Leia “Carta de São Josemaria sobre algumas características do espírito do Opus Dei”.
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Nesta carta, São Josemaria explica vários aspectos da vocação e da missão da Obra, detendo-se especialmente na secularidade. Está datada de 11 de março de 1940. Sua intenção é mostrar a especificidade do espírito que prega e seu enraizamento no Evangelho, bem como sua semelhança com a vida dos primeiros cristãos, para esclarecer depois as suas diferenças com outras vocações e caminhos na Igreja. Ressalta, sobretudo, a secularidade da entrega no Opus Dei e outras características que, em parte, são comuns a todas as formas de dedicação cristã e, em parte, próprias dela, devido ao modo particular como são vividas na Obra que ele fundou.
Está publicada como nº 6 no livro Cartas II, publicado pela Editora Quadrante em 2024. São Josemaria não deu um título a estas cartas; o título que recebe nesta edição é o que lhe deram os editores da edição crítica.
Este documento faz parte de um gênero literário particular de São Josemaria. Não é um tratado: seu estilo é mais parecido com o de uma conversa familiar que o fundador tem com os membros do Opus Dei ao longo dos tempos. O tom é semelhante ao que ele usava em suas reuniões com os membros do Opus Dei, nas quais lhes transmitia oralmente o espírito, a história e as tradições da Obra.
Principais ideias dessa carta
Trata de vários aspectos do espírito do Opus Dei, que o Fundador exorta a viver bem, e que deseja apresentar em sua genuína simplicidade. Daí as palavras Sincerus est, que ele quis usar como incipit em latim.
Como acontece em várias das suas Cartas, São Josemaria passa de um tema a outro, sem seguir um esquema rígido e voltando de vez em quando a algo já tratado, numa “aparente desordem”, como explica noutra Carta deste volume.
Há, no entanto, um fio condutor. Sua tentativa é mostrar a especificidade do espírito que ele prega, sua raiz no Evangelho, e sua semelhança com a vida dos primeiros cristãos, e depois esclarecer suas diferenças com outras vocações e caminhos na Igreja.
Por exemplo, embora a consciência da própria filiação divina seja essencial para todos os cristãos, São Josemaria virá a enfatizá-la ainda mais, apontando-a como o fundamento da vida espiritual no Opus Dei (2a). Também se pode dizer que a missão da Obra é a mesma da Igreja, pois procura restaurar o mundo em Cristo (2c), iluminando os homens com a luz de Deus (3b-3d), mas, no caso do Opus Dei, essa missão concentra-se de modo especial nas ocupações seculares (9a-9b). O membro do Opus Dei não é diferente dos outros cristãos comuns (9a-10c), e está ansioso por colocar Cristo no topo das atividades humanas (12a-12c), prestando especial atenção ao trabalho, que se torna um meio de santificação (13a-13d), e praticando um apostolado de pessoa a pessoa, em um clima de amizade e compreensão (14a-14b, 54a55c, 64a69b, 70a72b). Tudo isso é sustentado por uma vida contemplativa, que leva à “unidade de vida” (14c-16b) - à coerência -, e é temperada por um espírito característico de liberdade (37c).

Em vários momentos, São Josemaria fala das contradições e dificuldades que o Opus Dei encontrou no seu caminho, por parte daqueles que não compreenderam o que, para o fundador parece ser um espírito simples e claro (17c-20d, 43a-45b). Acima de tudo, ele rejeita a acusação de segredo (56a-60b).
O pano de fundo de sua exposição é o horizonte de identificação com Cristo (11a-11d) e o chamado para levar o Evangelho a toda a humanidade. Para ele, essa tarefa de evangelização é realizada por meio de uma amizade cheia de compreensão, promovendo a unidade com todas seres humanos e praticando um compromisso tolerante com as pessoas (54a - 55c, 64a - 69b, 70a - 71c). Tudo isso é presidido pelo bom exemplo (51a - 53c) e complementado por uma exposição da doutrina cristã que tenta se adaptar à mentalidade dos ouvintes (47a - 48c).
Outras virtudes ou características que São Josemaria menciona como especialmente caras ao Opus Dei são a humildade (4a-4c), a unidade no que é fundamental e a diversidade no que é opinável (27a-27d), a pobreza (28a-28b), a alegria e a gratidão a Deus (29a-29c) e a sinceridade (61a-61c). Há também várias referências à necessidade de adaptar o espírito que ele está expondo a uma fórmula jurídica que reflita adequadamente sua peculiaridade (73a75c).