A riqueza de viver numa família numerosa

Marta e Luís vivem em Braga. São pais de uma família numerosa. Publicamos uma entrevista que concederam recentemente.

Marta e Luis com os filhos

Marta Torres, de Vila do Conde, e Luís Oliveira, de Braga, conheceram-se depois de terminarem os respetivos cursos superiores. Uma irmã do Luís, que era amiga da Marta, apresentou-os. Marta, fisioterapeuta, de 36 anos, e Luís, engenheiro informático, prestes a completar 37, casaram em 2007, após ano e meio de namoro. Residem em Braga e são pais do Tomás (9 anos), da Madalena (8 anos), da Leonor (6 anos), da Constança (4 anos) e do Manuel (um ano e meio). Apesar da logística associada a uma família numerosa, agradecem a riqueza que esta vivência lhes tem trazido. Os filhos reconhecem que o facto de terem vários irmãos é uma forma de aprender a ceder e mostram-se felizes por terem com quem brincar e poderem partilhar emoções.

Acima de tudo estávamos abertos àquilo que Deus Nosso Senhor quisesse de nós. Felizmente, Deus deu-nos a graça de ter uma família grande.

Ter uma família numerosa foi um sonho que acalentaram antes de se conhecerem? Ou um ideal que começaram a construir em conjunto?

Marta – Eu tinha o sonho de ter uma família numerosa. E vi no Luís a pessoa certa para esse projeto.

Luís – Acima de tudo estávamos abertos àquilo que Deus Nosso Senhor quisesse de nós. Felizmente, Deus deu-nos a graça de ter uma família grande.

Ser família numerosa tem aspetos positivos e negativos. O que destacam em cada uma destas facetas?

Luís – É uma riqueza enorme. Mais do que grandes bens ou carreiras, a nossa maior riqueza é a família. Há sempre uma boa dose de esforço, mas quem corre por gosto não cansa.

Marta – O aspeto mais negativo é a logística pesada. É um esforço que humanamente fazemos e é notório. Mas é sobretudo uma grande fonte de enriquecimento a nível pessoal, em termos de virtudes. Numa família numerosa, temos a possibilidade de facilmente exercitar muitas virtudes: organização, disciplina e entreajuda, até entre o próprio casal. Quando as pessoas fazem isso por amor a uma causa e a Deus, é tudo mais fácil.

Mais do que grandes bens ou carreiras, a NOSSA maior riqueza é a família. Há sempre uma boa dose de esforço, mas quem corre por gosto não cansa.

Como se gere o dia a dia, estando os dois pais a trabalhar?

Marta – Eu acabo por estar um bocadinho mais disponível, porque restringi o meu horário até às cinco da tarde. O Luís, como trabalha no Porto, está mais condicionado aos horários e aos transportes. Mas, estando longe, ele está sempre muito próximo. É ele que põe tudo nas nossas agendas.

Têm algum apoio em termos familiares?

Marta – Temos uma retaguarda espetacular. Uma senhora vem ajudar-nos quatro manhãs por semana. E temos os avós. Sobretudo durante a semana, são mais os meus sogros que dão um apoio fora de série, quando os miúdos estão doentes, e até aos 3 anos ficam com eles.

Estão envolvidos em atividades além do trabalho e da família. O vosso testemunho de casal e família cristã passa por aí?

Quando as pessoas fazem isso por amor a uma causa e a Deus, é tudo mais fácil.

Marta – Assistimos com frequência a atividades que nos possam enriquecer, do ponto de vista humano, espiritual e até de educação dos filhos... Para além da vertente profissional...

Luís – Nós, pais, quando éramos mais novos, recebemos formação na Prelatura do Opus Dei e ambos, mais tarde, pedimos a admissão ao Opus Dei. É na Obra que recebemos a formação espiritual e ascética que dá sentido a todos estes desafios que temos no dia a dia. Tal como percebemos a importância desta formação juvenil para nós, temos a preocupação que os nossos filhos recebam uma formação idêntica. Ambos estamos envolvidos nos clubes juvenis que existem em Braga, para rapazes e para raparigas. Os mais velhinhos já os vão frequentando e assim vão-se introduzindo num caminho que percebemos que é seguro e os leva a bom porto. E eu e a Marta, fazemos parte de uma associação que dá formação a famílias (Cenofa). O nosso grande objetivo é mudar um bocadinho este panorama, não muito simpático e muitas vezes fruto de uma falta de conhecimento de como é que as famílias funcionam...

É na Obra que recebemos a formação espiritual e ascética que dá sentido a todos estes desafios que temos no dia a dia.

Marta – Como é que a mulher e o homem funcionam... aquilo que os distingue. Às vezes, a base de muitos problemas é as pessoas não saberem que homem e mulher são diferentes e é preciso saber aproveitar essa complementaridade.

Luis a andar de bicicleta com os filhos


Participam regularmente com os filhos na eucaristia. Tem sido fácil gerir as traquinices e as idades?

Luís – Eu e a Marta tentamos ir diariamente à missa. Ao domingo vamos habitualmente todos. Até pela importância do testemunho e de eles perceberem a importância do domingo como o Dia do Senhor. Nem sempre é fácil gerir e vamos arranjando alguns estratagemas.

É curioso que uma criança com um ano e meio já percebe, por mero exemplo, que em frente ao Santíssimo se ajoelha.

Marta – De modo geral eles portam-se muito bem. E sabem que a partir dos seis anos têm de ficar quietos e ouvir a missa. Até aí temos um bocadinho mais de flexibilidade.

Luís – É curioso que uma criança com um ano e meio, como é o caso do Manel, já percebe, por mero exemplo, porque não há outra explicação, que em frente ao Santíssimo se ajoelha. Às vezes damo-nos conta dele a passar junto do tapete central e estar ajoelhado diante do Santíssimo, porque percebe que se os outros fazem, aquilo deve ter um significado especial.

Como é que eles vão experimentando a vivência da fé? Eles frequentam uma escola católica, que proporciona isso...

Temos o hábito de rezar ao ir para o colégio, abençoar as refeições, rezar o “anjinho da guarda” todos os dias e rezar à noite antes de se deitarem

Marta – Essa é uma preocupação nossa, que a escola seja uma continuação do nosso trabalho e do nosso esforço em casa. Eles veem-nos fazer, veem que os pais vão à missa, rezam, agradecem ao Jesus várias vezes ao dia as coisas boas que lhes acontecem e pedem ajuda para dificuldades que tenham. Isto entra um bocadinho naturalmente. Temos o hábito de rezar ao ir para o colégio, abençoar as refeições, rezar o “anjinho da guarda” todos os dias e rezar à noite antes de se deitarem. Eu e o Luís procuramos rezar o terço todos os dias, cada um nas suas atividades, ou os dois à noite. Ao fim de semana e nas férias temos a preocupação de rezar o terço com eles. Mesmo quando vamos de carro, é muito comum rezarmos o terço na viagem. Eles rezam. Cada um reza o seu mistério. Às vezes vamos passear com eles e levamos a dezena no bolso e rezamos o terço. Um dia no verão estávamos em casa e a Constança queria andar de bicicleta. Eu tinha de fazer o jantar e não podia ir. O Tomás disse “mamã, deixa estar que eu vou e entretanto vou rezando o terço”. Ele saiu, andou com a irmã e chegou a casa e disse “mamã, já consegui rezar o terço”.

Luís – Ensinamos também a que nunca fiquem indiferentes em relação àquilo que lhes acontece. No dia a dia, quando vamos na rua e vemos alguém com dificuldades, temos o hábito de rezar, já que não podemos fazer mais, por essas pessoas, porque percebemos que passam um mau bocado. Nunca somos indiferentes em relação ao sofrimento alheio. Isso é uma coisa que tentamos incutir nos miúdos.

Entrevista publicada na edição de Abril de 2018 da revista Mensageiro do Coração de Jesus - https://revistamensageiro.pt