“Viajar em busca de aventura está no sangue da minha família. Meu pai foi morar no México com minha mãe quando tinham 25 anos de idade. Ali nascemos meus irmãos e eu. Sempre supus ter um tio indígena. Uma de minhas tias mora em Roma, mas está sempre mudando: todo dia vai de um lugar a outro. E, finalmente, Menchú, minha tia avó, mora na Bolívia há muito tempo. Portanto, esse traço hereditário é algo que vem de longa data. E, como é lógico, finalmente, chegou até mim”.
“Quando o diretor de Foiró, Centro do Opus Dei que frequentava em Sant Cugat, me perguntou se queria ir morar na Eslováquia, respondi: Que brincadeira é essa? Mas, como me disse que não estava brincando, fiquei gelado. Sempre quis começar o trabalho apostólico do Opus Dei em Cuba, país do Caribe e dos charutos, mas quando me disseram que precisavam de numerários na Eslováquia não pude ter outra reação senão a de ficar gelado.”
“Mas, pensando bem, se para dar a volta ao mundo tem-se de passar pela Europa Central, então, após consultar no Atlas onde fica a Eslováquia, disse ao diretor que me agradaria ir para lá. Sua resposta:”Não, não. Assim, nem de brincadeira. Primeiro vá ao oratório rezar. E depois me responde. E então? Finalmente foi um sim”.
“Depois desta conversa, imaginem como foram os dias seguintes. Contar aos meus pais, meus irmãos e aos amigos, preparar os documentos, programar a viagem, equipar-me para o inverno eslavo... Uma aventura”.
“Desde a minha chegada, todos os anos minha família tem vindo visitar-nos em Bratislava. No verão passado, nós retribuímos a visita. Eu e uns dez eslovacos fomos conhecer Barcelona e Torreciudad* no final do verão. Evidentemente, em Sant Cugat nos receberam de braços abertos e não apenas meus pais e irmãos, mas também meus avós, tios e antigos amigos. Um de meus amigos eslovacos, Vajanko, perdeu a mala no avião. E o meu irmão Ferrán emprestou-lhe alguma roupa para esses dias, porque é mais ou menos de mesma altura. Minha mãe, para aliviar um pouco o trauma de Vajanko, procurou dar-lhe uma atenção especial. No segundo dia, já sabia qual era o sorvete que ele mais gostava, e não deixou de servi-lo.”
“Diante dessas manifestações de amizade, Vajanko não quis ficar de braços cruzados e, nesse mesmo mês de dezembro, teve um gesto de gentileza para com minha família, convidando-nos para visitar a sua casa. Como já era (e aqui o frio é intenso) era bastante comum nevar. Por isso, as pessoas tiram os sapatos ao entrar em casa para evitar de sujar ou molhar os tapetes. Por isso, disse aos meus familiares que teriam de tirar os sapatos. A reação imediata de um dos meus irmãos foi: “Vamos lá. Como os japoneses!”. O melhor dessa visita foi um clássico brinde de aguardente, que é costume Eslováquia. Para o meu irmão Ferrán o sabor parecia de Listerine. Atribuo essa diferença de percepção às características próprias de cada cultura. Quando lhes servíamos o presunto espanhol, sentiam sabor de carne crua. E quando os eslovacos experimentaram os doces picantes mexicanos que minha irmã trouxe para mim, sentiam que lhes “queimavam a língua”.
“Minha experiência é que não importa aonde esteja, sempre me encontro com o mesmo ambiente de família. Faço amigos de todos os tipos, mas no fundo bem parecidos (simpáticos, estudiosos, boa gente...). Para que conheçam meus amigos eslovacos envio uma foto que tiramos em Roma, na Semana Santa passada durante o congresso UNIV”.
“Posso resumir assim: a aventura de viajar por Deus é fantástica, esteja onde eu estiver. Aqui na Eslováquia diz-se que všade dobre, doma najlepšie (em todas as partes se está bem, mas em casa se está melhor). E isso é minha vida no Opus Dei: estar sempre em casa ainda que pouco a pouco vá dando a volta ao mundo…”.
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*(N. do T.) Nossa Senhora dos Anjos de Torreciudad (santuário da diocese de Barbastro localizado a 75km da cidade de Huesca, capital da província de mesmo nome, no norte da Espanha.