A esmola

Trazemos alguns pontos dos escritos de São Josemaria sobre a generosidade

Não viste os fulgores do olhar de Jesus quando a pobre viúva deixou no templo a sua pequena esmola?

- Dá-Lhe tu o que puderes dar; não está o mérito no pouco nem no muito, mas na vontade com que o deres.

Caminho, 829

Escreves-me: - “Regra geral, os homens são pouco generosos com o seu dinheiro. Conversas, entusiasmos ruidosos, promessas, planos. À hora do sacrifício, são poucos os que "metem ombros". E, se dão, há de ser com uma diversão de permeio - baile, bingo, cinema, coquetel - ou com anúncio e lista de donativos na imprensa”.

- O quadro é triste, mas tem exceções. Sê tu também dos que não deixam que a mão esquerda saiba o que faz a direita, quando dão esmola.

Caminho, 466

A esmola dada aos pobres é um testemunho de caridade fra­terna; é também uma prática de justiça que agrada a Deus.(Catecismo da Igreja Católica, 2462)

A esmola não é “cumprir”

Tu e eu estamos em condições de esbanjar carinho a mãos cheias entre os que nos rodeiam, porque nascemos para a fé pelo Amor do Pai. Pedi ousadamente ao Senhor este tesouro, esta virtude sobrenatural da caridade, para levá-la à prática até o seu último detalhe.

Com freqüência nós, os cristãos, não soubemos corresponder a esse dom; às vezes o rebaixamos, como se não passasse de uma esmola sem alma, fria; ou o reduzimos a atitudes de beneficência mais ou menos formalista. Exprimia bem esta aberração a resignada queixa de uma doente: Aqui tratam-me com caridade, mas minha mãe cuidava de mim com carinho. O amor que nasce do coração de Cristo não pode dar lugar a esse gênero de distinções.

Para que esta verdade se gravasse de uma forma plástica na vossa cabeça, preguei em milhares de ocasiões que nós não possuímos um coração para amar a Deus e outro para querer bem às criaturas: este nosso pobre coração, de carne, ama com um carinho humano que, se estiver unido ao amor de Cristo, é também sobrenatural. Esta e não outra é a caridade que devemos cultivar na alma, a que nos levará a descobrir nos outros a imagem de Nosso Senhor.

Amigos de Deus, 229

Com excesso, sem cálculo, sem fronteiras

Gosto de repetir umas palavras que o Espírito Santo nos comunica através do profeta Isaías: Discite benefacere, aprendei a fazer o bem. Costumo aplicar este conselho aos diversos aspectos da nossa luta interior, porque a vida cristã nunca se pode dar por terminada, uma vez que o crescimento nas virtudes surge como conseqüência de um empenho efetivo e cotidiano.

Numa ocupação qualquer da sociedade, como é que aprendemos? Primeiro, examinamos o fim desejado e os meios necessários para atingi-lo. Depois, perseveramos repetidas vezes na utilização desses recursos, até criarmos um hábito, arraigado e firme. No momento em que aprendemos alguma coisa, descobrimos outras que ignorávamos e que constituem um estímulo para continuarmos esse trabalho sem nunca dizer que basta.

A caridade com o próximo é uma manifestação de amor a Deus. Por isso, não podemos estabelecer limite algum ao nosso esforço por melhorar nessa virtude. Com o Senhor, a única medida é amar sem medida. Por um lado, porque nunca chegaremos a agradecer bastante o que Ele fez por nós; por outro, porque o próprio amor de Deus pelas suas criaturas se revela assim: com excesso, sem cálculo, sem fronteiras.

No Sermão da Montanha, Jesus ensina o preceito divino da caridade a todos os que estão dispostos a abrir-lhe os ouvidos da alma. E, ao concluir, explica como resumo: Amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai sem esperar nada em troca, e será grande a vossa recompensa, e sereis filhos do Altíssimo, porque Ele ébom mesmo com os ingratos e os maus. Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso.

A misericórdia não se detém numa estrita atitude de compaixão; a misericórdia identifica-se com a superabundância da caridade, que por sua vez arrasta consigo a superabundância da justiça. Misericórdia significa manter o coração em carne viva, humana e divinamente transido de um amor firme, sacrificado, generoso. Assim comenta São Paulo a caridade, no seu cântico a essa virtude: A caridade é paciente, é benigna; a caridade não é invejosa, não age precipitadamente, não se ensoberbece, não é ambiciosa, não busca os seus interesses, não se irrita, não pensa mal, não se alegra com a injustiça, mas compraz-se na verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo sofre.

Amigos de Deus, 232