Eu tinha que amar o meu bispo reconhecendo com satisfação o lugar que ele ocupa na diocese por vontade de Jesus Cristo, de mestre e de pastor. Também tinha que viver a minha condição de seu colaborador na tarefa de santificar os fiéis, no lugar que ele entendesse mais oportuno, o que implicava estar atento a todas as suas indicações episcopais para as levar à prática com prontidão, inteligência, fidelidade e total disponibilidade, mesmo nos casos em que me encomendassem tarefas pouco atractivas, humanamente falando.
Por outro lado, devia ter consciência de que a responsabilidade que pesa sobre os ombros de um bispo é muito grande e que exige muita graça de Deus e muita santidade. A minha comunhão íntima com ele deveria levar-me a rezar todos os dias pelas suas intenções, principalmente quando soubesse que tinha especial necessidade da minha oração.
Além disso, tinha que estar plenamente disponível para secundar a tarefa que me encomendasse, fosse gozosa ou custosa, vendo nela a mão de Deus. Somente assim poderia obedecer sem objecções, e de modo alegre, livre e incondicional.
O meu bispo, além disso, pela sua condição de homem, tinha as suas limitações, inclusive físicas; as quais, no contexto em que exponho, deveriam ser um motivo mais para o acarinhar, inclusive humanamente e ampliar o manto de compreensão e de desculpa, levando à prática a recomendação paulina: “levai as cargas uns dos outros”.
Sem jactância da minha parte – pois tudo é graça de Deus – posso dizer que o facto de me ter associado à Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz me ajudou a amar de verdade os meus bispos, a rezar por eles todos os dias na Santa Missa e no Santo Rosário, a aceitar com alegria as nomeações que noutras circunstâncias talvez não tivesse aceitado bem, a sentir-me plenamente identificado com as suas orientações pastorais – sem que isto tenha sido obstáculo para lhes manifestar lealmente as minhas opiniões – a lutar seriamente para não murmurar deles e a arrepender-me sinceramente se alguma vez tivesse caído nessa tentação e, finalmente, a estar contente nas diversas tarefas que me encomendassem, fossem humildes ou brilhantes.
Posso dizer que até humanamente tem valido a pena, pois isto trouxe-me serenidade e paz interiores e uma alegria cujo sabor está reservado aos que a provam, ainda que às vezes, tenha sido envolvida em lágrimas físicas ou morais.
Depois do que foi dito, é fácil compreender que a minha adscrição à Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz, não me criou a menor dificuldade em relação à minha condição de sacerdote secular diocesano. Pelo contrário, facilitou-a e potenciou-a, pois levava-me a amar os meus irmãos sacerdotes com obras, sem distinções de idade, formação ou carácter; a ter uma comunhão hierárquica sincera e leal com os meus bispos; e a trabalhar pastoralmente com as almas que, de acordo com as circunstâncias, me tinham sido encomendadas.
Por isso, agradeço muito ao meu Pai Deus que um dia, inesperadamente, viesse um sacerdote à pequena vila, na montanha, de poucos habitantes e muita neve, onde eu estava sem muito boa vontade, para me abrir horizontes e transmitir-me a sua alegria de servir, que Deus lhe tinha concedido.
José Antonio Abad
Professor da Faculdade de Teologia do Norte de Espanha.