Homilia do prelado do Opus Dei (S. Pantaleão, Colônia, 19-VIII-2017)

"Não seria melhor, Senhor, que fizesses Tu tudo em vez de o pedires às nossas pobres forças?", pergunta Mons. Fernando Ocáriz. Disponibilizamos a homilia da missa celebrada na igreja de S. Pantaleão (Colônia), durante a sua viagem pastoral à Alemanha.

Queridos irmãos e irmãs:

Na primeira leitura[1], escutamos esta exortação de São Paulo: “A caridade de Cristo urge-nos”. É a urgência de viver não para nós mesmos, mas para Aquele, Cristo, que por nós morreu e ressuscitou. O mesmo Apóstolo faz um resumo do que ia suceder na passagem de Jesus pela nossa terra: “Deus estava, em Cristo, reconciliando o mundo consigo”. No entanto, fica tanto por reconciliar com Deus neste nosso mundo! São Paulo acrescenta que Deus “pôs em nós a palavra da reconciliação”.

A urgência do amor de Cristo a viver para Ele e não para nós mesmos, comporta a missão apostólica, evangelizadora, da Igreja, de todos nós: a missão de levar a todos os ambientes da sociedade essa “palavra de reconciliação”. Para isso necessitamos de formação, especialmente conhecer mais profundamente o Evangelho. Como diz a cada um São Josemaria Escrivá: “Urge difundir a luz da doutrina de Cristo. Entesoura formação, enche-te de clareza de ideias, de plenitude da mensagem cristã, para poderes depois transmiti-la aos outros.”[2].

Talvez surja na nossa alma aquela pergunta que Judas Tadeu dirigiu a Jesus: “Que aconteceu para que Te vás manifestar a nós e não ao mundo?”[3]Não seria melhor, Senhor, que fizesses Tu tudo em vez de o pedires às nossas pobres forças? A resposta de Jesus, a Tadeu e a nós, é esta: “se alguém me ama, o meu Pai o amará e viremos a ele e faremos nele a nossa morada”. Realmente é o Senhor que faz tudo, mas fá-lo e fá-lo-á através da sua Igreja, através de cada um de nós, na medida em que Ele esteja em nós pelo amor.

Todos, cada um no seu ambiente – na família, no trabalho, nas relações sociais – pode e deve fazer presente a palavra de reconciliação, fazer presente o Evangelho, fazer presente Jesus Cristo. Que missão tão grandiosa, apesar da nossa própria debilidade! Como disse Bento XVI no início solene do Pontificado: “Nada há de mais formoso do que ter sido atingidos, surpreendidos pelo Evangelho, por Cristo. Nada mais belo do que conhecê-l’O e comunicar aos outros a amizade com Ele”[4].

A passagem do Evangelho, que acabamos de escutar[5], transportou o nosso pensamento para o cenáculo de Jerusalém, durante a última Ceia do Senhor. Naquela longa oração sacerdotal, chega um momento em que Jesus pede a Deus Pai, não só pelos Apóstolos ali presentes, mas também por nós, aqueles que ao longo dos séculos seríamos seus discípulos. Que pediu Cristo para nós? A unidade: “Que todos sejam um, como tu Pai em mim e Eu em ti”. Unidade, que é necessária para a eficácia da evangelização, para que o mundo reconheça Jesus Cristo; como diz o Senhor: “para que o mundo acredite que tu me enviaste”.

Esta unidade, que Jesus pediu para nós tem como paradigma e fundamento a unidade divina entre o Pai e o Filho, que é o Espírito Santo, Amor pessoal infinito. Por isso, esforcemo-nos por ser instrumentos de unidade na Igreja, sendo instrumentos de unidade na própria família, no próprio ambiente, na vida corrente, mediante o amor, mediante uma caridade afetiva e efetiva.

“Que todos sejam um… para que o mundo acredite”. Isto leva o nosso pensamento para o Papa Francisco que, como Romano Pontífice, é precisamente princípio visível e fundamento da unidade da Igreja[6]. Que não falte no nosso dia uma oração frequente pelo Papa, pelas suas intenções, pelo seu trabalho de pastor da Igreja universal.

Como rezava São Josemaria, todos unidos ao Papa, vamos a Jesus por Maria: Omnes cum Petro ad Iesum per Mariam!


[1] 2 Cor 5, 14-20.

[2] São Josemaria, Forja, n. 841.

[3] Jo 14, 22.

[4] Bento XVI, Homilia, 24-IV-2005.

[5] Jo 17, 20-26

[6] Cfr. Conc. Vaticano II, Const. Lumen Gentium, n. 18.