A multidão que fluía da Praça de São Pedro, em Roma e se espraiava, inundando a Via della Conciliazione, no Domingo, 6 de Outubro de 2002, era um testemunho palpável do apelo de S. Josemaria Escrivá, cujo ensinamento constante foi o de que a santidade é para todos.
É especialmente significativo o fato de a canonização do novo santo acontecer em 2002, ano do quadragésimo aniversário do Concílio Vaticano II. Este Concílio deu especial ênfase à ideia da chamada universal à santidade: cada um de nós é chamado a ser santo.
São Josemaria apresentou um caminho de santidade que é acessível a todos. O seu ensinamento fundamental é que “qualquer atividade humana se pode converter em lugar de encontro com Deus” (in: Breve Apostólico da Beatificação do Venerável Servo de Deus, Josemaria Escrivá).
A sua mensagem é simples mas eficiente: os leigos são chamados à santidade no lugar em que Deus os colocou, quer sejam pais, mães, políticos, advogados, operários ou treinadores de cães. Diz também aos homens e mulheres comuns que querem ser santos: tendes de vos identificar com Cristo no dia a dia das vossas vidas.
Neste aspecto, pode ver-se alguma semelhança dos seus ensinamentos com os de Yves Congar, Cardign e de outros arquitetos da teologia do laicado que confluíram no Vaticano II.
Nos primeiros tempos do seu sacerdócio, este santo foi considerado como um radical, por causa das suas ideias sobre o laicado. Naqueles tempos tinha-se a ideia de que apenas sacerdotes e freiras poderiam ser santos.
A ideia de que podemos ser santos pela fidelidade às nossas responsabilidades cotidianas fundamenta-se numa profunda aceitação da vontade de Deus nas nossas vidas.
Como jovem e como sacerdote, a repetida oração de S. Josemaria era: “Senhor, que eu veja, Senhor que se faça”. Para obter a graça de “ver” e a graça de pôr em prática o que via, Josemaria confiava no poder do Espírito Santo e na intercessão da Santíssima Virgem Maria.
A vida corrente de um cristão que tem fé, escrevia o santo, quando trabalha ou descansa, quando reza ou dorme, em todos os momentos, é uma vida em que Deus está sempre presente
“A vida corrente de um cristão que tem fé, escrevia o santo, quando trabalha ou descansa, quando reza ou dorme, em todos os momentos, é uma vida em que Deus está sempre presente” (Josemaria Escrivá, Meditação, 3 de Março de 1954).
Claro que devemos procurar esta presença nas nossas vidas, e S. Josemaria insistia em dois modos de tornar real nas nossas vidas a presença de Deus: a oração, especialmente a Eucaristia, e a aceitação da Cruz de Cristo.
A oração, além de dar glória a Deus, unifica as nossas vidas: a oração leva-nos a Deus, tudo se faz oração e toda a espécie de trabalho se torna oração.
Para quem vive uma vida cristã, a Cruz de Cristo é uma realidade bem presente. Aceitamos a cruz como um modo de purificação, sabendo que nos conduzirá à luz, à paz e à alegria.
Ao fundar o Opus Dei, o santo pensou em leigos piedosos, cultos, bem formados, bem integrados, bem inseridos, presentes em todos os estratos sociais, leigos dedicados, que se esforçariam por alcançar a santidade pessoal pondo Cristo no coração de todas as atividades humanas, e que aceitariam o mandato de evangelizar o mundo.