Semeadores de paz e de alegria

"Sei que Josemaria Escrivá desejava que no catecismo da doutrina cristã houvesse algumas referências aos deveres sociais e políticos dos cristãos: um bom cristão deve ser também um bom cidadão, semeador de paz" (palavras do cardeal Van Thuân sobre São Josemaria)

O mundo contemporâneo, apresenta-se cheio de esperanças, mas, ao mesmo tempo, de desafios e problemas urgentes que exigem uma resposta convincente da parte dos cristãos.

Cristo é a nossa paz. O cristão, com o olhar posto na pátria celestial, não se despreocupa do que se passa na pátria terrena, porque é próprio daqueles que se preparam para gozar da paz eterna e da justiça divina que se identifica com a Misericórdia e o Amor, com a nossa fé vivida e encarnada na procura da paz e da justiça.

A presença operativa dos cristãos na sociedade deve transformar as esperanças do mundo de hoje em realidades de amor e de serviço; e deve proporcionar respostas certas e autênticas aos problemas e aos desafios atuais. Se todos os cristãos devem ser promotores de paz e de justiça, o Fundador do Opus Dei queria ser “semeador de paz e de alegria”. Ao longo da sua vida, e através do seu exemplo e dos seus ensinamentos, Josemaria Escrivá semeou eficazmente justiça, paz e amor. Sementeira fecunda que continua hoje viva e operante no espírito apostólico dos seus filhos espirituais em tão diversas iniciativas sociais promovidas por ele diretamente ou nele inspiradas.

O núcleo da sua mensagem gira à volta da santificação da vida corrente e através do trabalho quotidiano. E onde se pode construir um mundo de paz e de justiça se não for na vida corrente? É na família, na escola, nos serviços públicos, nas empresas, no campo, que o cristão deve dar testemunho da sua fé e chegar a ser um autêntico semeador de paz e de alegria como – repito – gostava de dizer o fundador do Opus Dei. É precisamente aí onde se deve configurar cristãmente o mundo: na vida quotidiana, nas relações sociais, com a liberdade dos filhos de Deus. “O mundo espera por nós. Sim! Amamos apaixonadamente este mundo porque Deus assim no-lo ensinou: Sic Deus dilexit mundum... – Deus amou assim o mundo; e porque é o lugar do nosso campo de batalha – uma formosíssima guerra de caridade – para que todos alcancemos a paz que Cristo veio instaurar”. (Sulco, n. 290).

Sei que Josemaria Escrivá desejava que no catecismo da doutrina cristã houvesse algumas referências aos deveres sociais e políticos dos cristãos na comunidade civil para formar deste modo, desde a infância, os católicos na unidade de vida: um bom cristão deve ser também um bom cidadão. O seu desejo tornou-se realidade, e o Catecismo da Igreja Católica dedica o segundo capítulo da terceira parte a esta temática. Pode aí ler-se: “A participação é o empenhamento voluntário e generoso da pessoa nas permutas sociais. É necessário que todos tomem parte, cada qual segundo o lugar que ocupa e o papel que desempenha, na promoção do bem comum. Este é um dever inerente à dignidade da pessoa humana” (n. 1913). “A participação realiza-se, primeiro, ao encarregar-se alguém dos sectores de que assume a responsabilidade pessoal: pelo cuidado posto na educação da família, pela consciência no seu trabalho, o homem toma parte no bem do outro e da sociedade” (n. 1914).

A missão apostólica do cristão, segundo aos ensinamentos de Josemaria Escrivá, implica participação social e responsabilidade pessoal. Queira o Senhor, pela intercessão da Virgem Santíssima e de São Josemaria Escrivá, que os cristãos cheguem a ser promotores de paz e justiça fundadas no perdão, ou com palavras do fundador do Opus Dei, “semeadores de paz e de alegria”.

E por mim desejo que estes semeadores de paz e de alegria, com o sopro do Espírito Santo, cheguem também até ao Extremo Oriente, até ao Vietnam.


O cardeal Francois-Xavier Van Thuân, foi bispo de Nha Trang e Saigon (Vietnam). Esteve na prisão durante 13 anos por motivos religiosos e sofreu represálias do regime comunista de Ho Chi Minh.

Em 1998 foi nomeado presidente do Conselho Pontifício de Justiça e Paz e em 2001 foi nomeado cardeal, por João Paulo II. Morreu poucos meses depois, a 16 de setembro de 2002.

Artigo publicado em L’Osservatore Romano, Suplemento, 6 de Outubro de 2002