14 questões sobre a família

O que é a família? Como ser bom pai e boa mãe? Que papel tem a família na educação dos filhos? Como conjugar a autoridade e a liberdade? Como viver a confiança mútua no dia a dia?

1- Como fazer para que o amor esteja presente na vida familiar?

2- Como ser bom pai e boa mãe de família?

3- O ambiente que rodeia os filhos, tem também influência na sua educação, no seu modo de ver as coisas. Que papel tem a família na educação dos filhos?

4- Como solucionar a falta de tempo que sentem muitos pais nos dias de hoje para estar com os filhos, para a vida familiar? Muitas vezes, quando a mãe tem um trabalho fora de casa pesam sobre ela os trabalhos da casa, e quando permanece a tempo inteiro dedicada à família, sente-se limitada nas suas possibilidades. Que diria às pessoas que experimentam estas contradições? Como conciliar a vida profissional e a familiar?

5- Educar, na prática, não é tarefa fácil. Pode dizer-nos algumas ideias chaves para a educação dos filhos?

6- Como aliar a autoridade e a liberdade?

7- Pode concretizar mais o que significa a confiança e a compreensão entre pais e filhos? Como viver a confiança mútua no dia-a-dia?

8- Existe alguma justificação para a atitude que às vezes têm os pais em querer impor aos filhos a escolha de carreira ou de trabalho, de namorado ou de um determinado modo de vida, opondo-se às vezes a que estes sigam o chamamento de Deus para se dedicarem ao serviço das almas? Não seria melhor deixar-lhes liberdade para chegarem à maturidade pessoal?

9- Ter uma família estável, com paz, é sem dúvida desejo de todos. Mas na convivência diária no casamento e na família surgem pequenas questiúnculas ou grandes discussões, dificuldades mais ou menos objetivas e muitas vezes diversidade de pareceres e de opiniões entre pais e filhos. Que fazer para superar essas situações e conflitos familiares?

10- Que fazer quando um filho propõe aos pais uma entrega total a Deus?

11- Falamos do papel dos pais, mas que devem fazer os filhos pela família?

12- Como se manifesta a fé na família?

13- É importante a oração em família?

14- É conveniente que a família reze unida?


1. Como fazer para que o amor esteja presente na vida familiar?

Ao pensar nos lares cristãos, gosto de imaginá-los luminosos e alegres, como foi o da Sagrada Família. Cada lar cristão deveria ser um remanso de serenidade em que, por cima das pequenas contrariedades diárias, se pudesse notar uma afeição profunda e sincera, uma tranquilidade profunda, fruto de uma fé real e vivida.

Os casados estão chamados a santificar o seu matrimônio e a santificar-se a si próprios nessa união; por isso, cometeriam um grave erro se edificassem a sua conduta espiritual de costas para o lar, à margem do lar. A vida familiar, as relações conjugais, o cuidado e a educação dos filhos, o esforço necessário para manter a família, para garantir o seu futuro e melhorar as suas condições de vida, o convívio com as outras pessoas que constituem a comunidade social, tudo isso são situações humanas, comuns, que os esposos cristãos devem sobrenaturalizar.

A fé e a esperança têm que manifestar-se na serenidade com que se encaram os problemas, pequenos ou grandes, que surgem em todos os lares, no ânimo alegre com que se persevera no cumprimento do dever. Assim, a caridade inundará tudo e levará a compartilhar as alegrias e os possíveis dissabores, a saber sorrir, esquecendo as preocupações pessoais para atender os demais; a escutar o outro cônjuge ou os filhos, mostrando-lhes que são queridos e compreendidos de verdade; a não dar importância a pequenos atritos que o egoísmo poderia converter em montanhas; a depositar um amor grande nos pequenos serviços de que se compõe a convivência diária.

Santificar o lar, dia a dia; criar, com o carinho, um autêntico ambiente de família: é disso que se trata. Para santificar cada jornada, é preciso praticar muitas virtudes cristãs; em primeiro lugar, as teologais, e depois todas as outras: a prudência, a lealdade, a sinceridade, a humildade, o trabalho, a alegria...

Queres um segredo para seres feliz? Dar-se e servir os outros, sem esperar que to agradeçam.

2. Como ser bom pai e boa mãe de família?

Se tivesse que dar um conselho aos pais, dir-lhes-ia sobretudo o seguinte: que os vossos filhos vejam - não alimenteis ilusões, eles percebem tudo desde crianças e tudo julgam - que procurais viver de acordo com a vossa fé, que Deus não está apenas nos vossos lábios, que está nas vossas obras, que vos esforçais por ser sinceros e leais, que vos quereis e os quereis de verdade.

Os pais educam fundamentalmente com a sua conduta. O que os filhos e as filhas procuram no pai e na mãe não são apenas uns conhecimentos mais amplos que os seus, ou uns conselhos mais ou menos acertados, mas algo de maior categoria: um testemunho do valor e do sentido da vida encarnado numa existência concreta, confirmado nas diversas circunstâncias e situações que se sucedem ao longo dos anos.

Para mim, não existe exemplo mais claro dessa união prática entre a justiça e a caridade que o comportamento das mães. Amam com o mesmo carinho todos os seus filhos, e precisamente esse amor as leva a tratá-los de modo diferente - com uma justiça desigual -, já que cada um é diferente dos outros.

Assim contribuireis da melhor forma possível para fazer deles cristãos verdadeiros, homens e mulheres íntegros, capazes de enfrentar com espírito aberto as situações que a vida lhes apresente, de servir aos seus concidadãos e de contribuir para a solução dos grandes problemas da humanidade, levando o testemunho de Cristo aonde quer que se encontrem mais tarde, na sociedade.

3. O ambiente que rodeia os filhos, tem também influência na sua educação, no seu modo de ver as coisas. Que papel tem a família na educação dos filhos?

Os pais são os principais educadores de seus filhos, tanto no aspecto humano como no sobrenatural, e devem sentir a responsabilidade dessa missão, que exige deles compreensão, prudência, saber ensinar e sobretudo saber amar; e que se empenhem em dar bom exemplo. Não é caminho acertado para a educação a imposição autoritária e violenta. O ideal dos pais concretiza-se antes em chegarem a ser amigos dos filhos: amigos a quem se confiam as inquietações, a quem se consultam os problemas, de quem se espera uma ajuda eficaz e amável.

A paternidade e a maternidade não terminam com o nascimento: essa participação no poder de Deus, que é a faculdade de gerar, deve prolongar-se mediante a cooperação com o Espírito Santo, para que culmine com a formação de autênticos homens cristãos e autênticas mulheres cristãs.

4. Como solucionar a falta de tempo que sentem muitos pais nos dias de hoje para estar com os filhos, para a vida familiar? Muitas vezes, quando a mãe tem um trabalho fora de casa pesam sobre ela os trabalhos da casa, e quando permanece a tempo inteiro dedicada à família, sente-se limitada nas suas possibilidades. Que diria às pessoas que experimentam estas contradições? Como conciliar a vida profissional e a familiar?
O caso levantado acerca da mulher, não é extraordinário: com outras peculiaridades, muitos homens sentem algo de semelhante algumas vezes.

Em todo caso, também é preciso pôr em prática pequenos remédios, que parecem banais, mas que não o são: quando há muitas coisas a fazer, é necessário estabelecer uma ordem, impõe-se organizar a vida.

É necessário que os pais consigam tempo para estar com os filhos e falar com eles. Os filhos são o que há de mais importante: são mais importantes que os negócios, que o trabalho, que o descanso.

Nessas conversas, convém escutá-los com atenção, esforçar-se por compreendê-los, saber reconhecer a parte de verdade - ou a verdade inteira - que possa haver em algumas de suas rebeldias. E, ao mesmo tempo, ajudá-los a canalizar retamente seus interesses e entusiasmos, ensiná-los a considerar as coisas e a raciocinar, não lhes impor determinada conduta, mas mostrar-lhes os motivos sobrenaturais e humanos que a aconselham. Em uma palavra, respeitar-lhes a liberdade, já que não há verdadeira educação sem responsabilidade pessoal, nem responsabilidade sem liberdade.

5. Educar, na prática, não é tarefa fácil. Pode dizer-nos algumas ideias chaves para a educação dos filhos?
O segredo costuma estar na confiança: saibam os pais educar num clima de familiaridade.

Escutai os vossos filhos, dedicai-lhes também o vosso tempo, mostrai-lhes confiança, acreditai no que vos disserem, ainda que uma vez ou outra vos enganem; não vos assusteis com as suas rebeldias, posto que também vós, na mesma idade, fostes mais ou menos rebeldes; saí-lhes ao encontro, até meio do caminho, e rezai por eles. E vereis como recorrerão a seus pais com simplicidade - podeis estar certos, se agis assim cristãmente -, em vez de recorrerem, com suas legítimas curiosidades, a um amigalhaço desavergonhado e brutal. A vossa confiança, a vossa relação amigável com os filhos, receberá em resposta a sinceridade deles para convosco. E isto é a paz familiar, a vida cristã, embora não faltem contendas e incompreensões de pouca monta.

6. Como aliar a autoridade e a liberdade?

Sempre aconselho aos pais que procurem tornar-se amigos dos filhos. Pode-se harmonizar perfeitamente a autoridade paterna, requerida pela própria educação, com um sentimento de amizade, que exige colocar-se de alguma maneira no mesmo nível dos filhos. Os moços — mesmo os que parecem mais rebeldes — desejam sempre essa aproximação, essa fraternidade com os pais. O segredo costuma estar na confiança: saibam os pais educar num clima de familiaridade; não dêem nunca a impressão de que desconfiam; dêem liberdade e ensinem a administrá-la com responsabilidade pessoal.

Os pais podem e devem prestar aos filhos uma ajuda preciosa, descobrindo-lhes novos horizontes. É preferível que se deixem enganar uma vez ou outra: a confiança que se deposita nos filhos faz com que estes se envergonhem de haver abusado e se corrijam; em contrapartida, não se têm liberdade, se vêem que não confiam neles, sentir-se-ão com vontade de enganar sempre.

Quando se trata de coisas que são objeto da liberdade de opinião, como nesses terrenos ninguém pode pretender estar na posse da verdade absoluta, o convívio, cheio de afeto, é um meio concreto para aprender dos outros o que eles nos podem ensinar; e também para que os outros aprendam, se quiserem, o que cada um dos que com eles convivem lhes pode ensinar, que sempre será alguma coisa.

Não é cristão, nem sequer humano, dividir-se uma família por estas questões. Quando se compreende a fundo o valor da liberdade, quando se ama apaixonadamente esse dom divino da alma, ama-se o pluralismo que a liberdade traz consigo.

7. Pode concretizar mais o que significa a confiança e a compreensão entre pais e filhos? Como viver a confiança mútua no dia-a-dia?

Essa amizade de que estou falando, esse saber colocar-se no nível dos filhos, facilitando-lhes que falem confiadamente de seus pequenos problemas, torna possível algo que me parece de grande importância: que sejam os pais quem dê a conhecer aos filhos a origem da vida: de um modo gradual, amoldando-se à sua modalidade e à sua capacidade de compreender, antecipando-se um pouco à sua natural curiosidade. É necessário evitar que os filhos rodeiem de malícia esta matéria, que aprendam uma coisa que em si é nobre e santa através de uma má confidência de um amigo ou de uma amiga. Aliás, isto costuma ser um passo importante para firmar a amizade entre pais e filhos, impedindo uma separação exatamente no despertar da vida moral.

Por outro lado, os pais têm também que procurar manter o coração jovem, para lhes ser mais fácil acolher com simpatia as aspirações nobres e inclusive as extravagâncias dos filhos. A vida muda e há muitas coisas novas que talvez não nos agradem — é mesmo possível que não sejam objetivamente melhores que outras de antes — , mas que não são ruins: são simplesmente outros modos de viver, sem maior transcendência. Em não poucas ocasiões os conflitos aparecem porque se dá importância a ninharias que se superam com um pouco de perspectiva e senso do humor.

8. Existe alguma justificação para a atitude que às vezes têm os pais em querer impor aos filhos a escolha de carreira ou de trabalho, de namorado ou de um determinado modo de vida, opondo-se às vezes a que estes sigam o chamamento de Deus para se dedicarem ao serviço das almas? Não seria melhor deixar-lhes liberdade para chegarem à maturidade pessoal?

Em última instância, é claro que as decisões determinantes do rumo de uma vida, deve tomá-las cada um pessoalmente, com liberdade, sem coação nem pressão de espécie alguma.

Isto não significa que ordinariamente não seja necessária a intervenção de outras pessoas. Precisamente porque são passos decisivos que afetam a vida inteira e porque a felicidade depende em grande parte de como se dêem, é lógico que requeiram serenidade, que se evite a precipitação, que exijam responsabilidade e prudência. E uma parte da prudência consiste precisamente em pedir conselhos. Seria presunção — que se costuma pagar caro — pensar que podemos decidir sem a graça de Deus e sem o calor e a luz de outras pessoas, especialmente de nossos pais.

Os pais podem e devem prestar aos filhos uma ajuda preciosa, descobrindo-lhes novos horizontes, comunicando-lhes a sua experiência, fazendo-os refletir, para que não se deixem arrastar por estados emocionais passageiros, oferecendo-lhes uma apreciação realista das coisas. Umas vezes, prestarão essa ajuda com seu conselho pessoal; outras, animando os filhos a recorrer a outras pessoas competentes: a um amigo sincero e leal, a um sacerdote douto e piedoso, a um perito em orientação profissional.

Mas o conselho não tira a liberdade: dá elementos de opinião; e isso amplia as possibilidades de escolha e faz com que a decisão não seja determinada por fatores irracionais. Depois de se haver escutado os pareceres de outros e de se haver ponderado tudo bem, chega um momento em que é preciso escolher; nessa altura ninguém tem o direito de violar a liberdade. Os pais devem precaver-se contra a tentação de se quererem projetar indevidamente nos filhos — de construí-los segundo as suas próprias preferências — ; devem respeitar as inclinações e as aptidões que Deus dá a cada um. Se há verdadeiro amor, isto, em geral, torna-se simples. Inclusive no caso extremo, quando o filho toma uma decisão que os pais têm fortes motivos para julgar errada e até para prever nela a origem de uma infelicidade, a solução não está na violência, mas em compreender; e — mais uma vez — em saber permanecer ao lado dele, a fim de ajudá-lo a superar as dificuldades e, se necessário, ajudá-lo a extrair desse mal todo o bem possível.

9. Ter uma família estável, com paz, é sem dúvida desejo de todos. Mas na convivência diária no casamento e na família há pequenas questiúnculas ou grandes discussões, dificuldades mais ou menos objetivas, e muitas vezes diversidade de pareceres e de opiniões entre pais e filhos. Que fazer para superar essas situações e conflitos familiares?

Minha resposta não pode ser senão uma: conviver, compreender, desculpar.

Sejamos sinceros: a família unida é o normal. Há atritos, diferenças... Mas isto são coisas banais que, até certo ponto, contribuem inclusive para dar sabor aos nossos dias. São insignificâncias que o tempo supera sempre. Depois, só fica o estável, que é o amor, um amor verdadeiro — feito de sacrifício — e nunca fingido, que os leva a se preocuparem uns com os outros, a adivinhar um pequeno problema e a sua solução mais delicada. E, porque tudo isso é normal, a maior parte das pessoas me entendeu muito bem quando me ouviu chamar dulcíssimo preceito — já o venho repetindo desde a década de 20 — ao quarto mandamento do Decálogo.

O problema é antigo, ainda que talvez agora se apresente com mais freqüência ou de forma mais aguda, por causa da rápida evolução que caracteriza a sociedade atual. É perfeitamente compreensível e natural que os jovens e os adultos vejam as coisas de modo diferente. Sempre foi assim. O mais surpreendente seria que um adolescente pensasse da mesma maneira que uma pessoa madura. Todos sentimos impulsos de rebeldia para com os mais velhos quando começamos a formar nosso critério com autonomia; e todos também, com o passar dos anos, compreendemos que os nossos pais tinham razão em muitas coisas, que eram fruto de sua experiência e de seu amor por nós. Por isso, compete em primeiro lugar aos pais — que já passaram por esse transe — facilitar o entendimento: com flexibilidade, com espírito jovem, evitando esses possíveis conflitos com amor inteligente.

10. Que fazer quando um filho propõe aos pais uma entrega total a Deus?

Os pais que amam deveras e procuram sinceramente o bem de seus filhos, depois dos conselhos e das considerações oportunas, devem-se retirar com delicadeza para que nada prejudique o grande bem da liberdade, que torna o homem capaz de amar e servir a Deus. Devem lembrar-se de que o próprio Deus quer ser amado e servido com liberdade, e respeita nossas decisões pessoais; "Deus deixou o homem — diz a Escritura — nas mãos do seu livre arbítrio" (Eclo 15, 14).

Quando pais católicos não compreendem essa vocação, penso que malograram na sua missão de formar uma família cristã; que nem sequer são conscientes da dignidade que o cristianismo dá à sua própria vocação matrimonial. Além do mais, a experiência que tenho no Opus Dei é muito positiva. Costumo dizer aos sócios da Obra que eles devem noventa por cento de sua vocação a seus pais, porque os souberam educar e os ensinaram a ser generosos. Posso garantir que na imensa maioria dos casos — praticamente na totalidade, os pais não só respeitam mas também amam essa decisão dos filhos, passando a ver a Obra como uma ampliação da sua própria família. É uma das minhas grandes alegrias e uma confirmação mais de que, para sermos muito divinos, temos de ser também muito humanos.

11. Falamos do papel dos pais, mas que devem fazer os filhos pela família?

Os filhos também têm que fazer alguma coisa de sua parte. A juventude sempre teve uma grande capacidade de entusiasmo por todas as coisas grandes, pelos ideais elevados, por tudo que é autêntico. Convém ajudá-los a compreender a beleza despretensiosa — por vezes calada e sempre revestida de naturalidade — que há na vida de seus pais. Que reparem, sem isso lhes causar tristeza, no sacrifício que fizeram por eles, na sua abnegação — muitas vezes heróica — para manterem a família. Aprendam também os filhos a não dramatizar, a não representar o papel de incompreendidos. Não esqueçam que estarão sempre em dívida com os pais e que o modo de corresponderem — já que não podem pagar o que devem — deve ser feito de veneração, de carinho grato, filial.

12. Como se manifesta a fé na família?

A fé e a esperança têm que manifestar-se na serenidade com que se encaram os problemas, pequenos ou grandes, que surgem em todos os lares, no ânimo alegre com que se persevera no cumprimento do dever. Assim, a caridade inundará tudo e levará a compartilhar as alegrias e os possíveis dissabores, a saber sorrir, esquecendo as preocupações pessoais para atender os demais; a escutar o outro cônjuge ou os filhos, mostrando-lhes que são queridos e compreendidos de verdade; a não dar importância a pequenos atritos que o egoísmo poderia converter em montanhas; a depositar um amor grande nos pequenos serviços de que se compõe a convivência diária.

13. É importante a oração em família?

Considero que é precisamente o melhor caminho para dar aos filhos uma autêntica formação cristã. A sagrada Escritura nos fala dessas famílias dos primeiros cristãos — a Igreja doméstica, diz São Paulo (1 Cor. 16, 19) — , às quais a luz do Evangelho dava novo impulso e nova vida.

Em todos os ambientes cristãos se conhecem por experiência os bons resultados que dá essa natural iniciação na vida de piedade, feita ao calor do lar. A criança aprende a colocar o Senhor na linha dos primeiros afetos fundamentais, aprende a tratar a Deus como Pai e a Virgem Maria como Mãe, aprende a rezar seguindo o exemplo dos pais. Quando se compreende isto, vê-se a enorme tarefa apostólica que os pais podem realizar e como têm obrigação de ser sinceramente piedosos, para poderem transmitir — mais do que ensinar — essa piedade aos filhos.

14. É conveniente que a família reze unida?

Tratar-se-á de costumes diversos conforme os lugares; mas penso que sempre se deve fomentar algum ato de piedade, realizado conjuntamente pelos membros da família, de forma simples e natural, sem beatices. Há práticas de piedade — poucas, breves e habituais — que sempre se viveram nas famílias cristãs, e entendo que são maravilhosas: a bênção da mesa, a oração antes e depois das refeições, a recitação do Terço em conjunto (…), as orações pessoais ao levantar e ao deitar.

Dessa maneira conseguiremos que Deus não seja considerado um estranho, a quem se vai ver uma vez por semana na Igreja, ao domingo. Que Deus seja visto e tratado como é na realidade, também no seio do lar, porque, como disse o Senhor, onde estão dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles (Mt 18, 20).

Digo com gratidão e com orgulho de filho, que continuo rezando — de manhã e à noite, e em voz alta — as orações que aprendi quando era criança, dos lábios de minha mãe. Essas orações me levam a Deus, me fazem sentir o carinho com que me ensinaram a dar meus primeiros passos de cristão; e, oferecendo ao Senhor o dia que começa ou dando-Lhe graças pelo que acaba, peço a Deus que aumente na glória a felicidade dos que especialmente amo, e depois nos mantenha unidos para sempre no Céu.


Os textos foram selecionados do livro Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá que reúne sete entrevistas que S. Josemaria concedeu, entre 1966 e 1968, a Le Figaro, The New York Times, Time, L’Osservatore della Domenica e a várias revistas espanholas (Telva, Gaceta Universitaria e Palabra), da homilia , O Matrimônio vocação cristã publicada no livro É Cristo que passa, e trechos do livro Amigos de Deus.

Para saber mais:
Catecismo da Igreja Católica, nn. 2197-2257
A educação dos filhos
10 Perguntas sobre o matrimónio
Carta às Famílias, do Papa João Paulo II
Exortação apostólica Familiaris Consortio