Missa exequial pelo Sumo Pontífice Emérito Bento XVI

No dia 5, às 9:30, o Papa Francisco celebrará na Praça de São Pedro a Missa Exequial por Bento XVI. Disponibilizamos também o testamento pessoal do Papa Emérito.

Haverá mais de 400 bispos e quatro mil sacerdotes a concelebrar. Mais de 600 jornalistas já foram acreditados. As orações pelo Papa Emérito, bem como todos os ritos que precedem e seguem o funeral, serão transmitidas em direto pela televisão.

Para o funeral de Bento XVI esperam-se delegações oficiais da Alemanha e de Itália, bem como numerosos representantes ecuménicos, incluindo os Metropolitas Emmanuel de Calcedónia e Policarpo de Itália pelo Patriarcado Ecuménico de Constantinopla, e o Metropolitano António de Volokolamsk, presidente do Departamento de Relações Externas da Igreja do Patriarcado de Moscovo. Além disso, estarão também bispos de muitas Igrejas Ortodoxas na Europa, América e Ásia. O moderador do Conselho Ecuménico das Igrejas, Bispo Heinrich Bedford-Strohm, também estará presente.

No final da Celebração Eucarística, o Papa Francisco presidirá ao rito da Ultima Commendatio (última recomendação) e da Valedictio (despedida). Posteriormente, o caixão do Papa Emérito será transferido para a Basílica de São Pedro e depois para as Grutas Vaticanas, para o seu enterro. Durante um rito privado, será colocada uma fita à volta do caixão, com selos do Capítulo de São Pedro, da Casa Pontifícia e do Gabinete para as Celebrações Litúrgicas. O ataúde de cipreste será então colocado dentro de um ataúde de zinco maior que será soldado e selado. Este caixão de zinco será, por sua vez, colocado numa caixa de madeira, que será colocada no local anteriormente ocupado, até à beatificação, pelo caixão de São João Paulo II.

Livrete da celebração.


O meu testamento espiritual

Se nesta tarda hora da minha vida olho para as décadas que percorri, como primeira coisa vejo quantas razões tenho para agradecer. Agradeço antes de tudo ao próprio Deus, o dispensador de todo bom dom, que me doou a vida e me guiou através de vários momentos de confusão; levantando-me sempre toda vez que começava a escorregar e dando-me sempre novamente a luz da sua face. Retrospetivamente vejo e compreendo que mesmo os trechos obscuros e cansativos deste caminho foram para a minha salvação e que justamente neles Ele me guiou bem.

Agradeço aos meus pais, que me doaram a vida num tempo difícil e que, a custa de grandes sacrifícios, com o seu amor me prepararam uma magnífica morada que, com sua clara luz, ilumina todos os meus dias até hoje. A lúcida fé de meu pai me ensinou a nós, filhos, a crer, e como indicador sempre foi firme em meio a todas as minhas aquisições científicas; a profunda devoção e a grande bondade de minha mãe representam uma herança à qual jamais poderei agradecer suficientemente. Minha irmã me assistiu por décadas de maneira desinteressada e com afetuoso cuidado; meu irmão, com a lucidez dos seus juízos e a sua vigorosa determinação, sempre me abriu o caminho; sem este seu contínuo preceder-me e acompanhar-me, não poderia ter encontrado o caminho justo.

De coração agradeço a Deus pelos muitos amigos, homens e mulheres, que Ele sempre colocou ao meu lado; pelos colaboradores em todas as etapas do meu caminho; pelos mestres e os estudantes que Ele me deu. Agradecido, confio a todos à Sua bondade. E quero agradecer ao Senhor pela minha bela pátria nos pré-alpes bávaros, na qual sempre vi transparecer o esplendor do próprio Criador. Agradeço às pessoas da minha pátria, porque nelas pude sempre experimentar de novo a beleza da fé. Rezo para que a nossa terra permaneça uma terra de fé e vos peço, queridos compatriotas: não vos distraiais da fé. E finalmente agradeço a Deus por todo o belo que pude experimentar em todas as etapas do meu caminho, especialmente, porém, em Roma e na Itália, que se tornou a minha segunda pátria.

A todos aqueles que de algum modo tenha cometido um erro, peço perdão de coração.

Aquilo que antes disse aos meus compatriotas, o digo agora a todos aqueles que na Igreja foram confiados ao meu serviço: permanecei firmes na fé! Não vos deixeis confundir! Com frequência, parece que a ciência –as ciências naturais de um lado e a pesquisa histórica (em particular a exegese da Sagrada Escritura) de outro– seja capaz de oferecer resultados irrefutáveis em contraste com a fé católica. Vi as transformações das ciências naturais desde tempos remotos e pude constatar como, ao contrário, tenham desaparecido aparentes certezas contra a fé, demonstrando-se ser não ciência, mas interpretações filosóficas somente aparentemente incumbentes à ciência; assim como, por outro lado, é no diálogo com as ciências naturais que também a fé aprendeu a compreender melhor o limite do alcance de suas afirmações e, portanto, a sua especificidade. São pelo menos 60 anos que acompanho o caminho da Teologia, em especial das Ciências Bíblicas, e com o subseguir-se das várias gerações vi ruir teses que pareciam inabaláveis, demonstrando-se serem simples hipóteses: a geração liberal (Harnack, Jülicher, etc.), a geração existencialista (Bultmann, etc.), a geração marxista. Vi e vejo como do emaranhado das hipóteses tenha emergido e emerja novamente a razoabilidade da fé. Jesus Cristo é realmente o caminho, a verdade e a vida – e a Igreja, com todas as suas insuficiências, é realmente o Seu corpo.

Por fim, peço humildemente: rezem por mim assim que o Senhor, não obstante todos os meus pecados e insuficiências, me acolher nas moradas eternas. A todos aqueles que me são confiados, dia após dia, vai de coração a minha oração,

Benedictus PP XVI

29 de agosto de 2006