“São Josemaria é um grande comunicador porque se nota que fala do que ele próprio vive”

Juan Martín Ezratty realizou uma série de documentários em que apresenta a mensagem de São Josemaria em diálogo com os argentinos.

“Com o impulso das suas palavras”, “Amor à liberdade” e “Aprender a querer” incluem imagens originais do fundador do Opus Dei em Buenos Aires durante a sua estadia na Argentina em 1974, e mostram em contraponto o testemunho de pessoas que o conheceram pessoalmente ou através dos seus ensinamentos.

Qual a lógica desta série de documentários sobre São Josemaria, que ligação têm entre si?

Esta série de curtas-metragens faz-me recordar a sétima sinfonia de Beethoven, mais concretamente o segundo movimento em que uma nota se repete num crescendo de intensidade. Primeiro a solidariedade, depois a liberdade, e por fim a caridade, que é o centro da vida cristã.

Gosto de encarar estes documentários como um desafio. No primeiro procurava-se mostrar algumas das muitas iniciativas, que fomentam a dignidade da pessoa na Argentina, impulsionadas pela mensagem de São Josemaria. Não era fácil, tanto pela quantidade como pela diversidade; mas depois de muito tempo de trabalho surgiu “Com o impulso das suas palavras”.

É evidente que sem liberdade não se pode amar.

Depois, propuseram-me um novo tema: a liberdade, assunto amplo e difícil de abarcar. Concretizou-se com os testemunhos de pessoas que manifestaram com fatos que, como fiéis do Opus Dei, são livres e autônomos nas suas atividades sociais, profissionais…

Quando apresentamos “Amor à liberdade” na Biblioteca Nacional, um dos assistentes comentou que o que mais apreciara era o modo como São Josemaria dava realce à caridade, como se centrava no amor: Foi isso que nos levou ao novo tema, que é uma continuação da liberdade. É evidente que sem liberdade não se pode amar. Ao terminar essa apresentação tínhamos já em mente o que viria depois: “Aprender a querer”.

A caridade é um tema muito vasto. Como conseguiu encontrar a ideia central?

Li muitas passagens do Evangelho onde Jesus fala do tema do amor ao próximo, também a encíclica Deus Caritas est, alguns capítulos de Caminho, de São Josemaria… Encontrei sempre a ideia do esquecimento próprio e a de amar a Deus, e aos outros em Deus. Perguntei ainda a muitas pessoas o que entendiam por caridade e cheguei à compreensão: a caridade mais que em dar está em compreender. Por fim, na equipe de trabalho surgiu a ideia de apresentar a caridade como a solução de um conflito. Destas três linhas mestras chegamos ao enquadramento do documentário.

Como se processou a seleção dos testemunhos e a gravação?

No início tornou-se um pouco difícil definir que pessoas incluir para darem o seu testemunho. Como primeira abordagem procuramos pessoas muito santas que viveram a virtude da caridade em circunstâncias de vida muito diversificadas. Foi assim que pensamos, além de São Josemaria, na Madre Teresa de Calcutá e João Paulo II.

Chegamos à conclusão de que era importante mostrar pessoas “comuns” que se esforçam por viver a caridade e pedem ajuda a Deus quando se torna custoso

Mas depois chegamos à conclusão de que era importante mostrar pessoas “comuns” que se esforçam por viver a caridade e pedem ajuda a Deus quando se torna custoso para elas. Esta ideia cativou-me. Considero que às vezes uma pessoa vê os santos como super-heróis e eu não queria mostrar isso, que além do mais não reflete a realidade da existência diária. Gravamos entrevistas em várias cidades da Argentina. Em cada caso, conversamos antes um pouco com a pessoa para se descontrair e sentir à vontade para falar. O que mais me chamou a atenção foi que quem tinha uma cruz muito grande – como Silvana López Gabeiras e Guilhermina de Gallo – comentavam comigo: “Sou mais feliz agora que antes”. Confesso que continuo a tentar entender melhor o mistério da Cruz.

Por que cada um dos documentários foi sendo mais breve que o anterior?

A minha mãe sempre está me dizendo que os vídeos são curtos, que queria mais. Não posso esperar, obviamente, que todo mundo pense como a minha mãe… Por isso faço os vídeos com a lógica de um ensaio: pegar num tema, procurar uma perspectiva interessante e que ela sirva de detonador para que cada pessoa possa pensar e refletir. É como começar uma canção que depois cada um de per si tem de cantar, com o seu estilo e o seu tom de voz.

Quanto à estética, à música, à duração, procuro que o meu estilo vá a par com as novas linguagens dos meios de comunicação. Hoje em dia, com a lógica do youtube, do videoclip e da publicidade, a premissa é que “menos é mais”.

Que aspectos destacaria em São Josemaria como “comunicador”?

Um conceituado jornalista, que também trabalha em Espanha e na Europa em geral, quando viu o primeiro documentário afirmou: “Aqui quem marca pontos é São Josemaria”. Estou convencido que é um grande comunicador porque se nota que fala do que ele próprio vive, que os seus comentários são autênticos. Por esse motivo, as pessoas não sentiam receio em lhe exporem os seus problemas pessoais perante gente que não conheciam, porque escutavam uma resposta profunda e pessoal. Tenho de confessar que comunicar São Josemaria facilita muito o trabalho.

Dá muito trabalho fazer um documentário de São Josemaria?

Apesar de o espectador ver o vídeo em pouco tempo, um documentário é um conjunto de muitos elementos: o cuidado com a fotografia, o tipo de enquadramentos, a coordenação e a produção, a direção artística, a banda sonora… Por isso, para este curta-metragem, quero destacar o trabalho dos meus sócios, Martín Gutierrez e Eugénio Marzorati.

Há quanto tempo se dedica à realização de documentários?

Estudei Comunicação na Universidade, mas comecei a filmar muito antes, já na escola secundária. Comecei por fazer vídeos para amigos, para familiares, para viagens de colégios. Em 2003 criei a produtora. Nesse ano realizamos o primeiro documentário. Desde então, cresceu muito. Agora somos três sócios e temos como clientes diversas empresas, fundações e centros educativos. É apaixonante poder mostrar o bem que tanta gente faz e assim ajudar a que se difunda, e os Projetos cresçam. É essa a força dos vídeos.