tinha ido à praia tão triste naquela manhã que estava decidida a ir até o mar e acabar com a própria vida. “Então encontrei você e percebi que a vida ainda é bela”, disse à jovem neozelandesa.

“Um encontro casual, uma conversa de 10 minutos, Jess mudava as pessoas. Sua conexão sincera com as pessoas era realmente especial”, disse sua amiga Anne. “Acho que ela tocou muitas, muitas pessoas desse mesmo jeito”.

Ela era uma amiga fiel que sempre encontrava uma maneira de sorrir e irradiar alegria. “Ela era como uma irmã para mim”, disse Sarah, que no último ano coordenava esforços familiares e comunitários para ajudar a família van Leeuwen. “Ela não pensava em si mesma, cuidava das pessoas e das almas. Poder passar mais tempo com ela foi um grande privilégio e uma verdadeira lição de confiança em Deus, mesmo quando as coisas não estão dando certo”.

Sendo mãe de uma família em crescimento e tendo vacas para ordenhar, Jess tinha que abrir mão de algumas coisas. E muito frequentemente era do trabalho de casa. Entre sair do curral e colocar as crianças no carro para uma viagem, ela esquecia de pentear os cabelos. Seus posts no Facebook poderiam ser um pouco sinceros demais.

“Jess nos mostrou que um santo não é alguém extremamente perfeito”, disse Anne. “Um santo é uma pessoa que ama, que Deus usa para alcançar as pessoas.” A filha mais velha da Jessica, Anastasia, de 11 anos, disse à sua avó: “Se a mamãe for santa, então será uma santa para fazendeiros e mães”.

Jessica com sua família

Jessica tinha esperança e rezava por uma cura, fazendo os tratamentos que podia e contando com a ajuda da Bem-aventurada Guadalupe Ortiz, outra cientista e trabalhadora. Seu filho mais novo, Nico, tinha apenas oito meses quando ela foi diagnosticada. “Ela queria viver mais tempo pelo bem de seus filhos” disse Norbert. Ao mesmo tempo, ela dizia às pessoas: “Seja o que Deus quiser. Tudo o que eu quero é que minha família vá para o céu. Eu só quero que todo mundo vá para o céu”.

Em um encontro durante a visita de Mons. Fernando Ocáriz no ano passado, Jessica disse que estava “feliz por ter essa cruz” e perguntou como poderia convencer os outros de que abraçar a vontade de Deus nos faz felizes.

Após notar a importância da convicção pessoal e do exemplo, o Padre admitiu que, humanamente falando, este tipo de alegria era difícil de entender. “Mas é uma grande verdade sobrenatural, porque toda salvação, toda união com Deus e portanto toda felicidade vem da Cruz de Cristo”.

Estas palavras ecoaram na homilia do capelão do hospital, Padre Danny Fraser-Jones, durante a Missa do funeral. Tratando a questão do “porquê” que inevitavelmente nos perguntamos quando uma pessoa como a Jessica morre “antes do tempo”, ele pontuou a obra da redenção de Cristo na Cruz e relacionou à vocação da Jessica de santificar seu trabalho no Opus Dei.

“A resposta só pode ser encontrada em Cristo, em seu amor por cada um de nós, na obra que faz em nós pessoalmente. Quanto mais próximos estamos de Cristo, mais próximos estamos da resposta. E esta é a tarefa de cada um de nós: trabalhar para nos aproximarmos de Cristo. Nesta luta, começamos a ver como Deus vê, começamos a amar como Deus ama, e isto se chama santidade. Este é o caminho para o Céu que Jessica trilhou, e este é nosso caminho”.

Em sua homenagem à esposa, Norbert destacou algumas de suas frases: “Se puder mostrar aos outros que Deus ama todas as pessoas e todas as almas, fico feliz. Ofereço meu trabalho a Deus... Minhas quedas... Só Deus pode me fazer melhor, estou em Suas mãos”. E talvez algo mais significativo, o ato de fé que São Josemaria ensinou a seus filhos e filhas na Obra: “Omnia in bonum” – Deus tira um bem maior de tudo.

“É difícil deixar você partir”, disse finalmente Norbert, “mas creio firmemente que você está no céu, o lugar para onde sempre quis ir”.

Jessica, agradecemos a sua generosidade, seu coração grande, sua vida e seu amor. Seu trabalho na terra está terminado, mas seu trabalho no céu apenas começou. Interceda por nós, pelos fazendeiros e mães, e por todos que lutam para encontrar Deus em seu trabalho cotidiano, família e vida comunitária: que sejamos também amigos verdadeiros, semeadores de paz e alegria para todos que encontrarmos, e testemunhas da esperança no Céu que ilumina todas as cruzes.

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