Meditações: Batismo do Senhor

Reflexão para meditar no domingo depois da Epifania, Festa do Batismo do Senhor (ou na segunda-feira após o domingo da Epifania nos anos em que este calhe no dia 7 ou dia 8 de janeiro). Os temas propostas são: como João, daremos testemunho de Cristo; um apostolado discreto, um a um; semear com a nossa amizade.


«NO DIA seguinte, João viu Jesus aproximar-se» (Jo 1, 29). Nosso Senhor vai ao encontro do Batista como mais um, misturado com aqueles milhares de pessoas que vinham de todos os lados. «Jesus Cristo, que é Juiz dos pecadores, vem para ser batizado entre os escravos»[1]. Para toda aquela multidão, o carpinteiro de Nazaré era um de muitos. Mas o olhar do Batista descobriu o Filho de Deus naquele peregrino e estava relutante em batizá-lo. «Sou eu quem deve ser batizado por Ti e Tu vens a mim?» (Mt 3, 14). Jesus Cristo insistiu e João, no final, teve que ceder.

«Uma vez batizado, Jesus saiu da água e eis que se rasgaram os céus, e viu o Espírito de Deus descer como uma pomba e vir sobre Ele. E uma voz vinda do Céu dizia: Este é o meu Filho muito amado, no qual pus as minhas complacências» (Mt 3, 14). S. João Paulo II diz que «a pregação de João concluiu a longa preparação, que percorreu toda Antiga Aliança e, poder-se-ia dizer, toda a história humana, narrada pela Sagrada Escritura. João sentia a grandeza daquele momento decisivo, que interpretava como o início de uma nova criação, na qual descobria a presença do Espírito que pairava acima da primeira criação (cf. Jo 1, 32; Gn 1, 2). Ele sabia e confessava que era um simples arauto, precursor e ministro d'Aquele que viria “batizar com o Espírito Santo”»[2].

Poucos dias depois, João recebeu uma embaixada singular. «Lembrais-vos – perguntava S. Josemaria – daquelas cenas do Evangelho, que narram a pregação de João Batista? Grande alarido que se tinha sido levantado! Será o Cristo, será Elias, será um Profeta? Tanta confusão se armou que “os judeus enviaram sacerdotes e levitas de Jerusalém, para lhe perguntarem: tu, quem és?” (Jo 1, 19). Ele respondeu: “Eu batizo em água; mas no meio de vós está alguém que vós não conheceis. Esse é o que há de vir depois de mim, e eu não sou digno de desatar-lhe as correias das sandálias” (Jo 1, 26-27)».

O Senhor também se nos revelou quando nos fez ver, com a luz do Espírito Santo, que estava ao nosso lado no caminho da vida. Então, como a João, pediu-nos que déssemos testemunho d'Ele.


TODA a vida do Batista foi gasta na espera, no esforço de preparar o seu coração e o dos outros para a chegada do Redentor. Ele era a voz que clama no deserto: «Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas» (Mt 3, 3). Hoje a alegria de João é grande porque o Senhor chegou. Agora pode exclamar: «Este é aquele de quem eu disse: depois de mim vem um homem que é superior a mim, porque era antes de mim» (Jo 1, 30). A nossa tarefa não é muito diferente da do Batista; «Quantas vezes se poderiam dizer (...) aquelas palavras do Santo Evangelho: “No meio de vós está quem não conheceis: Jesus Cristo” (Jo 1, 26). Sem espetáculo, com uma naturalidade sobrenatural, Cristo faz-se presente na vossa vida e na vossa palavra, para atrair à fé e ao amor quem pouco ou nada sabe de Fé e de Amor»[3].

João dá testemunho de Jesus; uns dias antes, tinha anunciado publicamente que não era o Messias, que o Cristo viria depois. Mais tarde, no círculo íntimo dos seus discípulos, João referiu onde estava o Senhor: «Este é o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo» (Jo 1, 29). Era um apostolado pessoa a pessoa que preparava a mente dos seus ouvintes para a chamada divina. Noutra ocasião, de forma mais direta, o Batista indicou a João e André: «No dia seguinte, João estava com dois dos seus discípulos e, vendo Jesus que passava, disse: “Este é o Cordeiro de Deus”. Os dois discípulos ouviram as suas palavras e seguiram Jesus» (Jo 1, 35-37). Quão eficaz! A palavra do Batista preparou as duas primeiras vocações de apóstolos. Mais tarde, André e João trariam outros.

É fácil recordar algumas palavras de S. Josemaria sobre o apostolado dos cristãos no meio do mundo: «Não sois conhecidos, mas em todos os cantos da terra há colegas e amigos que descobrem nos vossos irmãos, em vós, a Cristo; e então eles também levam Cristo a outros corações, a outras inteligências. Sois Cristo que passa no meio da rua; mas deveis caminhar por onde Ele caminhou»[4].


MUITOS vieram ao Jordão para ouvir e receber o batismo de João. Para todos haviam, nos lábios do profeta, palavras de luz e a todos preparava para receber o Senhor. Mas também tinha um pequeno grupo de discípulos que formava ao calor de uma conversa direta. E foi justamente desse grupo que surgiram os primeiros discípulos do Senhor.

Cada um de nós conhece muitas pessoas e pode ocasionalmente divulgar a mensagem de Cristo a um público muito amplo através de vários meios. Mas, particularmente adequado para difundir a mensagem cristã é o apostolado a que S. Josemaria chamava de amizade e confidência. Descrevia-o assim: «Haveis de aproximar as almas de Deus com a palavra adequada que desperta horizontes de apostolado, com o conselho discreto que ajuda a olhar um problema de forma cristã; com conversa amigável que ensina a viver a caridade (...). Mas haveis de atrair, sobretudo, com o exemplo da integridade das vossas vidas, com a afirmação – humilde e audaz ao mesmo tempo – de viver de forma cristã, com naturalidade, mas coerente, manifestando, nas nossas obras, a nossa fé: essa será, com a ajuda de Deus, a razão da nossa eficácia»[5].

O apostolado cristão é serviço, difusão do bem, amizade; preocupação sincera pelos outros, informada pela caridade, que nos leva a transmitir o que nos enche de alegria. Os leigos, de modo particular, são chamados a «uma ação livre e responsável nas estruturas temporais, levando aí o fermento da mensagem cristã»[6]. O panorama é imenso.

Podemos colocar sob a proteção materna da Virgem as pessoas que estão mais próximas de nós; pedimos-lhe que nos alcance a graça necessária para avivar o nosso desejo de semear a palavra divina através da nossa amizade. «Semeai, pois – dizia S. Josemaria –, garanto-vos, em nome do Senhor da messe, que haverá colheita»[7].


[1] S. João Crisóstomo, Homilias sobre o Evangelho de S. Mateus, 12, 1.

[2] S. João Paulo II, Audiência Geral, 11/07/1990.

[3] S. Josemaria, Carta de 15/08/1953, n. 11.

[4] S. Josemaria, Notas de uma reunião familiar, 09/01/1969.

[5] S. Josemaria, Carta de 24/03/1930, n. 11.

[6] S. Josemaria, Entrevistas a S. Josemaria, n. 59.

[7] S. Josemaria, Carta circular de 24/03/1939.