“Todos os dias peço a Deus sabedoria e fortaleza”

O Brasil inteiro olha para o Rio Grande do Sul, que continua sofrendo. O mundo também. No último final de semana o Papa Francisco ligou para dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre (RS) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). “Manifesto minha solidariedade em favor de todos que estão sofrendo esta catástrofe. Estou próximo a vocês e rezo por vocês”, disse Francisco ao telefone.

Cada um manifesta a solidariedade como pode: rezando, através de contribuições, trabalho voluntário, etc. Algumas pessoas têm a possibilidade de contribuir através de um modo muito querido a São Josemaria, por ser característico do espírito do Opus Dei: em seu trabalho profissional. “Persuadi-vos de que não é difícil converter o trabalho num diálogo de oração. É só oferecê-lo e pôr mãos à obra, que já Deus nos escuta e nos alenta. Alcançamos o estilo das almas contemplativas, no meio do trabalho cotidiano! Porque nos invade a certeza de que Ele nos olha” (homilia Trabalho de Deus).

Roberto Moura Bellini, Capitão da Força Aérea Brasileira, piloto de caça, comandante do esquadrão de comando da Base Aérea de Canoas, é supernumerário, e conta como estão sendo seus dias de trabalho neste mês.

“Meu comandante me escalou para fazer parte das operações aéreas na região de Canoas, município vizinho a Porto Alegre. Não tinha ideia ainda da gravidade da situação, mas pelas notícias vindas da cidade de Santa Maria, percebi que a calamidade era grande. Era séria lá e ficaria grave aqui. Quando comecei o trabalho no dia 01 de maio, comecei a mobilizar todos os meios e fiquei responsável pela coordenação dos meios aéreos. Para quem não sabe, mobilizar é reunir todos os meios de transportes aéreos disponíveis para o resgate das pessoas

No início mobilizamos os helicópteros de resgate e depois iniciamos outro tipo de operação, de transporte logístico, que eu iniciei fazendo e coordenando e depois transferi para outra equipe.

Ninguém consegue se preparar para uma calamidade deste tamanho. Nesse cenário, os helicópteros ao sobrevoar as cidades, principalmente as pequenas comunidades, constatam rapidamente a situação de cada local e informam o que cada região necessita.

Todos os dias peço a Deus sabedoria e fortaleza para poder aguentar a pressão física e mental para tomar as decisões certas e para poder salvar mais pessoas. Quando percebo meu cansaço, oro pelas almas que já partiram e pela dor daqueles que estão sofrendo com frio e fome. Vejo que Deus foi me preparando e lapidando para este momento. Sinto que, sozinho, não conseguiria. Tudo que fazemos é por Graça de Deus.

Atualmente estou coordenando todas as atividades de resgate por helicóptero. O trabalho é exaustivo. Durmo menos de 4 horas por noite. Só dormi em casa uma vez. Minha mãe, que mora em apartamento, ficou ilhada. Foi resgatada e agora está em Brasília. Minha mulher e filhos foram para Cuiabá. Tenho dormido no quartel do exército, quase sempre entre meia-noite e 4 da manhã”.