“Encontrarás Dragões” – história de amor e ódio…

O mundo do cinema e da cultura em geral, estão ansiosos para ver o filme “Encontrarás Dragões”, que tem vindo a ser anunciado e que o director Roland Joffé apresenta nesta época primaveril, onde tem um papel protagonista São Josemaria Escrivá, fundador do Opus Dei. “Encontrarás Dragões”, uma referência à antiga expressão cartográfica “There be Dragons”, que significava territórios e situações desconhecidas.

Reproduzimos um artigo de Maria Helena H. Marques, publicado pelo jornal “Diário do Minho”, Portugal

O mundo do cinema e da cultura em geral, estão ansiosos para ver o filme “Encontrarás Dragões”, que tem vindo a ser anunciado e que o director Roland Joffé apresenta nesta época primaveril, onde tem um papel protagonista São Josemaria Escrivá, fundador do Opus Dei.

“Encontrarás Dragões”, uma referência à antiga expressão cartográfica “There be Dragons”, que significava territórios e situações desconhecidas.

Roland Joffé explica que, ao iniciar a pesquisa sobre o tema que se propunha, não sabia o que o esperava nem como acabaria; por isso, `Encontrarás Dragões’ parecia um título apropriado. “Era como se saísse do meu mapa e entrasse em território inexplorado, ao tocar temas como a santidade, religião e política do século XX. Mas tinha-me marcado a afirmação de Josemaria: “Deus é encontrado na vida quotidiana”, e essa vida comum, em seu caso, era a guerra civil espanhola. Perguntei-me: como é possível encontrar o divino na guerra?” Mas a mesma pergunta se pode fazer sobre todos os desafios fundamentais da vida, e sobre o modo como os enfrentamos: como respondemos ao ódio e à rejeição, ao desejo de vingança e justiça. Todos esses dilemas aumentam em tempo de guerra. Esses dilemas são os “dragões” do filme, momentos de tentação nas nossas vidas, em que enfrentamos opções decisivas. “Encontrarás Dragões” fala dessas opções que todas as pessoas assumem nesses momentos de tentações, e do difícil e necessário que é fugir dos ciclos do ódio, ressentimento e violência.

O filme desenrola-se no contexto da Guerra Civil Espanhola que, em certo sentido, é o paradigma da violência que gera violência, a violência sem sentido. Assim, neste cenário de violência fratricida, haverá espaço para a esperança?! O desenrolar do filme mostra que sim… Josemaria, ao afirmar que “as pessoas comuns são capazes de ser santas”, talvez se referisse a esta espécie de perdão heróico. E embora o preço seja alto, a inesgotável possibilidade de perdoar deixa sempre lugar à esperança…

“Encontrarás Dragões” é, sem dúvida, um drama histórico escrito e dirigido em 2011 pelo realizador britânico Roland Joffé. Narra a história de Robert, um jovem jornalista que vive e trabalha em Londres e que, oportunamente, ao visitar o pai doente, prestes a falecer, descobre através de uns velhos papéis do pai, a relação que o uniu, desde a infância, com o sacerdote Josemaria Escrivá (1902-1975), fundador do Opus Dei, falecido em 1975 e canonizado em 2002 pelo Papa João Paulo II. O filme faz finca-pé na relação entre estes dois amigos desde crianças. Manolo e Josemaria coincidiram no seminário, mas depois de um acontecimento inesperado Manolo abandona o lugar. Quando estala a Guerra Civil, Josemaria já ordenado sacerdote (1925) e depois de ter fundado o Opus Dei (1928), vê-se obrigado a escapar da perseguição religiosa. Por seu lado, Manolo combate nas fileiras republicanas, envolve-se em situações complicadas, enredando-se em uma trama de espionagem.

Roland Joffé, que inicialmente recusara participar no projecto do filme, confessou “ter-se sentido atraído pela oportunidade de representar artisticamente a vida de um santo contemporâneo, especialmente pela concepção libertadora de Escrivá, que considera que Deus pode encontrar-se na vida quotidiana”.

Este filme, “Encontrarás Dragões”, estará brevemente entre nós nas salas de cinema. Consideramos uma oportunidade a não perder, uma vez que narra um excelente drama épico desenrolado entre o perdão e a reconciliação, no ambiente da convulsa época da Guerra Civil Espanhola.

Tem-se dito e escrito muito sobre “Encontrarás Dragões”, descrevendo-o como um filme espectacular, ameno, intenso. Considera-se que Joffé e a sua equipa conseguiram um grande filme – comovedor, apaixonante –, pensado para um público muito amplo. Uma história sem objectivos pré-determinados, de um inglês de origem judia, de esquerda e agnóstico, que realmente nos dá o que não esperamos…

Na realidade, é um filme para todos, crentes e não crentes, uma vez que Roland Joffé em “Encontrarás Dragões” leva a fé e a santidade a sério. Mas o seu interesse, vai muito além de um público religioso, uma vez reconhecer que todos somos confrontados (o agnóstico e o materialista) para escolher entre o amor e o ódio. O filme mostra isso. O perdão degela o que estava congelado. Toca o humano no interior de quem perdoa…

Joffé confessa ter ficado profundamente interessado pela convicção de Josemaria de que todos somos santos em potência, capazes de acabar com os próprios dragões. Diz esperar que as pessoas que vejam o filme o descubram nas suas próprias lutas com os seus dragões, e que compreendam que nenhum santo chegou ao seu lugar sem ter lutado.

O filme fala também de muitas formas de amor, demonstrando que, afinal, todos os laços de amor parecendo tão diferentes, convergem para um ponto fundamental. Para um amor que é maior do que o amor-próprio: uma profunda empatia, um sentido de identificação com o outro, que liberta das forças do mal e das espirais da violência sem sentido.

Trata-se de um tema chave na teologia cristã e em outras religiões. É próprio das religiões compreenderem que os seres humanos, nas suas relações com os outros, tomam opções divinas, opções que afectam profundamente a vida dos demais e o mundo que os cerca. Esta inter-conexão constitui o fundamento do amor: o que fazemos a favor ou contra os demais afecta a nós e a eles, porque estamos todos unidos uns aos outros.