A luz da fé (5): «Procurarei, Senhor o teu rosto»: a fé no Deus pessoal

A fé cristã é uma fé com Rosto, uma fé que diz: não estás só no mundo… há Alguém que quis que existisses, que te disse «vive!».

Pedro e João correndo para o sepulcro, de Eugène Burnand.

«De ti pensa o meu coração: “Procura o seu rosto”. Procurarei, Senhor o Teu rosto» (Sl 27, 8). Este verso do salmista responde a um motivo que percorre a Sagrada Escritura, do Génesis ao Apocalipse[1]: toda a história de Deus com os homens, que continua atual, por entre as suas páginas. Neste anseio se expressa, pois, algo que também bate – de um modo mais ou menos explícito – no coração dos homens e mulheres do século XXI. Porque se durante anos pôde parecer que o declínio da religião no mundo ocidental era imparável, que a fé em Deus era já pouco mais do que um móvel obsoleto diante da cultura moderna e do mundo científico, de facto continua viva a procura de Deus e de um sentido transcendente para a própria existência.

HOJE TORNOU-SE MAIS DIFÍCIL RECONHECER O ROSTO DE UM DEUS PESSOAL, OU SENTIR DE MODO VITAL A SUA PROXIMIDADE

Nesta procura do sagrado, não obstante, verificou-se uma notável alteração qualitativa. O quadro das crenças é hoje mais complexo e fragmentado do que no passado. Na Igreja Católica, a prática caiu e aumentaram os que se declaram cristãos, mas não aceitam alguns aspetos da doutrina de fé ou da moral. Também há uma tendência para misturar livremente crenças diversas (por exemplo, o cristianismo e o budismo). Aumentou o número de pessoas que dizem acreditar numa força impessoal e não no Deus da fé cristã, bem como o dos membros das religiões não cristãs, especialmente orientais, ou movimentos New Age. Para muitos, a imagem do divino desvanece-se nos contornos de uma força cósmica, de uma fonte de energia espiritual ou de um ser distante e indiferente. Pode dizer-se, afinal, que no presente ambiente cultural se tornou mais difícil reconhecer o rosto de um Deus pessoal, considerar verdadeiramente credível a mensagem cristã sobre o Deus que se tornou visível em Jesus Cristo, ou sentir de modo vital a sua proximidade.

Se há culturas em que a visão impessoal de Deus se deve a que a fé cristã tenha tido pouco influxo sobre elas, no mundo ocidental trata-se antes de um fenómeno cultural complexo: «um estranho esquecimento de Deus» pelo qual «parece que tudo corre da mesma forma sem ele»[2]. Este esquecimento, que não pode evitar um certo «sentimento de frustração, de insatisfação de tudo e de todos»[3], manifesta-se, entre outras coisas, na tendência para conceber a religião numa ótica individual, como um “consumo” de experiências religiosas, em função das próprias necessidades espirituais. Ainda que a partir dessa visão seja difícil compreender que Deus nos chama a uma relação pessoal, também o não facilitava uma conceção bastante estendida anteriormente, que via a prática religiosa fundamentalmente como uma “obrigação” ou um mero dever exterior para com Deus. É elucidativo nesse sentido o olhar penetrante de S. John Henry Newman sobre a história: «cada século é como os outros, ainda que para aqueles que nele vivem lhes pareça pior do que qualquer dos anteriores»[4].

O contexto em que a fé cristã se situa na atualidade reveste-se, certamente, de uma nova complexidade. Mas também hoje – como ontem – é possível redescobrir a força esmagadora de uma fé com Rosto, uma fé que nos diz: não estás só no mundo; há Alguém que quis que existas, que te disse «vive!» (cf. Ez 16, 6) e que te quer feliz para sempre. O Deus de Jesus Cristo, criticado por «ter rebaixado a existência humana, retirando novidade e aventura à vida»[5], quer realmente que tenhamos vida, e vida em abundância (cf. Jo 10, 10), ou seja, uma felicidade que nada nem ninguém nos poderá tirar (cf. Jo 16, 22)

O mistério de um Rosto e os ídolos sem rosto

De modo especial no Ocidente, algumas pessoas entendem hoje a espiritualidade e a religião como antagónicas: enquanto na “espiritualidade” se apercebem de autenticidade e proximidade – trata-se das suas experiências, dos seus sentimentos – na religião vêm sobretudo um corpo de normas e de crenças que lhes é alheio. A religião aparece assim, talvez, como um objeto de interesse histórico e cultural, mas não como uma realidade essencial para a vida pessoal e social. Juntamente com outros fatores, isso pode ficar a dever-se a certas carências na catequese, porque, de facto, a fé cristã é chamada a fazer-se experiência na vida de cada um, como o são os encontros interpessoais, a amizade, etc. «A vida interior – escrevia S. Josemaria – se não é um encontro pessoal com Deus, não existirá»[6]. Nessa mesma linha, o Papa Francisco escreveu: «convido cada cristão, em qualquer lugar e situação em que se encontre, a renovar agora mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo; pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de tentar fazê-lo todos os dias sem descanso. Não há razão para que alguém pense que este convite não é para ele»[7].

O ENCONTRO COM DEUS NÃO RESPONDE À LÓGICA IMEDIATA DO AUTOMÁTICO: NÃO SE ACEDE A UMA PESSOA COMO SE ACEDE A UM SITE, SEGUINDO SIMPLESMENTE UM LINK

Este encontro, no entanto, não responde à lógica imediata do automático. Não se acede a uma pessoa como se acede a um site, seguindo simplesmente um link; nem se descobre verdadeiramente uma pessoa como se encontra um objeto qualquer. Mesmo quando parece que o encontro de Deus foi repentino, como sucede com algumas conversões, os relatos dos convertidos costumam mostrar como aquele passo se tinha vindo a preparar desde há muito tempo, em lume brando. O caminho para a fé, e a própria vida do crente, tem muito de espera paciente. «Devemos viver à espera desse encontro!»[8]. Os vaivéns da história da salvação – tanto os que são relatados na Escritura como os que vemos na atualidade – mostram como Deus sabe esperar. Deus espera porque trata com pessoas. Mas também por isso, porque Ele é Pessoa, o homem deve aprender a esperar. «A fé, pela sua própria natureza, requer renunciar à posse imediata que parece oferecer a visão; é um convite a abrir-se à fonte da luz, respeitando o mistério próprio de um Rosto, que se quer revelar pessoalmente e no momento oportuno»[9].

O episódio do bezerro de ouro no deserto (cf. Ex 32, 1-8) é uma imagem perene dessa impaciência dos homens com Deus. «Enquanto Moisés fala com Deus no Sinai, o povo não suporta o mistério do rosto oculto de Deus, não aguenta o tempo de espera»[10]. Entendem-se assim as advertências insistentes dos profetas do Antigo Testamento acerca da idolatria[11], que atravessam os séculos até hoje. Certamente, a ninguém agrada que lhe chamem idólatra: a palavra tem uma conotação de submissão e de irracionalidade que a torna pouco apreciada. No entanto, é interessante observar que os profetas dirigiam o termo sobretudo a um povo crente. Porque a idolatria não é só, nem principalmente, um problema «das gentes» que não invocam o Nome de Deus (cf. Jr 10, 25): tende também a encontrar um lugar na vida do crente, como uma “reserva” caso Deus não viesse preencher as expetativas do coração, como se Deus não fosse suficiente. «Diante do ídolo, não há o risco de uma chamada que faça sair das próprias seguranças, porque os ídolos “têm boca e não falam” (Sl 115, 5). Vemos então que o ídolo é um pretexto para se pôr a si mesmo no centro da realidade, adorando a obra das próprias mãos»[12]. Esta é, pois, a tentação: assegurar um rosto, ainda que não seja mais do que o nosso, como num espelho. «Em lugar de ter fé em Deus, prefere-se adorar o ídolo, cujo rosto se pode olhar, cuja origem é conhecida, porque o fizemos nós»[13]. Abandona-se, por parecer impossível, a procura do Deus pessoal, do Rosto que quer ser acolhido, e opta-se por rostos que escolhemos nós: deuses “personalizados” – com o sabor agridoce que às vezes deixa este adjetivo; deuses «de prata e ouro, de bronze e ferro, de madeira e pedra, que nem veem, nem ouvem, nem conhecem» (Dn 5, 23), mas que se prestam aos nossos desejos.

DEUS ESPERA PORQUE TRATA COM PESSOAS; MAS TAMBÉM POR ISSO, PORQUE ELE É PESSOA, O HOMEM DEVE APRENDER A ESPERAR

Podemos viver presos a essas seguranças durante um tempo, mais ou menos longo. Mas é fácil que um revés profissional, uma crise familiar, um filho problemático ou uma doença grave façam derrubar essa segurança. «Onde estão os deuses que fizeste para ti? Que se levantem, se é que te podem salvar» (Jr 2, 28). O homem apercebe-se, então de que está só no mundo; como Adão e Eva no paraíso depois do pecado, toma consciência de que está nu, suspenso no vazio (cf. Gn 3, 7). «Chega sempre um momento em que a alma não pode mais, não lhe bastam as explicações habituais, não o satisfazem as mentiras dos falsos profetas. E, embora o não admitam então, essas pessoas sentem fome de saciar a sua inquietação com os ensinamentos do Senhor»[14].

O Deus pessoal

Em que sentido o cristianismo pode superar as insuficiências dos ídolos e saciar essa inquietação? Enquanto para outras religiões ou espiritualidades «Deus fica muito longe, parece que não se dá a conhecer, não se faz amar»[15], o Deus cristão «deixou-se ver: no rosto de Cristo vemos a Deus, Deus tornou-se “conhecido”»[16]. O Deus cristão é o Alguém por quem suspira o coração humano. E Ele próprio veio mostrar-nos o seu rosto: «o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos e as nossas mãos tocaram a propósito do Verbo da vida (…) vo-lo anunciamos» (1Jo 1, 3). Quando todas as seguranças humanas falham, quando a vida e o seu sentido se tornam incertos, entra em cena o «Verbo da vida». Quem o recusa fica como que prisioneiro da sua necessidade de amor[17]; quem lhe abre as portas e decide não se agarrar às suas próprias seguranças ou ao seu desespero, quem se reconhece diante d’Ele como um pobre doente, um pobre cego, pode descobrir o seu rosto pessoal.

Ora, que significa que Deus é pessoa, que tem rosto? E sobretudo, esta pergunta tem sentido? Quando Filipe pede a Jesus que lhes mostre o Pai, o Senhor responde: «Quem me viu a Mim viu o Pai» (Jo 14, 9). O facto de que Deus se tenha feito homem em Jesus, de que através da sua humanidade Deus se tenha manifestado em pessoa – evento que é o próprio centro da fé cristã – mostra que esta pergunta não designa uma quimera, mas tem uma meta real.

No entanto, se Deus tem um rosto pessoal, se foi revelado em Jesus Cristo, porque ele se esconde de nossos olhos? «Não daria tudo alguém, desde que lhe fosse permitido vê-lo caminhar pela rua, ouvir o timbre da sua voz, penetrar o seu olhar, sentir o seu "poder", entender com a experiência mais íntima quem é ele?»[18]. Porque é que, se Deus veio ao mundo, voltou agora a esconder-se no seu mistério? Na realidade, o Génesis – que não é apenas sobre origens, mas também sobre os eixos da história – mostra que é antes o homem que se esconde de Deus através do pecado (ver Gn 3, 9-10).

No entanto, imaginando que Jesus tinha ficado na Terra, seria realmente mais pessoal a relação com Ele? Cada um teria, na melhor das hipóteses, apenas alguns momentos na vida para estar com ele. Algumas palavras e uma fotografia, como com os famosos... Admitindo, então, que Deus "se esconda"... pode dizer-se que o faz precisamente porque quer estabelecer uma relação pessoal com cada homem e com cada mulher: de tu a tu, de coração a coração. No relacionamento com Deus acontece, da maneira mais intensa possível, algo que é próprio de todas as relações pessoais: que nunca conhecemos o outro completamente; que é necessário procurá-lo. «Sim, por trás das pessoas procuro-te. / Não em teu nome, se o dizem, / não na tua imagem, se a pintam. / por trás, por trás, mais além»[19].

«Aquele que me viu, viu o Pai» (Jo 14, 9). A Encarnação de Deus torna a personalidade humana um caminho apto para se aproximar ao mistério do Deus pessoal. De facto é o único caminho, porque não conhecemos de modo direto nenhum outro modo de existência pessoal. Ao percorrê-lo, no entanto, é necessário, evitar o antropomorfismo: a tendência para descrever um Deus à medida do homem, algo assim como um ser humano aumentado, aperfeiçoado. Já o próprio facto de que Deus seja uma Trindade de pessoas mostra como o seu Ser pessoal ultrapassa o âmbito da nossa própria experiência; mas não a torna por isso inútil para tentar aproximar-nos do seu Mistério, com as asas da fé e da razão[20].

Retomemos, pois, a pergunta: Que significa ser pessoa? Uma pessoa distingue-se dos seres não pessoais porque «se possui a si mesma pela vontade e se compreende perfeitamente pela inteligência: é a transcendência de um ser que pode dizer “eu”»[21]. Transcendência, porque o “eu” de cada pessoa – mesmo de quem não pode dizer “eu” – torna-a uma realidade irredutível ao resto do universo; por assim dizer, cada pessoa é um abismo. «Um abismo chama outro abismo» (Sl 42, 8), diz o versículo de um salmo, em que Sto. Agostinho reconhece o mistério da pessoa humana[22]. Pois bem, dizer que Deus é pessoa significa que se trata de um “Eu” que é dono de si e que é distinto de mim, mas que ao mesmo tempo não está junto a mim como qualquer outra pessoa humana. Deus é, como também dizia Sto. Agostinho numa expressão de uma profundidade e beleza difíceis de superar, interior intimo meo: Ele está mais profundamente dentro de mim do que eu próprio[23], porque se encontra na origem mais profunda do meu ser. Ele é que pensou em mim, e é quem já nunca deixará de o fazer.

DEUS ESTÁ MAIS PROFUNDAMENTE DENTRO DE MIM DO QUE EU PRÓPRIO, PORQUE SE ENCONTRA NA ORIGEM MAIS PROFUNDA DO MEU SER

Precisamente aqui se define uma fronteira decisiva entre o nosso ser pessoal e o de Deus. A nossa existência é radicalmente dependente de Deus: somos porque Ele quis; o nosso ser está nas suas mãos. «No começo da filosofia ocidental aparece repetidamente a questão do arque, o princípio de todas as coisas, e dão-se-lhe variadas e profundas respostas. Mas há apenas uma resposta que realmente responde: aperceber-se religiosamente de que o meu princípio está em Deus. Digamo-lo melhor: na vontade de Deus, dirigida para mim, de que hei de ser, e ser o que sou»[24]. Deus decidiu que eu exista e seja precisamente tal como sou; por isso posso aceitar-me e considerar-me um bem. É o que sucede cada vez que o filho se descobre amado pelos pais, cada vez que um olhar, um sorriso, um gesto o diz: «Para mim é bom que existas!»[25]: reconhece-se inteiramente dependente… e ao mesmo tempo querido sem reservas.

«Ele nos fez e somos seus» (Sl 100, 3). Esta dependência radical implica uma forma de domínio? Para responder afirmativamente seria necessário dizer que, quando uma mãe sorri ao seu filho pequeno, o faz com afã de o dominar. O domínio é o único modo de relação entre pessoas? Mais ainda, é o principal? Perante a lógica do domínio apresenta-se-nos a seguir outra mais poderosa: a lógica do amor. Perante a posição de quem diz a outro: «Tens que ser como eu digo», levanta-se o grito mais profundamente pessoal: «É bom que existas… como és!». Essa é a palavra que se dirige à pessoa amada, ao filho doente, ao pai idoso, quando é afirmado tal como é… e assim se ama.

Reconhecer que eu não sou a minha origem, pois, não implica aceitar, sem mais, a minha finitude: essa é uma conclusão que fica à superfície. Na realidade, significa abrir-me à infinidade de Deus; significa reconhecer que «enquanto eu existo, somos dois. A minha existência é na sua própria essência, relação. Só subsisto porque sou pronunciado por outro. Reconhecer essa absoluta dependência é simplesmente ratificar o que sou. Só existo porque sou amado. E existir será para mim amar pelo meu lado, responder à graça com a ação de graças»[26]. A Revelação cristã dá-nos a conhecer um Deus que se rege por esta lógica. Um Deus que cria por Amor, por uma superabundância de Amor. Mais: um Deus que é Amor. E precisamente no encontro com ele descobrimos o nosso rosto pessoal: descobrimos quem somos.

O rosto de Deus

«Não somos o produto casual e sem sentido da evolução – dizia Bento XVI ao ser eleito para a sede de Pedro –. Cada um de nós é o fruto de um pensamento de Deus. Cada um de nós é querido, cada um é amado, cada um é necessário»[27]. Esta realidade não é simplesmente objeto de uma captação intelectual. Por outras palavras, não basta dizer: «De acordo, já percebo». É uma faísca que inflama a vida inteira: dá uma visão do cristianismo que supera em muito a de um sistema intelectual e transforma a existência a partir da sua raiz.

RECONHECER QUE EU NÃO SOU A MINHA ORIGEM SIGNIFICA ABRIR-ME À INFINIDADE DE DEUS; RECONHECER QUE SÓ EXISTO PORQUE SOU AMADO

A partir desta nova visão, a oração adquire um lugar central na existência, tal como vemos na vida de Jesus[28]. Longe de algumas conceções que desfiguram o seu sentido, a oração não consiste num esvaziamento de si, nem no acatamento servil de uma vontade alheia. Ilustra-o bem o Papa Francisco, ao descrever como reza: «Sinto como se estivesse nas mãos de outro, como se Deus me estivesse a pegar na mão. Acho que há que chegar à alteridade transcendente do Senhor, que é Senhor de tudo, mas que respeita sempre a nossa liberdade»[29]. A oração é, então, em primeiro lugar, descobrir que estamos com Deus: Alguém vivo, real, que não sou eu mesmo; Alguém em quem descubro realmente quem sou, em quem descubro o meu verdadeiro rosto.

Ao reconhecermo-nos criados por Deus, pois, não nos sentimos negados, mas precisamente afirmados. Alguém nos disse: «É bom que existas!». E esse Alguém, além disso, ratificou-o e definiu-o para sempre ao dar a sua vida por cada um de nós. A alternativa diante de Deus não é submeter-se ou revoltar-se, mas fechar-se ao amor ou, simplesmente, deixar-se amar para responder amando. A nossa Origem é o Amor, e para o Amor fomos eleitos e chamados por Deus. Por isso, quando no céu «virmos o rosto de Deus, saberemos que sempre o conhecemos. Foi parte de, fez, apoiou e moveu, momento a momento, a partir de dentro, todas as nossas experiências terrenas de amor puro. Tudo o que era nelas amor verdadeiro, ainda na terra, era muito mais Seu do que nosso, e só era nosso por ser Seu»[30].

* * *

Leituras para aprofundar

Francisco, Evangelii gaudium, 24/11/2013, n. 264-267: “O encontro pessoal com o amor de Jesus que nos salva”.

Francisco, Lumen Fidei, 29/06/2013, n. 8-39.

Bento XVI, Audiência, 16/01/2013.

Conselho Pontifício para a Cultura, Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso (2003), Jesus Cristo, portador de água viva. Uma reflexão cristã sobre a «Nova Era» (acerca do cristianismo, perante o auge da New Age e outras espiritualidades).

Congregação para a Doutrina da fé (1989) Orationis Formas. Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre alguns aspetos da meditação cristã (acerca da relação pessoal com Deus, como aspeto essencial da oração cristã)

Borghello, U., Liberare l’amore. La comune idolatria, l’angoscia in agguato, la salvezza cristiana, (caps. 2-4), Ares, 2009.

Burggraf, J., “La libertad, don y tarea”, em Burggraf, J. La transmisión de la fe en la sociedad postmoderna y otros escritos, Eunsa, 2015.

Daniélou, J., Dios y nosotros, Cristiandad, Madrid 2003, cap. 2, “El Dios de los filósofos” (orig. Dieu et nous).

Guardini, R., As idades da vida, Quadrante, S. Paulo (orig. Die Annahme seiner selbst).

Mundo y persona. Ensayos para una teoría cristiana del hombre, Encuentro, 2000. (orig. Welt und Person. Versuche zur christlichen Lehre vom Menschen)

Ratzinger, J. Introdução ao cristianismo (IV.2 “O Deus pessoal”) Principia, 2005(orig. Einführung in das Christentum)

El Dios de los cristianos (I.1 “Dios tiene nombre”), Sígueme, 2009 (orig. Der Gott Jesu Christi. Betrachtungen über den Dreieinigen Gott).

Fé, verdade e tolerância. O cristianismo e as grandes religiões do mundo (I.1. “Unidade e multiplicidade das religiões. Lugar da fé cristã na história das religiões”) Universidade Católica Editora, Lisboa 2006 (orig. Glaube, Wahrheit, Toleranz. Das Christentum und die Weltreligionen)

– “Sobre el concepto de persona en teología”, en Ratzinger, J. Palabra en la Iglesia, Sígueme, 1976 pp. 165-180 (orig. “Zum Personverständnis in Theologie”). Disponível on-line em inglês.


[1] «Terei que me ocultar do teu rosto, viver errante e vagabundo pela terra» (Gn 4, 14); «Não poderás ver o meu rosto, pois nenhum ser humano pode vê-lo e continuar a viver» (Ex 33, 20); «O Senhor faça brilhar o seu rosto sobre ti e te conceda a sua graça» (Nm 6, 25); «Porque me escondes o teu rosto e me tratas como teu inimigo?» (Jb 13, 24); «Quando poderei ir ver o rosto de Deus?» (Sal 42, 3); «Não afastarei de vós o meu rosto, porque sou misericordioso» (Jr 3, 12); «Verão o seu rosto e levarão o seu nome gravado na fronte» (Ap 22, 4).

[2] Bento XVI, Homilia, 21/08/2005.

[3] Ibid.

[4] S. John Henry Newman, Lectures on the Prophetical Office of the Church, Londres 1838, p. 429.

[5] Francisco, Lumen Fidei, 29/06/2013, n. 2.

[6] S. Josemaria, Cristo que passa, n. 174.

[7] Francisco, Evangelii gaudium, 24/11/2013, n. 3.

[8] Francisco, Audiência geral, 11/10/2017.

[9] Francisco, Lumen Fidei, n. 13.

[10] Ibid.

[11] cf. por exemplo Ba 6, 45-51; Jr 2, 28; Is 2, 8; 37, 19.

[12] Francisco, Lumen Fidei, n. 13.

[13] Ibid.

[14] S. Josemaria, Amigos de Deus, n. 260.

[15] Bento XVI, Lectio divina, 12/02/2010.

[16] Ibid.

[17] cf. U. Borghello, Liberare l’amore, Milão, Ares 2009, p. 34.

[18] R. Guardini, O Senhor, IV.6, “Revelação e mistério”.

[19] P. Salinas, La voz a ti debida em Poesías Completas, Barral 1971, p. 223.

[20] Com a imagem das “asas” S. João Paulo II refere-se a fé e à razão, no início da sua encíclica Fides et Ratio (14/09/1998).

[21] J. Daniélou, Dios y nosotros, Cristiandad, Madrid 2003, p. 95 (o sublinhado é nosso).

[22] cf. Sto. Agostinho, Enarrationes in Psalmos, 41, n. 13-14.

[23] Sto. Agostinho, Confissões III.6.11.

[24] R. Guardini, A aceitação de si mesmo – As idades da vida, Quadrante, S. Paulo.

[25] Esta é a definição que dá do amor J. Pieper na sua conhecida obra As Virtudes fundamentais, Rialp, Madrid 2012, p. 435-444.

[26] J. Daniélou, Deus e nós, p. 108.

[27] Bento XVI, Homilia na Missa de início do pontificado, 24/04/2005.

[28] cf. Bento XVI, Audiência, 30/11/2011.

[29] S. Rubin, F. Ambrogetti, Papa Francisco, Ed. Paulinas, Lisboa, 2013, p. 55.

[30] C. S. Lewis, Los cuatro amores, Rialp, Madrid 1991, p. 153.

Lucas Buch - Carlos Ayxelá