A vinda do Espírito Santo

Ao chegar o dia de Pentecostes, achavam-se todos eles reunidos no mesmo lugar. Produziu-se então subitamente, lá do céu, um rumor semelhante a uma forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde eles se encontravam instalados. Então ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, consoante o Espírito lhes concedia se exprimissem (Act. 2, 1-4).

Estavam então residindo em Jerusalém judeus piedosos de todas as nações que há debaixo do céu. Logo que se deu este ruído, acudiu muita gente, e ficou pasmada, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua. (...) Então Pedro, apresentando-se com os onze, levantou a voz (...). Os que receberam a sua palavra foram baptizados; e ficaram agregadas a eles, naquele dia, cerca de três mil pessoas (Act 2, 5-6, 14, 41).

«A vinda solene do Espírito Santo no dia de Pentecostes não foi um acontecimento isolado. Não há quase nenhuma página dos Atos dos Apóstolos em que não se fale dEle e da ação com que guia, dirige e anima a vida e as obras da primitiva comunidade cristã: é Ele quem inspira a pregação de São Pedro , quem confirma os discípulos na fé , quem sela com a sua presença a chamada dirigida aos gentios , quem envia Saulo e Barnabé a terras distantes para abrirem novos caminhos à doutrina de Jesus. Numa palavra, sua presença e sua ação dominam tudo.

Esta realidade profunda que o texto da Escritura Santa nos dá a conhecer não é uma recordação do passado, uma idade de ouro da Igreja que tenha ficado para trás, na história. Elevando-se acima das misérias e dos pecados de cada um de nós, é também a realidade da Igreja de hoje e da Igreja de todos os tempos. Eu rogarei ao Pai - anunciou o Senhor aos seus discípulos - e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco eternamente. Jesus manteve as suas promessas: ressuscitou, subiu aos céus e, em união com o Pai Eterno, envia-nos o Espírito Santo para que nos santifique e nos dê a vida».

É Cristo que passa, nn. 127-128

«Viver segundo o Espírito Santo é viver de fé, de esperança, de caridade: é deixar que Deus tome posse de nós e mude pela raiz os nossos corações, para os moldar à sua medida. Uma vida cristã amadurecida, profunda e rija, não é coisa que se improvise, porque é fruto do crescimento da graça de Deus em nós. Nos Atos dos Apóstolos, descreve-se a situação da primitiva comunidade cristã numa frase breve, mas cheia de sentido: Perseveravam todos na doutrina dos Apóstolos, na participação da fração do pão e na oração (Act. 2, 42) (…).

Não há cristãos de segunda categoria, obrigados a pôr em prática apenas uma versão reduzida do Evangelho: todos recebemos o mesmo Batismo e, se bem que exista uma ampla diversidade de carismas e de situações humanas, um só é o Espírito que distribui os dons divinos, uma só a fé, a esperança, a caridade (Cfr. 1 Cor. 12, 4-6 e 13, 1-13).

Podemos, pois, tomar como dirigida a nós a pergunta do Apóstolo: Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito Santo habita em vós? , e recebê-la como convite para uma relação mais pessoal e direta com Deus. Infelizmente, para alguns cristãos, o Paráclito é o Grande Desconhecido: um nome que se pronuncia, mas que não é Alguém - uma das três Pessoas do único Deus -, com quem se fala e de quem se vive.

Ora, é preciso que procuremos a sua intimidade com assídua simplicidade e com confiança, como a Igreja nos ensina a fazê-lo através da Liturgia. Assim conheceremos melhor a Deus e ao mesmo tempo compreenderemos mais plenamente o imenso dom que significa chamar-se cristão: compreenderemos toda a grandeza e toda a verdade desse endeusamento, dessa participação na vida divina a que antes me referia».

É Cristo que passa, n. 134