O cristão nos meios de comunicação social

Rev. P. José Maria La Porte, jornalista, Doutor em Teologia e em Comunicação, professor de Comunicação institucional na Universidade Pontifícia da Santa Cruz, Roma

Uma tese de doutorado intitulada “O cristão nos meios de comunicação segundo São Josemaria. Contexto histórico e desenvolvimento espiritual e pastoral”. O autor é o Professor José Maria La Porte, sacerdote e jornalista. Doutor em Teologia e em Comunicação, professor de Fundamentos de Comunicação Institucional e de Media Training na Universidade Pontifícia da Santa Cruz, de Roma

- Porque escolheu este tema?

Porque também eu sou jornalista e estudei na Faculdade de comunicação da Universidade de Navarra, promovida por São Josemaria em 1952. Aí conheci professores extraordinários que tiveram influência decisiva na minha formação. Sempre me interessou conhecer a relação entre esse espírito inconformista e positivo que encontrei nas aulas e o impulso que São Josemaria deu aos primeiros professores.

- De que fontes se serviu para a elaboração da sua tese?

Fundamentalmente baseei-me em materiais já conhecidos, mas o Instituto Histórico São Josemaria Escrivá proporcionou-me alguns escritos e testemunhos que estão em fase de publicação. Além disso, realizei entrevistas a pessoas do mundo da comunicação que conheceram pessoalmente São Josemaria e que se sentem devedoras da sua abertura e do seu amor pela liberdade.

-É possível ser-se um jornalista objetivo quando se tem fé?

A fé cristã é compatível com o exercício rigoroso do jornalismo e com a objetividade. Nenhum jornalista, tenha ou não tenha fé, é capaz de elaborar uma notícia sem pôr em jogo os seus talentos pessoais e convicções. Procurará ser mais ou menos objetivo, mas as suas convicções estão lá. Por isso a fé cristã não é um peso, mas sim uma ajuda porque dá mais razões para encontrar a verdade, o rigor e a objetividade.

- Por que motivo São Josemaria se interessava pela comunicação?

São Josemaria era uma pessoa optimista e animava os cristãos a santificarem o mundo. Seguia com interesse, através dos meios de comunicação, os acontecimentos sociais do seu tempo, primeiro em Espanha e, depois, em Itália. Era uma pessoa informada, lia assiduamente os jornais ou acompanhava as emissões televisivas, e utilizava alguns desses conteúdos para a pregação. Entre outros, um exemplo simpático é o de um dos seus encontros multitudinários em Barcelona em 1972. São Josemaria animava os que o escutavam a serem tenazes na vida espiritual, não se conformando com as derrotas. Como exemplo ilustrativo utilizou as imagens das Olimpíadas de 1972 que tinha visto pela televisão, imitando fisicamente a concentração e o espírito de superação dos atletas.

- E isso tem alguma relação com a vida espiritual?

Os meios de comunicação convertem-se também em caminho para Deus, precisamente porque as realidades terrenas em São Josemaria não são apenas um cenário onde se procura a santidade, onde o homem procura a Deus. As realidades temporais, também os meios de comunicação, devem converter-se em si mesmos em caminho para Deus.

Isso explica que, quando via o telejornal na televisão italiana e observava nas imagens do genérico do programa um globo terrestre girando sobre si próprio, aquela imagem o levasse a rezar pelo apostolado em todo o mundo, ou que às vezes, quando lia o jornal depois de tomar o pequeno almoço, ficasse absorto por momentos a rezar.

Não há oposição entre a vida espiritual e os meios de comunicação?

Se há honestidade profissional, os meios de comunicação podem enriquecer a vida espiritual porque enriquecem o conhecimento humano dos destinatários da informação. Tudo o que aperfeiçoa e enriquece a pessoa, é também uma ajuda para a sua vida espiritual. A relação entre o humano e o divino reflete-se numas palavras pronunciadas por São Josemaria em 1967, durante uma Missa ao ar livre, perante vários milhares de universitários e pessoas vindas de diversas partes do mundo para assistir a esse encontro: “Eu vos asseguro, meus filhos, que, quando um cristão realiza com amor a mais intranscendente das ações diárias, ela transborda de transcendência de Deus. Por isso vos tenho repetido, com insistente martelar, que a vocação cristã consiste em fazer poesia heroica da prosa de cada dia. Na linha do horizonte, meus filhos, parecem unir-se o céu e a Terra. Mas não, onde se unem deveras é nos vossos corações, quando viveis santamente a vida de cada dia…” (Entrevista com Mons. Escrivá, n. 116).

As conclusões da sua tese têm relevância para os profissionais do século XXI?

Sem dúvida, precisamente agora a liberdade de imprensa encontra-se ameaçada em muitos países, como se viu pelas notícias sobre mortes ou ameaças a jornalistas. As gerações de profissionais de informação que estiveram em contato com São Josemaria tinham um amor pela verdade e pela profissão que os levou a pôr em jogo a carreira para defender a objetividade e a independência. António Fontán viu o diário Madrid ser encerrado. Impediram o exercício da profissão a Luís Ignacio Seco durante um tempo apenas por publicar uma entrevista com um conhecido opositor do regime durante o período franquista. José Luís Cebrián e Juan Pablo Villanueva sofreram ataques similares por parte do governo contra o “Nuevo Diario” nos anos 60…

Quando é que a tese será publicada?

Espero que nos próximos meses, em finais de 2007 ou princípios de 2008. Agora estou a trabalhar no original e nas correções para a publicação.