A alegria de saber-se filho de Deus

São Josemaria era uma pessoa alegre. Qual era o segredo do seu constante bom humor? Pierluigi Bartolomei explica-nos; é casado, pai de quatro filhos e foi ator, cantor, imitador. Agora é o Diretor da Escola de Formação Profissional do Centro Elis, em Roma.

O Opus Dei, explica Pierluigi, ajudou-me a reforçar o meu caráter alegre e criativo. O ponto de partida foi ter percebido uma idéia importante que está na base dos ensinamentos de São Josemaria: a filiação divina. A partir do momento em que compreendi o que significa ser filho de Deus, não há mais razões para ficar triste.

Então o cristão deveria ser fundamentalmente otimista?

Com base na minha experiência pessoal, sem dúvida! Houve momentos difíceis na minha vida particular ou profissional. Mas, graças à formação recebida na Obra e ao fato de saber-me filho de Deus, consegui vencer as dificuldades. O Senhor concedeu-me sempre a ajuda que precisava; nunca me deixou só.

Uma boa vida espiritual ajuda a ser alegre?

Para responder a essa pergunta é preciso em primeiro lugar refletir sobre os motivos da nossa tristeza. Poderá ser um desentendimento com um amigo, um familiar, um colega ou um vizinho. Acontece isso também com Deus. Se a nossa consciência nos diz que agimos mal, perdemos o nosso sorriso. Cortamos os vínculos com o Senhor. Produz-se uma espécie de doença geral e o nosso coração é invadido pela obscuridade.

E como reacender a luz e encontrar de novo a alegria?

Felizmente, para nós, temos a confissão, que nos ajuda a reconciliar-nos com Deus. São Josemaria estava sempre alegre porque acreditava nesta relação amigável, constante e pessoal com o Senhor. Repetia que era pecador, mas sabia contar com a misericórdia de Deus, nosso Pai, e nos convidava a começar e a recomeçar sempre, sem nunca nos deixarmos abater por uma queda. Penso que é um ótimo conselho, que pode nos ajudar a não perder nunca o otimismo.

Como São Josemaria definia a alegria?

Como uma qualidade importante para transmitrmos aos outros. E, além disso, sempre que encontrava pessoas, ele as encorajava e lhes transmitia um grande amor à vida. A alegria tem um papel fundamental na vocação para o Opus Dei, que é um convite a não se isolar do mundo. Uma pessoa sorridente tem mais facilidade de aproximar as pessoas de Deus e, por isso, é um instrumento apostólico precioso.

É possível ser sempre alegre, mesmo com as dificuldades da vida?

É evidente que a alegria nada tem a ver com a bobice ou com a inconsciência. Sabemos bem que a vida reserva-nos momentos difíceis ou incertos, que nos podem pôr à prova. O que conta é a serenidade interior. Como já disse, é uma força que nasce da consciência de ser filho de Deus.

Mas o que significa, concretamente, ser filho de Deus?

Explico com um exemplo. As crianças muitas vezes têm medo. Nada sabem sobre a vida e ficam inquietas em relação a algo novo ou a qualquer coisa que não compreendem. Quando a minha filha tem medo, pego-a no colo e lhe digo: "Não tenha medo, querida; o papai está aqui para te defender; ninguém vai te fazer mal". Então ela se acalma e não terá medo de nada. O mesmo acontece com Deus, que nos embala nos Seus braços cheios de ternura. Se estivermos em paz com Ele, nada temos a recear. A alegria está assegurada. É por isso que São Josemaria estava sempre alegre e transmitia aos outros a sua alegria interior.

Também procura transmitir isso à sua família?

Procuro fazê-lo, ajudado pela Manuela, minha esposa, e com um pouco de imaginação. Procuramos reservar uns momentos para brincar com os nossos filhos. Aos domingos, por exemplo, dançamos ao ritmo de músicas sul-americanas. À noite, depois de jantar, ficamos na sala de estar para conversar, brincar e nos divertir. Isso nos ajuda a não dramatizar os problemas e as tensões quotidianas. Se há dificuldades, esforçamo-nos por analisá-las sob uma ótica positiva. Outro momento importante é o que nós chamamos de “clube de leitura”: nas noites de quarta-feira, arranjamos um canto simpático em algum local da casa, com aperitivos e algumas bebidas, a fim de conseguir um ambiente propício para ler um bom livro.

E a televisão?

Julgo que o mau uso da televisão não favorece a alegria. Antigamente conversava-se mais tempo em família; as pessoas encontravam-se para contar as suas aventuras pessoais, para pedir conselho e tinham atenção entre si. Hoje, infelizmente, a televisão substitui muitas vezes a comunicação em família e mata as conversas. Nós procuramos criar alternativas à televisão, como as que já destaquei, ou ainda o nosso teatro de marionetes: são as crianças que inventam a sua própria história e encenam. É interativo e divertido.

Pode-se então estar alegre com pouca coisa?

Sem dúvida, na realidade não é preciso grande coisa. Algumas personagens ligadas a um fio são suficientes para montar um pequeno teatro e inventar uma quantidade infinita de histórias. Tudo isso está contido no espírito do Opus Dei e nos ensinamentos do Fundador, que nos convidava a santificar o dia-a-dia. De modo simples, sem procurar fazer coisas que saiam do habitual. Pode-se encontrar a alegria, como nós procuramos fazer, na leitura de um livro, numa conversa na sala, uma fábula inventada ou tirada da manga da camisa, numa dança sul-americana! É a grandeza da vida corrente, que São Josemaria nos ensinou a descobrir.