Meditações: 18 de dezembro

Reflexão para meditar no dia 18 de dezembro. Os temas propostos são: São José, o céu na terra; a sua missão junto de Maria e do Messias; com Maria e Jesus, superam-se as dificuldades.

– São José, o céu na terra

– A sua missão, junto de Maria e do Messias

– Com Maria e Jesus, as dificuldades são superadas


“TU, JÁ NESTA VIDA, abraças a Deus”. Assim reza o hino “Te Ioseph”, que há séculos coloca em nossos lábios o que sentimos ao considerarmos a missão do Santo Patriarca[1]. Bem que podemos pedir ao esposo de Maria que saibamos apreciar o Menino Jesus e o carinho que Ele nos vem oferecer.

No entanto, a alegria de São José aqui na terra não esteve isenta do claro-escuro: “antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo” (Mt 1,18). Ele imediatamente reagiu com a lealdade de um homem fiel e cheio de amor a Deus. Tomou a decisão de repudiá-la secretamente, para não impor nenhum peso a Maria além da falta da sua companhia. Tudo nesta família está a serviço dos planos divinos, tudo está acomodado à vontade do Senhor. Embora não fossem muitas as horas de angústia, São José sofreu. Não entendia o que estava acontecendo, mas nunca duvidou da sua esposa nem de Deus. Ele estava “cheio de um santo temor de viver ao lado de tamanha santidade”[2]. Um anjo foi enviado para dissuadi-lo e mostrar-lhe a sua tarefa, no meio de uma situação que ele contemplava com espanto: “José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados” (Mt 1,20-21).

É fácil imaginar a alegria de José com este duplo anúncio. O Messias já estava na terra e iria guardá-lo junto com a sua Mãe bendita. À alegria de recuperar Maria juntou-se, naquele instante, a imensa alegria de saber que havia chegado o momento. Para um filho de Davi, essa notícia era a mais esperada. O Salvador já estava entre eles. Ele nunca tinha sonhado com uma sorte tão grande e imerecida. Começou a desfrutar então do que tinha, embora ainda não conseguisse entender como isso se tornaria realidade.


ANTES de receber o anúncio do anjo, o santo Patriarca “estava seguindo um bom projeto de vida, mas Deus reservou para ele outro plano, uma missão maior. José foi um homem que sempre deixou espaço para ouvir a voz de Deus, profundamente sensível ao seu amor secreto, um homem atento às mensagens que vinham do fundo do seu coração e do alto. (...). E assim, José chegou a ser ainda mais livre e magnânimo. Aceitando-se de acordo com o desígnio do Senhor, José encontra plenamente a si mesmo, além de si mesmo. Esta liberdade de renunciar ao que é seu, a posse da própria existência, e esta plena disponibilidade interior à vontade de Deus, desafiam-nos e mostram-nos o caminho”[3].

É muito provável que José tenha corrido para contar à esposa o que lhe foi revelado. Há uma palavra que se repete várias vezes no Evangelho de hoje: acolher. É um verbo que define muito bem a relação que queremos ter com Deus. Estamos entusiasmados por ser um refúgio, por abrigar este mistério de amor em nossos corações. Acolher significa, referindo-se a uma pessoa, admiti-la em nossa casa ou companhia. É como se Deus pedisse permissão também a José para entrar no mundo. Assim, vemos que Jesus não se impõe, mas chega pedindo um espaço nos nossos corações. Ele pede-nos que lhe demos abrigo e que lhe ofereçamos a nossa companhia.

É surpreendente que Deus tenha pedido a São José que cumprisse a tarefa de acolher as duas vidas mais preciosas que já existiram na terra. Como homem agradecido, o esposo de Maria aceitou o dom que lhe era oferecido e Deus demonstrou que nunca se deixa superar em generosidade. O Senhor também nos oferece permanentemente os seus dons, grandes e pequenos, projetos nos quais podemos abrir um espaço para Jesus e sua mãe. São Josemaria entusiasmava-se com a simplicidade do Santo Patriarca: “São José é maravilhoso! É o santo da humildade rendida ..., do sorriso permanente e do encolher de ombros”[4].


TALVEZ São José tenha pensado muitas vezes na grandeza de ter Jesus e Maria sob o seu teto e tenha se sentido abençoado. Provavelmente, Maria e Jesus lhe faziam sentir, em cada momento, a importância da sua missão e da sua vida. Devem tê-lo convencido, facilmente, de que ele era o melhor pai do mundo.

Apesar disso, deve ter sido particularmente difícil o dia em que Jesus ficou no Templo sem avisar, deixando claro qual era a sua missão no mundo. “Este episódio evangélico revela a vocação mais autêntica e profunda da família: acompanhar cada um dos seus componentes no caminho da descoberta de Deus e do projeto que lhe preparou”[5].

Quando, passados três dias, encontraram o Menino Jesus, José experimentaria certo consolo, ao comprovar que Maria também não o entendia. A companhia de Maria ao seu lado era a chave, era a solução para todas as suas dúvidas e incertezas. Com Maria, tudo ficou mais fácil para ele.

O que mais um homem poderia pedir na terra? Receber um carinho tão especial de semelhante criatura e tê-la sempre ao seu lado para qualquer tarefa, difícil ou simples, era como estar no céu. Que diferença fazia, graças a essa companhia, caminhar pelo deserto fugindo para o Egito ou trabalhar um dia e outro na oficina de Nazaré? Que diferença fazia se as coisas saíssem do jeito que ele esperava ou ao contrário? O sorriso da sua esposa tornava tudo muito simples. Peçamos a Deus que possamos acolher o seu amor como Maria e José o fizeram. “Se as tuas mãos te parecem vazias, se vês o teu coração pobre em amor, esta noite é para ti. A graça de Deus manifestou-se para resplandecer na tua vida. Acolhe-a e brilhará em ti a luz do Natal”[6].


[1] Tu vivens, Superis par, frueris Deo. O hino é usado nas Vésperas da Solenidade de São José e em memória de São José Operário.

[2] São Tomás de Aquino, Comentário sobre as sentenças de Pedro Lombardo , lib. 4, d. 30, q. 2, a. 2, ad 5.

[3] Francisco, Ângelus, 22-XII-2013.

[4] A. Vázquez de Prada, Josemaria Escrivá, tomo III, Quadrante, São Paulo, p. 663.

[5] Bento XVI, Ângelus, 31-XII-2006.

[6] Francisco, Homilia, 24-XII-2019.