Meditações: Quinta-feira da 5ª semana da Quaresma

Reflexão para meditar na quinta-feira da 5ª semana da Quaresma. Os temas propostos são: Deus é fiel; A promessa de Deus vence qualquer obstáculo; Esperar em Deus.


“EIS A MINHA ALIANÇA contigo: tu serás pai de uma multidão de nações” (Gen. 17,4), disse Deus a Abraão, ao estabelecer a sua Aliança. O Senhor lhe promete um povo numeroso e uma terra para compartilhar a alegria de estar com Ele. Deus se compromete a ser fiel a esse povo da promessa: “uma aliança eterna, para que eu seja teu Deus e o Deus de teus descendentes” (Gen. 17,7).

Essas promessas, porém, passaram por momentos de aparente escuridão. Há momentos em que parece que serão esquecidas, como quando o Senhor pede a Abraão que sacrifique o seu filho Isaac. Do ponto de vista puramente humano, não se entende um pedido assim. Mas o patriarca sabe que Deus é fiel e raciocina com base na fé. Sabe que seus planos nem sempre podem ser totalmente compreendidos, aqui e agora. Portanto, confia em Javé, que sabe mais, e espera “contra toda esperança” (Rom 4,18). No último momento, um cordeiro substituirá Isaac no sacrifício para que o filho de Abraão permaneça com vida e, nele, possa se cumprir a promessa de uma descendência numerosa.

Esta lembrança do patriarca ajuda-nos a preparar a celebração do Tríduo Pascal. Em breve recordaremos como esse misterioso episódio assumiu todo o seu significado na Cruz. Assim como Isaac foi substituído por um cordeiro no último momento, o sacrifício de Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, libertará da morte todo aquele que nele crê: abrirá para nós as portas da pátria definitiva junto a um povo numerosíssimo.


JESUS ​​REVELA no Evangelho que as promessas feitas a Abraão, na verdade, alcançam uma vida que vai além da morte. “Em verdade, em verdade vos digo: se alguém guardar a minha palavra, jamais verá a morte” (Jo 8,51). Alguns judeus acharam difícil abrir-se a esse significado transcendente das promessas e acusam Jesus: “Agora sabemos que tens um demônio. Abraão morreu e os profetas também (…) Quem pretendes ser?” (Jo 8,52-53). Mas essa raiva contra Jesus, que O levará à Cruz como um cordeiro imolado, estará justamente dando cumprimento, inesperadamente, ao que foi prometido. Isso ocorreu com frequência ao longo da história da salvação: quando o horizonte parece fechar-se aos planos de Deus, o rio das promessas atravessa cada etapa da história, ininterruptamente.

“Vosso pai Abraão exultou, por ver o meu dia; ele o viu, e alegrou-se” (Jo 8,56), Jesus responde. A segurança nas promessas do Senhor é o motivo mais forte de paz e alegria para aquele que espera. Não há nada que possa tirar de nós essa segurança, baseada na fidelidade de Deus. Não importa o que aconteça, Ele nos prometeu que sempre será nosso Deus.

A esperança é “aquela virtude que deflui sob a água da vida, mas que nos sustenta para não afogar nas muitas dificuldades, para não perder aquele desejo de encontrar Deus, de encontrar aquele rosto maravilhoso que todos veremos um dia”[1]. A partir de Cristo, o rio das promessas feitas a Abraão continua na Igreja, abrindo caminho na história como uma corrente de esperança. Também nos momentos mais sombrios, quando parece que esse rio não vai progredir, aparecem homens e mulheres de fé que, como Abraão, sabem que Deus é fiel. Eles também, esperando contra toda esperança, sabem que são portadores das promessas de Deus. “Tenho visto, em muitas vidas – dizia São Josemaria, que a esperança em Deus acende maravilhosas fogueiras de amor, com um fogo que mantém palpitante o coração, sem desânimos, sem decaimentos, embora ao longo do caminho se sofra”[2].


ESTA ESPERANÇA é o tema de uma meditação pregada por São Josemaria em 26 de julho de 1937[3]. Encontrava-se refugiado na Legação de Honduras em Madri. O Opus Dei existia há apenas alguns anos e a sua atividade foi interrompida pela Guerra Civil Espanhola. As vidas dos primeiros fiéis da Obra corriam perigo, talvez pudessem ver-se tentados pelo pessimismo. Então São Josemaria quis elevar o olhar deste grupo de jovens, lembrando-lhes como Deus permanece sempre fiel, suscitando em cada época homens e mulheres santos que renovam a esperança.

Nessa meditação, começa lembrando os primeiros cristãos. Nada os distinguia dos seus iguais, exceto “a luz vibrante que lhes arde dentro do peito”. Por meio deles, “a voz de Cristo soa cada vez mais fortemente”. E quando, com o passar dos séculos, aquele fervor dos primeiros cristãos parecia ter se atenuado, Deus suscitou São Francisco e São Domingos, e surgiu uma nova vitalidade espiritual que fez o mundo reviver. No século XVI surgiram Santo Inácio de Loyola e São Francisco Xavier, cuja obra de evangelização chegaria aos confins da terra. E uma mulher, Teresa de Ahumada, suscitará na Igreja, autênticos “geradores de intensa vida espiritual” com a fundação de seus conventos.

São Josemaria apresentou àqueles jovens do início do século XX alguns marcos históricos para concluir que o Senhor continua fiel às suas promessas. “Deus não cortou as mãos. Non est abbreviata manus Domini. O poder de Deus não se encolheu; continua a conceder novas maravilhas a favor dos homens”. Somos também convidados a ser portadores dessa esperança que vivifica cada época da história. Nossa Senhora, esperança nossa, nos ajudará a levar a alegria de Cristo a todos os homens.


[1] Francisco, Homilia, 17/03/2016.

[2] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 205.

[3] São Josemaria, Crescer para dentro,Non est abbreviata manus domini”, 26/07/1937.