Meditações: terça-feira da 7ª semana da Páscoa

Reflexão para meditar na terça-feira da 7ª semana da Páscoa. Os temas propostos são: Paulo, testemunha do Evangelho. Deus chama-nos a uma vida plena. A magnanimidade do Apóstolo.


PAULO ESTÁ a caminho de Jerusalém, onde o “aguardam cadeias e tribulações” (At 20, 23). Passando por Mileto, decide enviar uma mensagem a Éfeso para convocar os presbíteros da Igreja. O apóstolo tem consciência de que, muito provavelmente, este será o seu último encontro. Por isso, quando estão reunidos, pronuncia um discurso emocionado, no qual transparece o que deu sentido à sua existência. Desde que Cristo lhe apareceu no caminho de Damasco, não deixou de anunciar a todos “para que se convertessem a Deus e acreditassem em Jesus nosso Senhor” (At 20, 21). E embora isso lhe tenha trazido todo o tipo de dificuldades, a única coisa que tem valor para ele é ser fiel a esta missão que Deus lhe confiou: “de modo nenhum, considero a minha vida preciosa para mim mesmo, contanto que eu leve a bom termo a minha carreira e realize o serviço que recebi do Senhor Jesus, ou seja, testemunhar o Evangelho da graça de Deus” (At 20, 24).

Neste tempo pascal, que está chegando ao fim, temos meditado sobre a verdade central da nossa fé: a ressurreição de Jesus. Como São Paulo reconhece, trata-se de um autêntico tesouro que recebemos e não devemos nos limitar a protege-lo, mas também devemos compartilhá-lo com os outros. Os dons de Deus são concedidos para o bem de todos. E isto significa, às vezes, deixar de lado as seguranças pessoais para empreender a carreira divina de ser apóstolo. “Seguir, acompanhar Cristo, permanecer com Ele exige um ‘sair’. Sairmos de nós mesmos, de um modo de viver a fé cansado e rotineiro, da tentação de nos fecharmos nos nossos esquemas, que acabam por fechar o horizonte da obra criativa de Deus”. Na realidade, o próprio Deus praticou esta lógica de abertura: fez-se um de nós, saiu ao nosso encontro, para nos dar a Sua misericórdia e a Sua salvação.


PODERIA PARECER que Paulo, vivendo unicamente para realizar a missão que recebeu do Senhor, não teve outras expectativas nem projetos pessoais. Fizeram uma pergunta semelhante a D. Javier Echevarría, quando foi eleito o segundo sucessor de São Josemaria: “o Padre conseguiu ter vida própria?” Na sua resposta, D. Javier lançou um olhar ao passado e apresentou, à semelhança do discurso de São Paulo, o que Deus tinha feito na sua vida: “Sim, claro que tive a minha própria vida. Nunca teria sonhado realizar a minha vida de um modo tão ambicioso. Vivendo do meu jeito, teria tido uns horizontes muito mais estreitos, voos mais curtos (...). Eu, como homem do meu tempo, como cristão e como sacerdote, sou uma pessoa plenamente realizada”.

Deus conta com os nossos dons e com a nossa personalidade para dar forma ao anúncio da salvação a todos. Jesus não escolheu doze Apóstolos iguais. Alguns eram mais entusiastas ou impulsivos, outros mais introvertidos ou reflexivos. Cada um contribuiu para a difusão do cristianismo de formas diferentes, de acordo com o seu carácter, a sua experiência e as pessoas a quem se dirigia. Além disso, seria estranho pensar que Deus, como Pai que nos criou com Amor, chamando-nos a partilhar a vida com Ele, fosse menos criativo do que nós. Os Apóstolos não consideravam a sua vocação como um encargo exterior, alheio às suas qualidades e desejos mais profundos. De fato, eles viram os seus talentos pessoais serem colocados em ação e as suas aspirações serem atendidas quando deixaram que o Espírito Santo fosse o seu guia. Por isso São Paulo diz, ao perceber que, pouco a pouco, o seu fim se aproxima, que a única coisa que lhe importa é “testemunhar o Evangelho” (At 20, 24): em todos aqueles anos, ele experimentou a atração e a paixão inigualáveis de ser fiel à vocação que Jesus lhe deu.


SÃO PAULO RESUME assim a sua vida de Apóstolo: “não deixei de vos anunciar todo o projeto de Deus a vosso respeito” (At 20, 27). Desde que conheceu Cristo, seria incapaz de não se entregar completamente. Para quem experimentou o “Amor com maiúscula, o meio-termo é muito pouco, é mesquinhez, cálculo ruim”. A sua vocação levou-o a dedicar todas as suas forças ao ideal que iluminava a sua existência. Então, se pergunta, “qual é a minha recompensa? Ela está no fato de eu anunciar o evangelho gratuitamente, sem fazer uso do direito que o evangelho me confere” (1Cor 9, 18).

O Prelado do Opus Dei recordou-nos com frequência que “nós não fazemos apostolado, somos apóstolos”. O desejo de aproximar as almas de Deus não se limita a um momento ou a uma tarefa concreta: o coração de um apóstolo bate continuamente. Se pensarmos nas pessoas que marcaram positivamente a nossa vida – pais que nos fizeram crescer, um professor que soube despertar o melhor de nós mesmos, um amigo com quem sempre podemos contar... – será possível notarmos um traço comum: a magnanimidade. Dificilmente poderiam ter nos ajudado se cada um tivesse se limitado a cumprir a sua tarefa mais imediata: assegurar o sustento material, dar uma aula, dedicar um pouco do seu tempo…

De forma semelhante, um apóstolo deixa a sua marca nas almas quando vai para além de si mesmo, quando procura não se deixar levar por cálculos ou preconceitos. Por isso, São Josemaria considerava a magnanimidade como “a força que nos move a sair de nós mesmos, a fim de nos prepararmos para empreender obras valiosas, em benefício de todos”. A pessoa magnânima não se contenta em dedicar um pouco do seu tempo ou das suas forças: dá-se por inteiro; segue, de certo modo, a lógica da Virgem Maria: entregou o seu coração a Deus e Ele, por Sua vez, tornou-a capaz de acolher a todos nós.