Semana Santa 2017 com o Papa Francisco

Publicaremos aqui as mensagens e homilias do Papa durante a Semana Santa.

Domingo de Páscoa - Benção Urbi et Orbi

“Queridos irmãos e irmãs,

Feliz Páscoa!

Hoje, em todo o mundo, a Igreja renova o anúncio maravilhoso dos primeiros discípulos: «Jesus ressuscitou!» - «Ressuscitou verdadeiramente, como havia predito!»

A antiga festa de Páscoa, memorial da libertação do povo hebreu da escravidão, alcança aqui o seu cumprimento: Jesus Cristo, com a sua ressurreição, libertou-nos da escravidão do pecado e da morte e abriu-nos a passagem para a vida eterna.

Todos nós, quando nos deixamos dominar pelo pecado, perdemos o caminho certo e vagamos como ovelhas perdidas. Mas o próprio Deus, o nosso Pastor, veio procurar-nos e, para nos salvar, abaixou-Se até à humilhação da cruz. E hoje podemos proclamar: «Ressuscitou o bom Pastor, que deu a vida pelas suas ovelhas e Se entregou à morte pelo seu rebanho. Aleluia!» (Missal Romano, IV Domingo de Páscoa, Antífona da Comunhão).

Através dos tempos, o Pastor ressuscitado não Se cansa de nos procurar, a nós seus irmãos extraviados nos desertos do mundo. E, com os sinais da Paixão – as feridas do seu amor misericordioso –, atrai-nos ao seu caminho, o caminho da vida. Também hoje Ele toma sobre os seus ombros muitos dos nossos irmãos e irmãs oprimidos pelo mal nas suas mais variadas formas.

O Pastor ressuscitado vai à procura de quem se extraviou nos labirintos da solidão e da marginalização; vai ao seu encontro através de irmãos e irmãs que sabem aproximar-se com respeito e ternura e fazer sentir àquelas pessoas a voz d’Ele, uma voz nunca esquecida, que as chama à amizade com Deus.

Cuida de quantos são vítimas de escravidões antigas e novas: trabalhos desumanos, tráficos ilícitos, exploração e discriminação, dependências graves. Cuida das crianças e adolescentes que se veem privados da sua vida despreocupada para ser explorados; e de quem tem o coração ferido pelas violências que sofre dentro das paredes da própria casa.

O Pastor ressuscitado faz-Se companheiro de viagem das pessoas que são forçadas a deixar a sua terra por causa de conflitos armados, ataques terroristas, carestias, regimes opressores. A estes migrantes forçados, Ele faz encontrar, sob cada ângulo do céu, irmãos que compartilham o pão e a esperança no caminho comum.

Nas vicissitudes complexas e por vezes dramáticas dos povos, que o Senhor ressuscitado guie os passos de quem procura a justiça e a paz; e dê aos responsáveis das nações a coragem de evitar a propagação dos conflitos e deter o tráfico das armas.

Concretamente nos tempos que correm, sustente os esforços de quantos trabalham ativamente para levar alívio e conforto à população civil na Síria, vítima duma guerra que não cessa de semear horrores e morte. Conceda paz a todo o Médio Oriente, a começar pela Terra Santa, bem como ao Iraque e ao Iémen.

Não falte a proximidade do Bom Pastor às populações do Sudão do Sul, do Sudão, da Somália e da República Democrática do Congo, que sofrem o perdurar de conflitos, agravados pela gravíssima carestia que está a afetar algumas regiões da África.

Jesus ressuscitado sustente os esforços de quantos estão empenhados, especialmente na América Latina, em garantir o bem comum da sociedade, por vezes marcadas por tensões políticas e sociais que, nalguns casos, desembocaram em violência. Que seja possível construir pontes de diálogo, perseverando na luta contra o flagelo da corrupção e na busca de soluções pacíficas viáveis para as controvérsias, para o progresso e a consolidação das instituições democráticas, no pleno respeito pelo estado de direito.

Que o Bom Pastor ajude ucraniana, atormentada ainda por um conflito sangrento, a reencontrar a concórdia, e acompanhe as iniciativas tendentes a aliviar os dramas de quantos sofrem as suas consequências.

O Senhor ressuscitado, que não cessa de cumular o continente europeu com a sua bênção, dê esperança a quantos atravessam momentos de crise e dificuldade, nomeadamente por causa da grande falta de emprego, sobretudo para os jovens.

Queridos irmãos e irmãs, este ano, nós, os crentes de todas as denominações cristãos, celebramos juntos a Páscoa. Assim ressoa, a uma só voz, em todas as partes da terra, o mais belo anúncio: «O Senhor ressuscitou verdadeiramente, como havia predito!» Ele, que venceu as trevas do pecado e da morte, conceda paz aos nossos dias. Feliz Páscoa!”

Ao final de sua mensagem, o Santo Padre concedeu a todos a sua Bênção Apostólica, pedindo "não esqueçam de rezar por mim". Feliz Páscoa!

(Rádio Vaticano)

Domingo de Páscoa - Homilia

Na Missa presidida na Praça São Pedro neste Domingo de Páscoa, o Papa Francisco exortou os fiéis a repetirem em casa: “Cristo ressuscitou!”, mesmo diante das vicissitudes da vida.

“O caminho em direção ao sepulcro é a derrota, é o caminho da derrota”, disse o Papa, falando de forma espontânea. E remetendo-se à cena de Pedro, João e as mulheres diante do sepulcro vazio, observou que “foram com o coração fechado pela tristeza, a tristeza de uma derrota, o Mestre, o seu Mestre, aquele que tanto amavam, foi derrotado”.

“Mas o Anjo diz a eles: “Não está aqui, ressuscitou!”. É o primeiro anúncio, ressuscitou! E depois a confusão, o coração fechado, as aparições”, completou Francisco.

E diante de nossas derrotas, de nossos corações amedrontados, fechados, a Igreja não cessa de repetir: “Pare! O Senhor ressuscitou!”.

“Mas se o Senhor ressuscitou, como acontecem estas coisas? – questiona-se Francisco. Como acontecem tantas desgraças doenças, tráfico de pessoas, guerras, destruições, mutilações, vinganças, ódio? Onde está o Senhor?”.

O Papa ilustra esta dúvida que percorre o coração de tantos de nós em meios às vicissitudes da vida, contando o telefonema a um jovem italiano na tarde de sábado, acometido de uma doença grave, para dar um sinal de fé:

“Um jovem culto, um engenheiro. Disse a ele: “Mas, não existem explicações para aquilo que acontece contigo. Olhe para Jesus na Cruz. Deus fez isto com o seu Filho e não existe outra explicação!”. E ele me respondeu: “Sim! Mas perguntou ao Filho e o Filho disse que sim. Mas eu não fui perguntado se eu desejava isto!”.

“Isto nos comove – disse Francisco. A ninguém de nós é perguntado: “Mas, estás contente com aquilo que acontece no mundo? Estás disposto a carregar esta Cruz?”. E esta Cruz acompanha. E a fé em Jesus se arrefece”!

“Mas hoje – reitera o Pontífice - a Igreja continua a dizer: “Pare! Jesus Ressuscitou!” E isto não é uma fantasia, a Ressurreição de Cristo não é uma festa com muitas flores. Isto é bonito, mas não é só, é mais do que isto. É o mistério da pedra descartada que torna-se o alicerce da nossa existência. Cristo Ressuscitou, este é o significado”.

“Nesta cultura do descarte, onde o que não serve segue pelo caminho do “usa e joga fora”, onde o que não serve é descartado, aquela pedra descartada torna-se fonte de vida”:

“E nós, também nós, pedrinhas por terra, nesta terra de dor, tragédias, com a fé em Cristo Ressuscitado, temos um sentido, em meio à tanta calamidade. O sentido de olhar além, o sentido de dizer: “Olha, não existe uma parede; existe um horizonte, existe a vida, existe a alegria, existe a Cruz com esta ambivalência. Olha em frente. Não se feche! Tu, pedrinha, tens um sentido na vida porque és uma pedrinha junto àquela pedra, aquela pedra que a maldade do pecado descartou”.

“O que nos diz a Igreja hoje diante de tanta tragédia? Simplesmente isto. A pedra descartada não resulta descartada. As pedrinhas que creem e que se apegam àquela pedra não são descartados, tem um sentido, e com este sentimento a Igreja repete, mas de dentro do coração: “Cristo ressuscitou!”.

Ao concluir, o Papa Francisco pediu a cada um de nós:

“Pensemos um pouco, cada um de nós, nos problemas cotidianos, nas doenças que temos e que alguns de nossos parentes têm, nas guerras, nas tragédias humanas. E simplesmente, com voz humilde, sem flores, sozinhos, diante de nós mesmos: “Não sei como vai acabar isto, mas estou certo de que Cristo Ressuscitou. Eu aposto nisto! Irmãos e irmãs, isto é o que me vem de dizer para vocês. Em casa hoje, repitam no coração de vocês, Cristo ressuscitou!”.
(Radio Vaticano)

Sábado Santo, Vigília Pascal - Homilia

«Terminado o sábado, ao romper do primeiro dia da semana, Maria de Magdala e a outra Maria foram visitar o sepulcro» (Mt 28, 1). Podemos imaginar aqueles passos: o passo típico de quem vai ao cemitério, passo cansado da confusão, passo debilitado de quem não se convence que tudo tenha acabado assim. Podemos imaginar os seus rostos pálidos, banhados pelas lágrimas. E a pergunta: Como é possível que o Amor tenha morrido?

Ao contrário dos discípulos, elas ali vão, como já acompanharam o último respiro do Mestre na cruz e, depois, a sepultura que Lhe deu José de Arimateia; duas mulheres capazes de não fugir, capazes de resistir, de enfrentar a vida tal como se apresenta e suportar o sabor amargo das injustiças. Ei-las chegar diante do sepulcro, divididas entre a tristeza e a incapacidade de se resignarem, de aceitarem que tudo tenha sempre de acabar assim.

E, se fizermos um esforço de imaginação, no rosto destas mulheres podemos encontrar os rostos de tantas mães e avós, os rostos de crianças e jovens que suportam o peso e o sofrimento de tanta desumana injustiça. Nos seus rostos, vemos refletidos os rostos de todos aqueles que, caminhando pela cidade, sentem a tribulação da miséria, a tribulação causada pela exploração e o tráfico humano. Neles, vemos também os rostos daqueles que experimentam o desprezo, porque são imigrantes, órfãos de pátria, de casa, de família; os rostos daqueles cujo olhar revela solidão e abandono, porque têm mãos com demasiadas rugas. Refletem o rosto de mulheres, de mães que choram ao ver que a vida dos seus filhos fica sepultada sob o peso da corrupção que subtrai direitos e quebra tantas aspirações, sob o egoísmo diário que crucifica e sepulta a esperança de muitos, sob a burocracia paralisadora e estéril que não permite que as coisas mudem. Na sua tristeza, elas têm o rosto de todos aqueles que, ao caminhar pela cidade, veem a dignidade crucificada.

No rosto destas mulheres, há muitos rostos; talvez encontremos o teu rosto e o meu. Como elas, podemos sentir-nos impelidos a caminhar, não nos resignando com o facto de que as coisas devem acabar assim. É verdade que trazemos dentro uma promessa e a certeza da fidelidade de Deus. Mas também os nossos rostos falam de feridas, falam de muitas infidelidades – nossas e dos outros –, falam de tentativas e de batalhas perdidas. O nosso coração sabe que as coisas podem ser diferentes; mas, quase sem nos apercebermos, podemos habituar-nos a conviver com o sepulcro, a conviver com a frustração. Mais ainda, podemos chegar a convencer-nos de que esta seja a lei da vida anestesiando-nos com evasões que nada mais fazem que apagar a esperança colocada por Deus nas nossas mãos. Muitas vezes, são assim os nossos passos, é assim o nosso caminhar, como o destas mulheres, um caminhar por entre o desejo de Deus e uma triste resignação. Não morre só o Mestre; com Ele, morre a nossa esperança.

«Nisto, houve um grande terremoto» (Mt 28, 2). De improviso, aquelas mulheres receberam um forte estremeção, algo e alguém fez tremer o solo sob os seus pés. Mais uma vez, alguém vem ao encontro delas dizendo: «Não tenhais medo», mas desta vez acrescentando: «Ressuscitou, como tinha dito». E tal é o anúncio com que nos presenteia, de geração em geração, esta Noite Santa: Não tenhamos medo, irmãos! Ressuscitou como tinha dito. A vida arrancada, destruída, aniquilada na cruz despertou e volta a palpitar de novo (cf. R. Guardini, Il Signore, Milão 1984, 501). O palpitar do Ressuscitado é-nos oferecido como dom, como presente, como horizonte. O palpitar do Ressuscitado é aquilo que nos foi dado, sendo-nos pedido para, por nossa vez, o darmos como força transformadora, como fermento de nova humanidade. Com a Ressurreição, Cristo não deitou por terra apenas a pedra do sepulcro, mas quer fazer saltar também todas as barreiras que nos fecham nos nossos pessimismos estéreis, nos nossos mundos conceptuais bem calculados que nos afastam da vida, nas nossas obcecadas buscas de segurança e nas ambições desmesuradas capazes de jogar com a dignidade alheia.

Quando o sumo sacerdote, os chefes religiosos em conivência com os romanos pensaram poder calcular tudo, quando pensaram que estava dita a última palavra e que competia a eles estabelecê-la, irrompe Deus para transtornar todos os critérios e, assim, oferecer uma nova oportunidade. Uma vez mais, Deus vem ao nosso encontro para estabelecer e consolidar um tempo novo: o tempo da misericórdia. Esta é a promessa desde sempre reservada, esta é a surpresa de Deus para o seu povo fiel: alegra-te, porque a tua vida esconde um germe de ressurreição, uma oferta de vida que aguarda o despertar.

Eis o que esta noite nos chama a anunciar: o palpitar do Ressuscitado, Cristo vive! E foi isto que mudou o passo de Maria de Magdala e da outra Maria: é o que as faz regressar à pressa e correr a dar a notícia (Mt 28, 8); é o que as faz voltar sobre os seus passos e sobre os seus olhares; regressam à cidade para se encontrar com os outros.

Como entramos com elas no sepulcro, assim vos convido a irmos também com elas, a regressarmos à cidade, a voltarmos sobre os nossos passos, sobre os nossos olhares. Vamos com elas comunicar a notícia, vamos… a todos aqueles lugares onde pareça que o sepulcro tenha a última palavra e onde pareça que a morte tenha sido a única solução. Vamos anunciar, partilhar, revelar que é verdade: o Senhor está Vivo. Está vivo e quer ressurgir em tantos rostos que sepultaram a esperança, sepultaram os sonhos, sepultaram a dignidade. E, se não somos capazes de deixar que o Espírito nos conduza por esta estrada, então não somos cristãos.

Vamos e deixemo-nos surpreender por esta alvorada diferente, deixemo-nos surpreender pela novidade que só Cristo pode dar. Deixemos que a sua ternura e o seu amor movam os nossos passos, deixemos que o pulsar do seu coração transforme o nosso ténue palpitar.

(Vatican.va)

Sexta-feira Santa - Adoração da Santa Cruz

Sexta-feira Santa - Via Sacra no Coliseu

Nesta Sexta-Feira Santa, o Santo Padre deslocou-se às 21 horas ao Coliseu de Roma, onde teve lugar a Via Sacra. Presentes cerca de 20 mil fieis. A Cruz foi carregada por cidadãos de vários países e de várias camadas sociais, exceto na primeira e última estação em que quem a carregou foi o Vigário do Papa para a Diocese de Roma, o Cardeal Agostino Vallini.

O Papa acompanhou em silêncio, a narração, as orações e as reflexões preparadas pela teóloga biblista francesa, Anne-Marie Pelletier. No final tomou a palavra para uma breve reflexão em que invocou Cristo, flagelado, atraiçoado, coroado de espinhos, esbofeteado, atrozmente pregado na Cruz, trespassado com a lança, morto e sepultado…

“Cristo nosso único Salvador para o qual dirigimos também este ano com os olhos baixos pela vergonha e com o coração cheio de esperança” – disse o Papa que continuou indicando diversos motivos de vergonha:

Vergonha pelas imagens de devastação, destruição e naufrágio que se tornaram ordinárias na nossa vida; vergonha pelo sangue inocente de mulheres e crianças versado quotidianamente; vergonha pelas demasiadas vezes que, como Judas e Pedro, vendemos, atraiçoamos e deixamos Cristo só a morrer pelos nossos pecados (…). Vergonha pelo silêncio perante as injustiças, pela nossa avareza, pelo nosso falar alto em favor dos nossos interesses e baixo pelos interesses dos outros; pelos nossos passos velozes no caminho do mal e paralisados no caminho do bem…

“Vergonha por todas as vezes que nós, Bispos, Sacerdotes, consagrados e consagradas escandalizamos e ferimos o teu corpo, a Igreja; e nos esquecemos o nosso primeiro amor, o nosso primeiro entusiasmo e a nossa total disponibilidade, deixando enferrujar o nosso coração e a nossa consagração”.

Mas não obstante toda essa vergonha - disse o Papa a Jesus – “o nosso coração tem também saudades da esperança confiante de que tu não nos tratas segundo o que merecemos, mas segundo a abundancia da tua Misericórdia ; que as nossas traições não farão diminuir a imensidão do teu amor, que o teu coração materno e paterno, não nos esquecerá devido à dureza das nossas vísceras”.

Esperança – continuou Francisco - de que a Cruz transforme os nossos corações e nos torne capazes de amar, de perdoar; de que as trevas da Cruz se transformem na aurora fulgurante da Ressurreição; esperança de que a Igreja procurará ser a voz que grita no deserto da humanidade para preparar o caminho ao retorno de Cristo, numa palavra, esperança de que os nossos pecados sejam perdoados.

E o Papa concluiu pedindo a Cristo para se recordar dos nossos irmãos mortos devido à violência, à indiferença e à guerra; para romper a cadeia do nosso egoísmo, cegueira, vaidade; para nos ensinar a não nos vergonharmos nunca da sua Cruz, mas a honrá-la e adorá-la, porque com ela “nos manifestou a monstruosidade dos nossos pecados, a grandeza do seu amor, a injustiça dos nossos julgamentos e a potencia da tua misericórdia”.
(Rádio Vaticano)

Quinta-feira Santa, Missa "in cena Domini"

O Papa Francisco celebrou a missa da Ceia do Senhor na Casa de Reclusão de Paliano, localizada ao sul de Roma.

A cerimônia, com o tradicional rito do lava-pés, não foi transmitida ao vivo – a pedido do próprio Pontífice e pela falta de condições técnicas do presídio. A visita de Francisco teve um caráter “estritamente privado”.

O Papa lavou os pés a 12 detentos (10 italianos, 1 argentino e 1 albanês). Entre eles, 3 eram mulheres e 1 muçulmano que receberá o sacramento do Batismo no mês de junho. Além disso, dois deles foram condenados à prisão perpétua, enquanto para os demais a conclusão da pena está prevista entre 2019 e 2073.

“Jesus estava na ceia, com eles. A última ceia e diz o Evangelho que Ele sabia ‘que tinha chegado a sua hora de passar deste mundo ao Pai’. Sabia que tinha sido traído e que seria entregue por Judas naquela noite”.

“Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim’. Mas Deus ama assim! Até o fim e dá a vida por todos nós e se orgulha disso. Deus quer isto porque Ele tem amor: ama até o fim. Não é fácil, porque todos nós somos pecadores, todos temos limites, defeitos, muitas coisas. Sabemos amar, mas não somos como Deus que ama sem olhar as consequências, até o fim. É um exemplo. Para mostrar isso, Ele que era o chefe, que era Deus, lava os pés de seus discípulos”, disse o Papa em sua homilia.

Francisco explicou que o gesto de lavar os pés era um costume que se fazia na época antes do almoço e do jantar, porque não tinha asfalto e as pessoas caminhavam na terra e ficavam com os pés cheios de poeira.

“Um dos gestos para receber uma pessoa em casa, além de oferecer alimento, era também o de lavar os pés da pessoa. Isso era feito pelos escravos. Mas Jesus inverte isso e realiza Ele mesmo esse gesto. Simão Pedro não queria que Jesus lavasse os seus pés, mas Jesus lhe respondeu que Ele tinha vindo ao mundo para servir, para nos servir, para se fazer servo por nós, para dar a vida por nós, para nos amar até o fim.”

Francisco disse que quando chegou a Paliano, várias pessoas o saudaram. “Chegou o Papa, o chefe. O chefe da Igreja...”. O chefe da Igreja é Jesus. O Papa é a figura de Jesus e eu gostaria de fazer o mesmo que Ele fez. Nesta cerimônia, o pároco lava os pés dos fiéis: se inverte. O que parece o maior deve fazer o trabalho do escravo. Para semear amor, para semear amor entre nós, lhes digo:

“Se vocês puderem ajudem, façam um serviço ao companheiro aqui, no cárcere, à tua companheira. Façam, porque isso é amor, isso é como lavar os pés. É ser servo dos outros. Uma vez os discípulos brigavam entre eles sobre quem fosse o maior, o mais importante. E Jesus lhes disse: ‘Quem quiser ser importante, deve se fazer pequeno e servo dos todos. Foi o que Ele fez. É o que Deus faz com a gente. Quem serve é o servo. Somos pobrezinhos. Ele é grande. Ele é bom. Ele nos ama como somos. Durante esta cerimônia pensemos em Deus, em Jesus. Não é uma cerimônia de folclore: é um gesto para recordar o que Jesus nos deu. Depois disso, pegou o pão e nos deu o Seu corpo. Pegou o vinho e nos deu o Seu sangue. Assim é o amor. Pensemos, hoje, somente no amor de Deus.”

(Rádio Vaticano)

Quinta-feira Santa, Missa Crismal - Homilia

«O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos» (Lc 4, 18). O Senhor, Ungido pelo Espírito, leva a Boa-Nova aos pobres. Tudo aquilo que Jesus anuncia é Boa-Nova; alegra com a alegria evangélica; e o mesmo se diga de nós, sacerdotes, de quem foi ungido em seus pecados com o óleo do perdão, e ungido no seu carisma com o óleo da missão, para ungir os outros. E, tal como Jesus, o sacerdote torna jubiloso o anúncio com toda a sua pessoa. Quando pronuncia a homilia – breve, se possível –, fá-lo com a alegria que toca o coração do seu povo, valendo-se da Palavra com que o Senhor o tocou na sua oração. Como qualquer discípulo missionário, o sacerdote torna jubiloso o anúncio com todo o seu ser. Aliás, como todos experimentamos, são precisamente os detalhes mais insignificantes que melhor contêm e comunicam a alegria: o detalhe de quem dá um pequeno passo a mais, fazendo com que a misericórdia transborde nas terras de ninguém; o detalhe de quem se decide a concretizar, fixando dia e hora para o encontro; o detalhe de quem deixa, com suave disponibilidade, que ocupem o seu tempo…

A Boa-Nova pode parecer simplesmente um modo diferente de dizer «Evangelho», como «feliz anúncio» ou «boa notícia». Todavia contém algo que compendia em si tudo o mais: a alegria do Evangelho. Compendia tudo, porque é jubilosa em si mesma.

A Boa-Nova é a pérola preciosa do Evangelho. Não é um objeto; mas uma missão. Bem o sabe quem experimenta «a suave e reconfortante alegria de evangelizar» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 10).

A Boa-Nova nasce da Unção. A primeira, a «grande unção sacerdotal» de Jesus, é a que fez o Espírito Santo no seio de Maria.

Naqueles dias, a boa-nova da Anunciação fez a Virgem Mãe cantar o Magnificat, encheu de um sacro silêncio o coração de José, seu esposo, e fez saltar de gozo João no seio de sua mãe Isabel.

Hoje, Jesus regressa a Nazaré e a alegria do Espírito renova a Unção na pequena sinagoga local: o Espírito pousa e espalha-Se sobre Ele, ungindo-O com o óleo da alegria (cf. Sal 45/44, 8).

A Boa-Nova. Uma única palavra – Evangelho – que, no ato de ser anunciada, se torna verdade jubilosa e misericordiosa.

Que ninguém procure separar estas três graças do Evangelho: a sua Verdade – não negociável –, a sua Misericórdia – incondicional com todos os pecadores – e a sua Alegria – íntima e inclusiva.

Nunca a verdade da Boa-Nova poderá ser apenas uma verdade abstrata, uma daquelas que não se encarnam plenamente na vida das pessoas, porque se sentem mais confortáveis na palavra escrita dos livros.

Nunca a misericórdia da Boa-Nova poderá ser uma falsa compaixão, que deixa o pecador na sua miséria, não lhe dando a mão para se levantar nem o acompanhando para dar um passo mais no seu compromisso.

Nunca a Boa-Nova poderá ser triste ou neutra, porque é expressão duma alegria inteiramente pessoal: «a alegria dum Pai que não quer que se perca nenhum dos seus pequeninos» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 237): a alegria de Jesus, ao ver que os pobres são evangelizados e que os pequeninos saem a evangelizar (cf. ibid., 5).

As alegrias do Evangelho – uso agora o plural, porque são muitas e variadas, segundo o modo como o Espírito as quer comunicar em cada época, a cada pessoa, em cada cultura particular – são alegrias especiais. Chegam-nos em odres novos, aqueles de que fala o Senhor para expressar a novidade da sua mensagem.

Partilho convosco, queridos sacerdotes, queridos irmãos, três ícones de odres novos em que a Boa-Nova se conserva bem, não se torna vinagrenta e se derrama em abundância.

Um ícone da Boa-Nova é o das talhas de pedra das bodas de Caná (cf. Jo 2, 6). Num detalhe, as talhas espelham bem aquele Odre perfeito que é – em Si mesma, toda inteira – Nossa Senhora, a Virgem Maria. Diz o Evangelho que «as encheram até acima» (Jo 2, 7). Imagino que algum dos serventes terá olhado para Maria para ver se já bastava assim, e terá havido um gesto com o qual Ela terá dito para acrescentar mais um balde. Maria é o odre novo da plenitude contagiosa. É «a serva humilde do Pai, que transborda de alegria no louvor» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 286), é a Nossa Senhora da prontidão, Aquela que acabara de conceber em seu seio imaculado o Verbo da vida e já parte para ir visitar e servir a sua prima Isabel. A sua plenitude contagiosa permite-nos superar a tentação do medo: não ter coragem de se deixar encher até acima, aquela pusilanimidade de não ir contagiar de alegria os outros. Não haja nada disto, porque «a alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus» (ibid., 1).

O segundo ícone da Boa-Nova é aquele cântaro – com a sua concha de pau – que trazia à cabeça a Samaritana, sob o sol ardente do meio-dia (cf. Jo 4, 5-30). Expressa bem uma questão essencial: ser concreto. O Senhor, que é a Fonte de Água viva, não tinha um meio para tirar água e beber alguns goles. E a Samaritana tirou água do seu cântaro com a concha e saciou a sede do Senhor. E saciou-a ainda mais com a confissão dos seus pecados concretos. Agitando o odre daquela alma samaritana, transbordante de misericórdia, o Espírito Santo derramou-Se sobre todos os habitantes daquela pequena cidade, que convidaram o Senhor a demorar-Se no meio deles.

Um odre novo com esta concretização inclusiva, no-lo presenteou o Senhor na alma «samaritana» que foi Madre Teresa de Calcutá. Ele chamou-a e disse-lhe: «Tenho sede». «Vem, pequenina minha! Leva-Me aos tugúrios dos pobres. Vem! Sê a minha luz. Não posso ir sozinho. Não Me conhecem, por isso não Me querem. Leva-Me a eles». E ela, começando por um pobre concreto, com o seu sorriso e o seu modo de tocar as feridas com as mãos, levou a Boa-Nova a todos.

O terceiro ícone da Boa-Nova é o Odre imenso do Coração trespassado do Senhor: integridade suave, humilde e pobre, que atrai todos a Si. D’Ele devemos aprender que, anunciar uma grande alegria àqueles que são muito pobres, só se pode fazer de forma respeitosa e humilde, até à humilhação. A evangelização não pode ser presunçosa. Não pode ser rígida a integridade da verdade. O Espírito anuncia e ensina «a verdade completa» (Jo 16, 13), e não tem medo de a dar a beber aos goles. O Espírito diz-nos, em cada momento, aquilo que devemos dizer aos nossos adversários (cf. Mt 10, 19) e ilumina-nos sobre o pequeno passo em frente que podemos dar naquele momento. Esta integridade suave dá alegria aos pobres, reanima os pecadores, faz respirar aqueles que estão oprimidos pelo demónio.

Queridos sacerdotes, contemplando e bebendo destes três odres novos, que a Boa-Nova tenha em nós a plenitude contagiosa que Nossa Senhora transmite com todo o seu ser, a concretização inclusiva do anúncio da Samaritana e a integridade suave com que o Espírito jorra e Se derrama incessantemente a partir do Coração trespassado de Jesus, Nosso Senhor.

(Rádio Vaticano)

Domingo de Ramos - Homilia

Esta celebração tem, por assim dizer, duplo sabor: doce e amargo. É jubilosa e dolorosa, pois nela celebramos o Senhor que entra em Jerusalém, aclamado pelos seus discípulos como rei; ao mesmo tempo, porém, proclama-se solenemente a narração evangélica da sua Paixão. Por isso o nosso coração experimenta o contraste pungente e prova, embora numa medida mínima, aquilo que deve ter sentido Jesus em seu coração naquele dia, quando rejubilou com os seus amigos e chorou sobre Jerusalém.

Desde há trinta e dois anos que a dimensão jubilosa deste domingo tem sido enriquecida com a festa dos jovens: a Jornada Mundial da Juventude, que, este ano, se celebra a nível diocesano, mas daqui a pouco viverá, nesta Praça, um momento sempre emocionante, de horizontes abertos, com a passagem da Cruz dos jovens de Cracóvia para os do Panamá.

O Evangelho, proclamado antes da procissão (cf. Mt 21, 1-11), apresenta Jesus que desce do Monte das Oliveiras montado num jumentinho, sobre o qual ainda ninguém se sentara; evidencia o entusiasmo dos discípulos, que acompanham o Mestre com aclamações festivas; e pode-se, verossimilmente, imaginar que isso contagiou os adolescentes e os jovens da cidade, que se juntaram ao cortejo com os seus gritos. O próprio Jesus reconhece neste jubiloso acolhimento uma força irreprimível querida por Deus, respondendo assim aos fariseus escandalizados: «Digo-vos que, se eles se calarem, gritarão as pedras» ( Lc 19, 40).

Mas este Jesus, cuja entrada na Cidade Santa estava prevista precisamente assim nas Escrituras, não é um iludido que apregoa ilusões, um profeta « new age», um vendedor de fumaça. Longe disso! É um Messias bem definido, com a fisionomia concreta do servo, o servo de Deus e do homem que caminha para a paixão; é o grande Padecente da dor humana.

Assim, enquanto festejamos o nosso Rei, pensemos nos sofrimentos que Ele deverá padecer nesta Semana. Pensemos nas calúnias, nos ultrajes, nas ciladas, nas traições, no abandono, no julgamento iníquo, nas bastonadas, na flagelação, na coroa de espinhos... e, por fim, no caminho da cruz até à crucifixão.

Tinha-o dito claramente aos seus discípulos: «Se alguém quer vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me» (Mt 16, 24). Nunca prometeu honras nem sucessos. Os Evangelhos são claros. Sempre avisou os seus amigos de que a sua estrada era aquela: a vitória final passaria através da paixão e da cruz. E, para nós, vale o mesmo. Para seguir fielmente a Jesus, peçamos a graça de o fazer não por palavras mas com as obras, e ter a paciência de suportar a nossa cruz: não a recusar nem jogar fora, mas, com os olhos fixos n’Ele, aceitá-la e carregá-la dia após dia.

E este Jesus, que aceita ser aclamado, mesmo sabendo que O espera o «crucifica-o!», não nos pede para O contemplarmos apenas nos quadros, nas fotografias, ou nos vídeos que circulam na rede. Não. Está presente em muitos dos nossos irmãos e irmãs que hoje, sim hoje, padecem tribulações como Ele: sofrem com um trabalho de escravos, sofrem com os dramas familiares, as doenças... Sofrem por causa das guerras e do terrorismo, por causa dos interesses que se movem por detrás das armas que não cessam de matar. Homens e mulheres enganados, violados na sua dignidade, descartados.... Jesus está neles, em cada um deles, e com aquele rosto desfigurado, com aquela voz rouca, pede para ser enxergado, reconhecido, amado.

Não há outro Jesus: é o mesmo que entrou em Jerusalém por entre o acenar de ramos de palmeira e oliveira. É o mesmo que foi pregado na cruz e morreu entre dois malfeitores. Não temos outro Senhor para além d’Ele: Jesus, humilde Rei de justiça, misericórdia e paz.

(Vatican.va)