A “teologia do burrinho”

No começo dos anos trinta, o Fundador do Opus Dei dirigiu-se a Nosso Senhor na igreja do Patronato de Santa Isabel com estas palavras: - Aqui tens o teu burrinho sarnento. E ouviu como resposta estas delicadas palavras: “um burrinho foi o meu trono em Jerusalém”.

O burrinho, dócil, humilde e trabalhador, é desde sempre tido em simpatia por São Josemaria que se considerava a si mesmo como um burrinho, “ut iumentum”.

Apresentamos outras palavras suas sobre a “teologia do burrinho”.

Pensemos nas características do jumento, agora que vão ficando tão poucos. Não no burro velho e teimoso, rancoroso, que se vinga com um coice traiçoeiro, mas no burrinho jovem, de orelhas esticadas como antenas, austero na comida, duro no trabalho, de trote decidido e alegre. Há centenas de animais mais belos, mais hábeis e mais cruéis. Mas Cristo escolheu esse para se apresentar como rei diante do povo que o aclamava. Porque Jesus não sabe o que fazer com a astúcia calculista, com a crueldade dos corações frios, com a formosura vistosa mas oca. Nosso Senhor ama a alegria de um coração jovem, o passo simples, a voz sem falsete, os olhos limpos, o ouvido atento à sua palavra de carinho. É assim que reina na alma.

É Cristo que passa, 181

Bendita perseverança a do burrico de nora! - Sempre ao mesmo passo. Sempre as mesmas voltas. - Um dia e outro; todos iguais.
Sem isso, não haveria maturidade nos frutos, nem louçania no horto, nem teria aromas o jardim.
Leva este pensamento à tua vida interior.

Caminho, 998

Oxalá adquiras - queres alcançá-las! - as virtudes do burrico!: humilde, duro para o trabalho e perseverante, teimoso!, fiel, seguríssimo no seu passo, forte e - se tiver bom dono - agradecido e obediente.

Forja, 380

Continua a considerar as virtudes do burrico, e repara que o jumento, para fazer alguma coisa de proveito, tem que deixar-se dominar pela vontade de quem o guia...: sozinho, não faria senão... burradas. Com certeza que não lhe ocorre outra coisa melhor do que revolver-se no chão, correr para o estábulo... e zurrar.
Ah Jesus! - diz-Lhe tu também -: "Ut iumentum factus sum apud te!" - fizeste-me teu burriquinho: não me largues, "et ego semper tecum!" - e estarei sempre Contigo. Conduz-me fortemente atado com a tua graça: "tenuisti manum dexteram meam" ... - apanhaste-me pelo cabresto; "et in voluntate tua deduxisti me" ... - e faz-me cumprir a tua Vontade. E assim te amarei pelos séculos sem fim! - "et cum gloria suscepisti me!" .

Forja, 381

Menino, pobre burrico: se, com Amor, o Senhor limpou as tuas negras costas, habituadas ao esterco, e te carrega com arreios de seda, e sobre eles coloca jóias deslumbrantes, pobre burrico!, não esqueças que “podes”, por tua culpa, jogar a bela carga ao chão..., mas tu sozinho “não podes” voltar a carregá-la sobre ti.

Forja, 330

Olha como é humilde o nosso Jesus: um burrico foi o seu trono em Jerusalém!...

Caminho, 606

Bem te entendi quando concluías: - Decididamente, quase não chego a burrico..., ao burrico que foi o trono de Jesus para entrar em Jerusalém: fico fazendo parte do montãozinho vil de trapos sujos, que o trapeiro mais pobre despreza.
Mas comentei-te: - No entanto, o Senhor escolheu-te e quer que sejas seu instrumento. Por isso, o fato - real - de te veres tão miserável tem de converter-se em mais uma razão para agradeceres a Deus a sua chamada.

Forja, 607