Que é o Angelus e como se reza?

O Angelus é uma oração para contemplar o mistério da Encarnação, o acontecimento pelo qual “o Filho de Deus se fez homem para nos tornar Deus”. É uma pequena pausa no trabalho que nos faz mergulhar na intimidade da Virgem Maria e da Santíssima Trindade.

Sumário:

1 - Que é o Angelus?

2 - Quando nasceu esta devoção?

3 - Por que é a meditação desta cena importante para os cristãos?

4 - Quando se reza o Angelus?

5 - Existe relação entre a oração do Angelus e o “Angelus do Papa”?


1. Que é o Angelus?

O Angelus é o nome de uma oração mariana e cristológica da Igreja Católica em honra da Virgem Maria. Esta oração «convida-nos a meditar sobre o mistério da Encarnação, encorajando os cristãos a tomar Maria como ponto de referência nos vários momentos do seu dia, para a imitar na sua disponibilidade para realizar o projeto divino da salvação»[1]. A esta contemplação da vida de Cristo junta-se o objetivo de saudar Nossa Senhora e de recorrer à sua misericordiosa intercessão.

É uma composição litúrgica que, com a sua estrutura simples e o seu carácter bíblico, nos leva a comemorar a Encarnação do Filho de Deus e na qual pedimos para sermos conduzidos pela sua paixão e morte de cruz até à glória da ressurreição. A oração do Angelus, ou “saudação angélica”, consiste na recitação de três versículos intercalados por três “Ave-Marias”:

«O Anjo do Senhor anunciou a Maria.
E Ela concebeu pelo Espírito Santo».
Avé Maria…

«Eis aqui a escrava do Senhor.
Faça-se em mim, segundo a Vossa palavra».
Avé Maria…

«E o Verbo Divino se fez homem
E habitou entre nós».
Avé Maria…

Esta parte recorda o pronto assentimento da Virgem à vontade do Senhor e a vinda do Salvador para o meio de nós. Depois, implora-se a intercessão de Maria:

«Rogai por nós, santa Mãe de Deus.
Para que sejamos dignos das promessas de Cristo».

Termina com uma oração que indica os acontecimentos centrais da Redenção:

Oremos. Infundi Senhor, como Vos pedimos, a vossa graça em nossas almas, para que nós, que pela anunciação do Anjo conhecemos a encarnação de Cristo, vosso Filho, pela Sua Paixão e morte na Cruz, sejamos conduzidos à glória da Ressurreição. Pelo mesmo Cristo Nosso Senhor. Ámen».

Rezar o Angelus com o devocionário móvel

Textos de São Josemaria para meditar

Porque Maria está bem unida à maior manifestação de amor de Deus, a Encarnação do Verbo, que se fez homem como nós e carregou com as nossas misérias e pecados. Maria, fiel à missão divina para que foi criada entregou-se e entrega-se continuamente em serviço dos homens, chamados todos eles a serem irmãos do seu Filho Jesus. E assim a Mãe de Deus é realmente agora a Mãe dos homens também.

(Cristo passa, n. 140)

Olhai: para a nossa Mãe, Santa Maria, jamais deixamos de ser pequenos, porque Ela nos abre o caminho até ao Reino dos Céus, que será dado aos que se tornam meninos. De Nossa Senhora nunca nos devemos afastar. Como a honraremos? Tendo intimidade com Ela, falando com Ela, manifestando-lhe o nosso carinho, ponderando no nosso coração os episódios da sua vida na terra, contando-lhes as nossas lutas, os nossos êxitos e os nossos fracassos.

Descobriremos assim, como se as recitássemos pela primeira vez, o sentido das orações marianas, que sempre se rezaram na Igreja. O que são a Ave-Maria e o Angelus, senão louvores calorosos à Maternidade divina? E no Santo Rosário – essa maravilhosa devoção, que nunca me cansarei de aconselhar a todos os cristãos – passam pela nossa cabeça e pelo nosso coração os mistérios da conduta admirável de Maria, que são os próprios mistérios fundamentais da fé.

(Amigos de Deus, n. 290)


2. Quando nasceu esta devoção?

No início da Idade Média, os sinos dos mosteiros e conventos tocavam para recitar a segunda oração, depois das “Completas[2] (parte da Liturgia das Horas). No século XIII, iniciou-se o costume de recitar três Ave Marias ao som dos sinos ao fim da tarde, prática que rapidamente se estendeu à manhã. No século XV, em França, acrescentou-se a este costume a recitação ao meio-dia[3], prática que evoluiu para as orações que hoje constituem o Angelus.

O primeiro documento que regista o Angelus na sua forma atual é um catecismo impresso em Veneza em 1560. A prática deste costume generalizou-se em 1571, quando o Papa São Pio V inseriu a recitação do Angelus no “Pequeno Ofício de Nossa Senhora” (devoção litúrgica à Virgem Maria). Posteriormente, em 1724, a sua difusão tornou-se universal e definitiva com o documento “Iniunctæ nobis” do Papa Bento XIII, no qual concedeu indulgências para a recitação do Angelus[4].

O Angelus (1857-1859) - Jean-François Millet

O Angelus foi novamente modificado pelo Papa Bento XIV em 1742, que determinou que fosse substituído pela antífona Regina cæli durante o tempo pascal. É este o costume ainda hoje em vigor. No entanto, em 1815, o Papa Pio VII acrescentou a recitação de três Glória no final do Angelus, em ação de graças pelos dons concedidos a Nossa Senhora pela Santíssima Trindade. Esta última prática é mais típica de Itália.

Textos de São Josemaria para meditar

Ao contemplares a cena da Encarnação, reforça na tua alma a decisão da “humildade prática”. Repara que Ele se abaixou, tomando a nossa pobre natureza.

Por isso, em cada dia, hás de reagir imediatamente, com a graça de Deus, aceitando – querendo – as humilhações com que Nosso Senhor te deparar.

(Forja, n. 139)

Vedes com que simplicidade? – “Ecce ancilla” – E o Verbo se fez carne…

- Assim agiram os santos: sem espectáculo. Se o houve foi a pesar deles.

(Caminho, n. 510)

Ó Mãe, Mãe! com essa tua palavra – “fiat” – tornaste-nos irmãos de Deus e herdeiros da sua glória. – Bendita sejas!

(Caminho, n. 512)


3. Porque é a meditação desta cena importante para os cristãos?

A Anunciação a Maria dá início ao cumprimento das promessas de Deus ao seu povo. O arcanjo Gabriel apresenta à Virgem Maria o projeto de salvação de Deus, pelo qual ela é convidada a tornar-se a Mãe do Redentor. Maria responde com confiança ao projeto de Deus, certa de que para Ele nada é impossível. Assim, dando o seu consentimento à palavra de Deus, ela torna-se Mãe de Jesus por ação do Espírito Santo.

Com o seu assentimento, a Virgem Maria aceita de todo o coração a vontade divina de salvação e entrega-se ao serviço do seu Filho e ao Mistério da Redenção. Pela sua obediência, para a sua própria salvação e a de todo o género humano, Maria continua a colaborar com este desígnio divino, sendo mãe de todos os homens e intercessora da Igreja. «Mulher do "sim", que aceitou prontamente o convite do Anjo, responde também às nossas súplicas, escuta as nossas vozes, mesmo aquelas que permanecem fechadas no nosso coração, que não têm força para sair, mas que Deus conhece melhor do que nós próprios»[5].

O Magistério da Igreja propõe a oração do Angelus como um convite a cada um para se unir ao "sim" de Maria, para aderir com confiança à beleza do projeto que Deus preparou. É também uma oportunidade para viver a comunhão dos santos, sentindo-se apoiado pela oração de tantos fiéis que rezam esta oração todos os dias.

Textos de São Josemaria para meditar

Como nos encanta o episódio da Anunciação! Maria (quantas vezes o meditámos!) está recolhida em oração…; põe os seus cinco sentidos e todas as suas potências em diálogo com Deus… Na oração conhece a Vontade divina; e com a oração torna-a vida da sua vida.

Não te esqueças do exemplo da Virgem!

(Sulco, n. 481)

Recordai a cena da Anunciação: desce o arcanjo para comunicar a divina embaixada – a mensagem de que seria Mãe de Deus – e encontra-a retirada em oração. Maria está totalmente recolhida no Senhor, quando S. Gabriel a saúda: Deus te salve, oh cheia de graça! O Senhor é contigo. Dias depois, irrompe na alegria do Magnificat – esse cântico mariano que nos transmitiu o Espírito Santo pela delicada fidelidade de São Lucas – fruto da intimidade habitual da Virgem Santíssima com Deus.

(Amigos de Deus, n. 241)


4. Quando se reza o Angelus?

A oração do Angelus, tal como a conhecemos hoje, era originalmente rezada três vezes por dia: de manhã, ao meio-dia e à noite. Atualmente, o costume mais difundido entre os fiéis é a oração do meio-dia. Durante o Tempo Pascal (desde o dia em que se celebra a Ressurreição até ao dia de Pentecostes), a oração do Angelus é substituída pela antífona Regina Cæli, que sublinha a alegria da Ressurreição de Jesus Cristo.

Seguindo esta tradição da Igreja, São Josemaria viveu também este costume. «Depois da leitura do correio, rezava o Angelus ao meio-dia. Era um momento importante do seu dia, porque, para além de ser um colóquio filial com Nossa Senhora, marcava o momento em que a sua devoção eucarística mudava de sinal: até então tinha passado a manhã a dar graças a Deus pela Missa que tinha celebrado; a partir do Angelus começava a preparar-se para a Missa que celebraria no dia seguinte»[6]. O Angelus era o momento em que a sua devoção à Eucaristia mudava de sinal.

Textos de São Josemaria para meditar

Todas as festas de Nossa Senhora são grandes, porque constituem ocasiões que a Igreja nos oferece para demonstrar com factos o nosso amor a Santa Maria. Mas se tivesse de escolher entre essas festividades, preferiria a de hoje: a Maternidade divina da Santíssima Virgem.

Esta celebração leva-nos a considerar alguns dos mistérios centrais da nossa fé, fazendo-nos meditar na Encarnação do Verbo, obra das três pessoas da Santíssima Trindade. Maria, Filha de Deus Pai, pela Encarnação do Senhor no seu seio imaculado é Esposa de Deus Espírito Santo e Mãe de Deus Filho.

Quando a Virgem, livremente, respondeu sim aos desígnios que o Criador lhe revelou, o Verbo divino assumiu a natureza humana – a alma racional e o corpo formado no seio puríssimo de Maria. A natureza divina e a humana uniam-se numa única Pessoa: Jesus Cristo, verdadeiro Deus e, desde então, verdadeiro Homem; eterno Unigénito do Pai e, a partir daquele momento, como Homem, filho verdadeiro de Maria. Por isso, Nossa Senhora é Mãe do Verbo encarnado, da segunda Pessoa da Santíssima Trindade, que uniu a si para sempre – sem confusão – a natureza humana. Podemos dizer bem alto à Virgem Santa, como o melhor louvor, estas palavras que exprimem a sua mais alta dignidade: Mãe de Deus.

(Amigos de Deus, n. 274)


5. Existe relação entre a oração do Angelus e o “Angelus do Papa”?

O “Angelus do Papa” é um ato público do Papa em que ele reza o Angelus aos domingos ao meio-dia com os fiéis reunidos na Praça de São Pedro e é transmitido pelos meios de comunicação social. Esta prática teve início em 15 de agosto de 1954 (L'Osservatore Romano), quando a recitação do Angelus pelo Papa Pio XII foi transmitida pela primeira vez na rádio e na televisão, a pedido dos jovens da Ação Católica e por ocasião do Ano Mariano. No outono do mesmo ano, por decisão do Papa, «que gostava de abençoar os fiéis reunidos na Praça de S. Pedro, o Angelus foi rezado da janela do seu gabinete, como acontece até hoje»[7].

A oração do Angelus é também uma ocasião de proximidade entre o Papa e os fiéis. O Papa acompanha-a habitualmente com uma mensagem pastoral, uma saudação afetuosa aos peregrinos presentes na Praça de São Pedro e a todos aqueles que sintonizam através dos meios de comunicação social, e com as intenções e preocupações da Igreja que estão no centro da sua atenção e pelas quais pede orações. É uma grande oportunidade para o povo rezar juntamente com o Santo Padre.

Textos de São Josemaria para meditar

Acolhe a palavra do Papa com uma adesão religiosa, humilde, interna e eficaz: serve-lhe de eco!

(Forja, n. 133)

A fidelidade ao Romano Pontífice implica uma obrigação clara e determinada: a de conhecer o pensamento do Papa, manifestado em Encíclicas ou noutros documentos, fazendo tudo o que estiver ao nosso alcance para que todos os católicos acolham o magistério do Padre Santo e acomodem a esses ensinamentos a sua atuação na vida.

(Forja, n. 633)

Oferece a oração, a expiação e a ação por esta finalidade: “ut sint unum!”, para que todos os cristãos tenham uma mesma vontade, um mesmo coração, um mesmo espírito: para que “omnes cum Petro ad Iesum per Mariam!”, todos, bem unidos ao Papa, vamos a Jesus, por Maria.

(Forja, n. 647)

Maria, na verdade, edifica continuamente a Igreja, reúne-a, mantém-na coesa. É difícil ter autêntica devoção à Virgem sem nos sentirmos mais vinculados aos outros membros do Corpo Místico e também mais unidos à sua cabeça visível, o Papa. Por isso me agrada repetir: Omnes cum Petro ad Iesum per Mariam! – todos, com Pedro, a Jesus, por Maria! E assim, ao reconhecer-nos como parte da Igreja e convidados a sentir-nos irmãos na Fé, descobrimos mais profundamente a fraternidade que nos une à Humanidade inteira, porque a Igreja foi enviada por Cristo a todos os homens e a todos os povos.

(Cristo que Passa, n. 139)



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[1] São João Paulo II, Audiência, 05/11/1997.

[2] cf. G. M. Roschini e S. R. Maria, A Mãe de Deus segundo a fé e a teologia.Madrid, Apostolado de la Prensa, 1962.

[3] cf. A. Royo Marín, La Virgen María: Teología y espiritualidad marianas. Madrid, Biblioteca de autores cristianos, 1997.

[4] Ibid.

[5] Francisco, Audiência, 24/03/2021.

[6] Beato Álvaro del Portillo e C. Cavalleri, Entrevista sobre o fundador do Opus Dei. São Paulo, Editora Quadrante, 2014.

[7] M. P. Daud, Qual o Papa que inaugurou a tradição de rezar o Angelus em São Pedro?, 25/03/2021, recuperado em 30/04/2021, de aleteia.org.