Meditações: Sexta-feira da 3ª semana do tempo comum

Reflexão para meditar na sexta-feira da 3ªsemana do Tempo Comum. Os temas propostos são: É Deus quem faz crescer o seu Reino; Unir a nossa força à do Senhor; Procurarmos Jesus como aqueles discípulos.


PARA ILUSTRAR como é o Reino de Deus e como se desenvolve, Jesus volta a fazer comparações com aspectos da vida agrícola, muito familiares aos seus ouvintes: “O Reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra. Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece. A terra, por si mesma, produz o fruto: primeiro aparecem as folhas, depois vem a espiga e, por fim, os grãos que enchem a espiga” (Mc 4, 26-29). O Evangelho da Missa de hoje apresenta duas parábolas: a que acabamos de ler, sobre o crescimento da semente de trigo; e a seguinte, sobre o pequeno grão de mostarda que se transforma num arbusto frondoso, onde as aves do céu podem fazer os seus ninhos.

“Na primeira parábola, a atenção centra-se no fato de a semente, lançada ao solo, criar raízes e se desenvolver por si mesma, independentemente de o agricultor dormir ou acordar. Confia no poder interior da própria semente e na fertilidade do solo. Na linguagem do Evangelho, a semente é um símbolo da Palavra de Deus (...). Esta Palavra, se for aceite, dá certamente frutos, porque o próprio Deus a faz germinar e amadurecer através de formas que nem sempre podemos verificar, de uma forma que desconhecemos. Tudo isto nos faz compreender que é sempre Deus que faz crescer o seu reino. É por isso que rezamos tanto "Venha a nós o Vosso reino". É Ele quem o faz crescer; o homem é o seu humilde colaborador, que contempla e se alegra com a ação criadora divina, e espera pacientemente pelos seus frutos”[1].

“Quando te abandonares de verdade no Senhor – dizia São Josemaria – aprenderás a contentar-se com o que vier, e a não perder a serenidade, se as tarefas – apensar de teres posto todo o teu empenho e utilizado os meios oportunos – não correm a teu gosto... Porque terão “corrido” como convém a Deus que corram...”[2].


NA SEGUNDA PARÁBOLA, Jesus usa a imagem do grão de mostarda para descrever o Reino de Deus: “ é como um grão de mostarda que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes da terra. Quando é semeado, cresce e se torna maior do que todas as hortaliças, e estende ramos tão grandes, que os pássaros do céu podem abrigar-se à sua sombra” (Mc 4, 31-32). Na leitura que São João Crisóstomo faz desta passagem, a semente de mostarda é Cristo que, pela sua encarnação, se fez pequeno e humilde para ser o servo de todos; sofreu pregado na cruz, morreu por nós, e pela sua ressurreição cresceu até ao céu, como uma árvore que nos abriga e nos dá a imortalidade[3].

Sendo infinitamente grande, Cristo tornou-se pequeno, aparentemente irrelevante. Portanto, para entrar na dinâmica do Reino de Deus, é necessário ser pobre de espírito, para que Cristo possa viver em nós; uma pobreza de espírito que nos leva “não a agir para sermos importantes aos olhos do mundo, mas preciosos aos olhos de Deus, que tem uma predileção pelo simples e humilde. Quando vivemos desta forma, o poder de Cristo irrompe através de nós e transforma o que é pequeno e modesto numa realidade que fermenta toda a massa do mundo e da história”[4].

E a mensagem desta segunda parábola reforça a da anterior: “O reino de Deus, embora exija a nossa cooperação, é antes de mais um dom do Senhor, uma graça que precede o homem e as suas obras. A nossa pequena força, aparentemente impotente face aos problemas do mundo, se somada à de Deus, não teme obstáculos, porque a vitória do Senhor é certa (...). A semente brota e cresce, porque o amor de Deus a faz crescer”[5].


“JESUS ANUNCIAVA a Palavra usando muitas parábolas como estas, conforme eles podiam compreender. E só lhes falava por meio de parábolas, mas, quando estava sozinho com os discípulos, explicava tudo” (Mc 4, 33-34). É assim que São Marcos conclui o seu relato. O evangelista distingue entre o povo que ouvia os ensinamentos de Jesus pela primeira vez ou de forma ocasional, e os discípulos que seguiam o Senhor habitualmente. Com estes últimos, Jesus passa longos períodos de tempo em que lhes explica os seus ensinamentos de forma mais aprofundada. Estes discípulos teriam começado sendo apenas mais uma das pessoas: um dia, alguém lhes falou de Jesus e eles vieram para o ouvir, talvez por curiosidade. Mas depois de um ou mais contatos com ele, eles tornaram-se discípulos.

Algo semelhante acontece com cada um de nós. Quando encontramos Jesus nas páginas do Evangelho, imediatamente queremos saber mais, queremos aprofundar o significado da sua vida e das suas palavras. Sentimos que em Cristo “habitam todos os tesouros e sabedoria escondidos”[6], e queremos ser enriquecidos por eles. “É possível, mesmo agora, aproximar-se intimamente de Jesus, em corpo e alma. Cristo marcou-nos claramente o caminho: pelo Pão e pela Palavra; alimentando-nos com a Eucaristia e conhecendo e praticando o que nos veio ensinar, ao mesmo tempo que conversamos com Ele na oração”[7]. E com toda a naturalidade, mesmo que às vezes também exija esforço, procuramos a companhia assídua de Nosso Senhor. Então compreendemos melhor Maria, que “guardava todos estes fatos e meditava sobre eles em seu coração” (Lc 2, 19). Podemos pedir à nossa Mãe que também nós saibamos aceitar a Palavra de Deus e aprofundar no seu significado, para que ela possa dar frutos abundantes.


[1] Francisco, Ângelus, 14/06/2015.

[2] São Josemaria, Sulco, n. 860.

[3] cf. São João Crisóstomo, Homilia 7 [atribuída], PG 64, 21-26.

[4] Francisco, Ângelus, 14/06/2015.

[5] Bento XVI, Ângelus, 17/06/2012.

[6] São João da Cruz, Cântico espiritual, canto 36, 3.

[7] São Josemaria, É Cristo que Passa, n. 118.