Carta em formato digital “Carta sobre a humildade na vida espiritual”.
Recolhemos neste livro eletrônico uma carta de São Josemaria sobre a importância da humildade na vida espiritual. Está datada em 24 de março de 1931. Há um comentário oral de São Josemaria sobre esta Carta, gravado em fita cassete, durante a reunião de conselheiros das diversas regiões do Opus Dei, em janeiro de 1966, quando lhes entregou este documento.
Está publicada com o n. 2 no volume de Cartas I, publicado por Edições Rialp em 2020, e pela editora Quadrante em 2023.
Este documento faz parte de um gênero literário particular de São Josemaria. Não é um tratado: o seu estilo parece mais com uma conversa familiar do fundador com os membros do Opus Dei de todos os tempos. O tom é semelhante ao que ele usava nas tertúlias com as pessoas da Obra, nas quais transmitia com suas palavras o espírito, a história e as tradições da Obra.
Principais ideias da carta
São Josemaria trata nesta Carta de uma virtude fundamental na vida cristã: a humildade. Para ele, a vida cristã exige uma conversão constante: não é necessário ser um pecador persistente para se arrepender, para se levantar depois de uma queda, para ser curado das próprias feridas e para confiar mais plenamente nas forças que a graça divina proporciona. Esta deve ser, para ele, a atitude normal de todo cristão que se entregou a Deus.
Embora não exista um índice nem esquema, é possível identificar uma certa estrutura no texto, que pode ser dividida em seis partes.
A primeira (nn. 1-7) trata da relação entre humildade e graça, como fundamentos da vida espiritual. Aqui ele desenvolve um dos seus temas preferidos desde a década de 1930: o endeusamento bom.
A carta começa “entre barcas e redes”, como São Josemaria gostava de dizer: com uma cena ambientada no Mar da Galileia. Cristo vem ao encontro de alguns homens que trabalham em seu ofício e o faz caminhando sobre o mar. Videns eos... Ele os viu enquanto remavam cansados. Jesus se compadece dos seus discípulos, das dificuldades que estão passando, e realiza um milagre que demonstra o seu poder divino.
São Josemaria escolhe esta passagem evangélica para chamar a atenção para a missão dos apóstolos e compara a vocação ao Opus Dei com a dos primeiros seguidores de Cristo. Ele explica que Deus sobrenaturaliza a fraqueza humana e a transforma em algo capaz de grandes coisas. Mas essa força divina só atua se praticamos a virtude da humildade.
Seguem-se, então, algumas considerações que, como ele diz, “irão ajudá-los a construir uma profunda e sincera humildade” (n. 8a). Aqui começa a segunda parte, relativamente curta (nn. 8-14), onde trata de alguns temas aos quais voltará mais detalhadamente em outras passagens da Carta: a necessidade de confiar em Deus; o crescimento na caridade; os obstáculos e os fracassos; a ação do diabo contra a própria santidade; a importância de reagir às fraquezas e enfrentá-las com otimismo, apoiando-se na fortaleza de Deus.
A Carta continua, em sua parte mais ampla (nn. 15-33), a terceira, analisando os principais obstáculos à vida espiritual. Aqui se ocupa dos problemas pessoais mal resolvidos, que levam ao egocentrismo ou vitimização, como resultado da arrogância. Em seguida, refere-se a situações de escuridão e aridez interior, para as quais propõe uma série de remédios ascéticos. Em seguida, trata das tentações, das crises da maturidade, do desânimo e da consciência de certa infertilidade, do sentimento de fracasso ou incapacidade pessoal.
Na quarta parte (nn. 34-42) São Josemaria analisa a virtude da sinceridade, que considera um grande meio para alcançar a humildade. É típico do fundador do Opus Dei falar da sinceridade, não como uma simples virtude humana, mas em um contexto ascético, como manifestação de humildade e como um baluarte para a perseverança. Ele se refere a ela especialmente no contexto de orientação espiritual e confissão.
Uma quinta parte (nn. 43-58) ilustra como a fidelidade a Deus é um dos frutos da humildade. A vocação recebida traz consigo, para São Josemaria, uma graça particular, uma ajuda sobrenatural específica para perseverar no seguimento de Cristo. É a humildade que abre os olhos para o imenso poder da graça, mostrando que todos os obstáculos e fraquezas da vida espiritual podem ser superados graças ao auxílio divino. O único obstáculo intransponível é precisamente a rejeição voluntária da graça, por causa da soberba.
A parte conclusiva (nn. 59-61) faz referência à união com Deus, à vida contemplativa e à piedade, à relação de confiança com Jesus Cristo e com sua Mãe Santíssima.
O livro Cartas I pode ser adquirido no site da Quadrante: www.quadrante.com.br.
