A carta número 7 (na edição da Coleção de Obras Completas), é sobre a formação cristã da juventude, também é designada às vezes pelo incipit Quem per annos, e tem a data de 24 de outubro de 1942, antiga festa de São Rafael. Foi impressa no dia 22 de novembro de 1966.
Carta em formato digital “Carta sobre a formação cristã da juventude”:

As Cartas de São Josemaria explicam longamente algumas das características da mensagem e da missão do Opus Dei na Igreja, do seu carisma, “um dom especial do Espírito”[1], como o chama o Papa Francisco. Sua missão é “difundir no mundo o chamado à santidade, mediante a santificação do trabalho e das obrigações familiares e sociais”[2] e promover “a ação evangelizadora que seus membros realizam no mundo”[3].
Esses documentos não são cartas da coleção pessoal de correspondências de Escrivá. São escritos dirigidos aos homens e mulheres do Opus Dei de todos os tempos, embora qualquer cristão, inclusive os não batizados, possa encontrar neles um estímulo para viver conforme o exemplo de Jesus Cristo e seguir o caminho que Ele traçou para eles. São Josemaria chamou-as “Cartas” porque quis usar nelas um tom familiar, que refletisse as conversas que tinha com as pessoas da Obra. Por isso, evita seguir um esquema rígido e escreve em “aparente desordem”, como ele mesmo explica[4], sem usar o estilo de um tratado, mesmo quando desenvolve um tema monográfico, como é o caso do documento que apresentamos aqui[5].
A Carta nº 7 aborda a obra de São Rafael, ou seja, o conjunto de atividades promovidas pelo Opus Dei para a formação cristã da juventude e para estimular a busca da santidade entre os jovens, como discípulos de Jesus. Também era conhecida pelo incipit Quem per annos e é datada pelo Fundador em 24 de outubro de 1942, antiga festa de São Rafael Arcanjo.
Sabemos que saiu do prelo em 22 de novembro de 1966, para ser distribuída entre as várias regiões ou circunscrições do Opus Dei. Não sabemos quando São Josemaria trabalhou nela. É provável que o tenha feito nos últimos meses de 1966, no período anterior esteve muito ocupado com outras Cartas: entre janeiro e novembro de 1966 foram publicadas dezesseis Cartas, num total de 765 páginas. Talvez tenha usado papéis ou rascunhos da década de 1940, entre outros materiais, porque o eco dessa fase da história do Opus Dei está muito presente aqui, e talvez por isso quisesse colocar a data de 1942.
Naquele ano, as atividades apostólicas do Opus Dei com os jovens estavam se espalhando por várias cidades da Espanha. Em Madri, havia uma residência universitária, localizada na rua Jenner. Depois da pausa da guerra e de alguns anos de assentamento, o apostolado com rapazes e moças estava entrando em uma nova etapa de expansão.
A Carta é dedicada inteiramente ao trabalho de formação cristã realizado pela obra de São Rafael[6]. São Josemaria começa por refletir sobre a importância e a urgência desse trabalho, que tem como objetivo proporcionar uma formação religiosa e humana aos jovens, transmitindo-lhes valores cristãos, educando-os na piedade e dando-lhes uma sólida base de conhecimento da doutrina católica (§§12-14). Em suma, que os jovens “busquem Cristo, encontrem Cristo, tratem Cristo, sigam Cristo, amem Cristo, permaneçam com Cristo” (§12). Alguns desses rapazes e moças, como resultado de sua intimidade com Jesus, ouvirão seu chamado para segui-lo mais de perto, de várias maneiras, por exemplo, no Opus Dei. Por isso, a obra de São Rafael é também uma sementeira de vocações (§§7-8).
Ao longo de toda a Carta, São Josemaria aborda temas específicos, que fornecem orientações práticas para o desenvolvimento de uma grande variedade de atividades: desde os cursos de formação (§29, §§34-37), até outras atividades como a catequese (§40) e as visitas aos pobres, sobre as quais se detém de modo particular (§§41-44). Ele também fala das obras do apostolado corporativo, como residências e instituições educacionais, e de muitos outros aspectos que envolvem a delicada e urgente tarefa da formação cristã e humana dos jovens.
[1] Papa Francisco, motu proprio Ad Charisma tuendum, 14 de julho de 2022, art. 4, em https://www.vatican.va/.
[2] Ibid. art 1.
[3] Ibid. art. 5.
[4] Cfr. Carta n.o 7, § 25.
[5] Para mais detalhes sobre a natureza e a história desses documentos, remetemos à extensa Introdução Geral ao primeiro volume das Cartas da Coleção das Obras Completas de São Josemaria, publicada pela Rialp: Josemaria Escrivá de Balaguer, Cartas (I), edição crítica e anotada, preparada por Luis Cano, Colección de Obras Completas de Josemaria Escrivá, Madri, Rialp, 2020, pp. 3-32. Veja também o artigo “Las Cartas de san Josemaría. Hipótesis sobre su cronología y su género literario”, em Studia et Documenta 17 (2023), pp. 31-63 e Francesc Castells, “Las Cartas de san Josemaría. Estudio para una cronología”, Francesc Castells, em Studia et Documenta 17 (2023), pp. 11-30.
[6] A razão pela qual colocou esse apostolado sob a proteção do arcanjo é explicada em suas principais biografias; uma explicação também pode ser encontrada em Josemaría Escrivá de Balaguer, Caminho, edição histórico-crítica preparada por Pedro Rodríguez, Colección de Obras Completas de Josemaría Escrivá, Madri, Rialp, 2004, 3ª ed., comentário ao n. 360, pp. 536-537.