São José na vida cristã e nos ensinamentos de São Josemaria

A devoção a São José estava profundamente enraizada na alma de São Josemaria desde muito jovem. O nº 59 de “Romana” publica um artigo, que aqui reproduzimos, sobre a devoção de São Josemaria a São José.

A devoção a São José estava profundamente enraizada na alma de São Josemaria desde muito jovem. Recordando como em 1934 tinha encomendado ao santo Patriarca os esforços para conseguir que se lhe concedesse o primeiro sacrário, comentava em 1971: No fundo da minha alma já tinha esta devoção a São José, que vos inspirei[1]. Esta devoção está presente, sólida e clara, em escritos de 1933 - embora São Josemaria já a vivesse desde tempos atrás, como se pode ver no texto de Santo Rosário, de 1931— e mantém-se viva e ardente até o final da sua vida, experimentando um notório incremento nos seus últimos anos[2].

1. Introdução

Nos três pontos que dedica em Caminho à devoção a São José, aparecem já algumas das razões teológicas em que fundamenta esta devoção. No número 559, escreve: "São José, Pai de Cristo, é também teu Pai e teu Senhor. - Recorre a ele".[3]. É significativa a força com que chama aqui a São José pai de Cristo. Mais adiante, em uma homilia de 19 de março de1963, dedicada integralmente a São José[4] , explicitará o sentido com que fala desta paternidade seguindo a conhecida reflexão de Sto. Agostinho no Sermão 51, 20: "O Senhor não nasceu do gérmen de José. Mas da piedade e caridade de José nasceu um filho da Virgem Maria, e que era Filho de Deus"[5]. Para São Josemaria, a paternidade de São José em relação a Jesus não é uma paternidade segundo a carne, mas é uma paternidade real e única, que brota do seu verdadeiro matrimônio com Nossa Senhora e da sua especialíssima missão, e que é a razão por que também a Igreja e cada um dos cristãos o invocam como «Pai e Senhor».

Nessa mesma homilia que acabamos de citar, diz São Josemaria: "desde há muitos anos, me agrada invocá-lo com um título carinhoso: Nosso Pai e Senhor" [6]. E explica: "São José é realmente Pai e Senhor, protegendo e acompanhando no seu caminho terreno aqueles que o veneram, como protegeu e acompanhou Jesus enquanto crescia e se fazia homem" [7]. Na edição crítico-histórica de Caminho, Pedro Rodríguez explica que São Josemaria pode ter tomado a expressão Pai e Senhor de Sta. Teresa de Jesus, que tanto contribuiu para a devoção a São José não só no Carmelo, mas em toda a Igreja[8].

São Josemaria enamora-se da vida de trabalho de José e considera-o mestre de vida interior nessa vida de trabalho intenso e humilde, porque nos ensina a conhecer Jesus, a conviver com Ele, a tomar consciência de que fazemos parte da família de Deus

Em Caminho, as consequências desta «paternidade» concentram-se no magistério de São José sobre a «vida interior». Diz o nº. 560: "Nosso Pai e Senhor São José é Mestre da vida interior. - Coloca-te sob o seu patrocínio e sentirás a eficácia do seu poder". E o nº. 561: "De São José diz Santa Teresa, no livro da sua vida: “Quem não achar mestre que lhe ensine a orar, tome este glorioso Santo por mestre, e não errará no caminho”. - O conselho vem de uma alma experimentada. Segue-o". A razão que São Josemaria aponta para apoiar estes dois conselhos é a convivência intima e contínua que São José manteve com Jesus e com Maria ao longo de toda a vida.

Os três pontos de Caminho citados situam o pensamento de São Josemaria sobre São José em duas coordenadas essenciais: a verdade da sua paternidade em relação a Jesus e a influência do santo Patriarca na história da salvação. Estes pontos confirmam já desde as suas primeiras manifestações um pensamento josefológico maduro e uma firme convicção teológica. Assim se vê na firmeza simples com que chama a São José «pai» de Jesus sem qualquer vacilação[9].

2. Uma sólida tradição anterior

Com a sobriedade no dizer e com a precisão de linguagem que o caracterizam, São Josemaria sabe-se inserido em uma sólida tradição eclesial de teologia e devoção ao santo Patriarca. Os seus ensinamentos sobre São José são ricos, sólidos e constantes, e neles afloram, junto com a iniciativa própria de uma delicada piedade movida pelo Espírito Santo, uma profunda informação sobre as questões teológicas referentes a São José, e a consciência de estar pisando em terreno seguro[10].

Como se sabe, em 1870, Pio IX, pelo decreto Quemadmodum Deus (8-XII-1870), tinha proclamado São José patrono da Igreja universal, e a 15 de Agosto de 1889, Leão XIII tinha publicado a sua encíclica Quamquam Pluries dedicada ao santo Patriarca. Nesta encíclica, de grande vigor de pensamento, recolhem-se as linhas fundamentais da teologia de São José, precisamente ao mencionar as razões por que deve ser considerado patrono da Igreja universal.

A primeira razão que o Papa refere é que São José é o esposo de Nossa Senhora e, consequentemente, é pai de Jesus, que é um bem - bonum prolis - deste casal. No texto do pontífice, a verdade do matrimônio entre Nossa Senhora e São José está fora de qualquer dúvida e leva diretamente à verdade da paternidade de São José para com Jesus. Ambas as realidades - matrimônio e paternidade - constituem traços essenciais da vocação divina de São José: ele foi chamado a desempenhar estas duas missões queridas em si mesmas por Deus, no seu próprio valor. Nesta vocação encontram a sua razão de ser todas as graças recebidas por São José; nela se encontra, pois, a razão última da «sua dignidade, da sua santidade e da sua glória»[11].

Na abordagem de Leão XIII, o casamento de São José com a Virgem Maria é a razão última de tudo o que acompanha a figura de São José, porque a verdade e perfeição deste matrimônio «exigem» a participação nos seus bens e, concretamente, no bem dos filhos, embora o filho tenha sido gerado virginalmente. O Papa chama a este matrimônio «máximo consórcio e amizade em que a si mesmo está unida a comunhão de bens», e diz que São José foi entregue à Virgem não só como «companheiro de vida, testemunha da virgindade e protetor da honra», mas também como participante da sua «excelsa grandeza». Ele é, pois, «o guardião legítimo e natural da Sagrada Família»[12].

Leão XIII continua assim uma linha de pensamento já seguida por Sto. Ambrósio e Sto. Agostinho, que encontra uma das suas formulações mais perfeitas em S. Tomás de Aquino: entre Nossa Senhora e São José houve verdadeiro e perfeito matrimônio. Dada a virgindade perpétua de Nossa Senhora, alguns escritores antigos tiveram certa dificuldade em considerar esta união como um verdadeiro matrimônio[13]. Estas hesitações dissiparam-se a favor da autenticidade do matrimônio, entre outras causas, devido à decidida tomada de posição de Sto. Ambrósio[14] e de Sto. Agostinho[15]. Isto não impede que autores tão importantes como S. Bernardo (+1153) se tenham mostrado muito cautelosos perante a afirmação do matrimônio entre São José e Nossa Senhora, ou não o tenham valorizado como elemento fundamental na teologia josefina[16]. A posição de S. Tomás de Aquino (+1274) não oferece lugar a dúvidas: a união entre José e Maria foi verdadeiro e perfeito matrimônio, porque nele teve lugar a união esponsal entre os seus espíritos[17].

Convém não esquecer que considerar a união entre José e Maria como verdadeiro matrimônio se ajusta à linguagem do Novo Testamento, que não vacila em chamar a Nossa Senhora «mulher» de José: não há hesitações quanto à virgindade de Nossa Senhora inclusive naqueles lugares em que se lhe chama esposa de José (cf., p.ex., Mt 1, 16-25), nem há dúvidas quanto a chamar a José pai de Jesus, nem em mostrá-lo agindo como tal (cf., p.ex., Lc 2, 21-49).

Desde os seus primeiros escritos, São Josemaria descreve a figura de S. José como um homem jovem, talvez um pouco mais velho que Santa Maria, mas na plenitude da força e da vida.

3. A figura de São José nos ensinamentos de São Josemaria

Desde os primeiros escritos, São Josemaria descreve a figura de São José como um homem jovem, talvez um pouco mais velho que Nossa Senhora, mas na plenitude da força e da vida: O santo Patriarca não era um velho, mas um homem jovem, forte, reto, grande apaixonado pela lealdade, com fortaleza. A Sagrada Escritura define-o com uma só palavra: justo (cf. Mt 1, 20-21). José era um varão justo, um homem cheio de todas as virtudes, como convinha a quem tinha de ser o protetor de Deus na terra[18].

Por detrás desta descrição encontra-se a convicção de que Deus, ao dar a vocação, outorga as graças convenientes a quem a recebe e que, portanto, atribuiu a São José aqueles dotes da natureza e da graça que o fizeram digno esposo de Nossa Senhora e cabeça da Sagrada Família; está claro também que, de modo análogo à Virgem Santíssima, o papel de São José não é algo acidental, mas parte essencial do plano divino da salvação.

Na pregação de São Josemaria, o destaque da juventude de São José apoia-se, ainda, em três razões fundamentais: o bom senso na hora de ler a Sagrada Escritura (sempre se apresenta o seu casamento como um casamento normal, e não teria sido muito normal o matrimônio de uma jovem com um ancião), a consideração da comunhão de espíritos própria do matrimônio (do amor existente entre eles) e, sobretudo, a convicção de que a santa pureza não é questão de idade, antes brota do amor: Não estou de acordo com a forma clássica de representar São José como um homem velho, apesar da boa intenção de se destacar a perpétua virgindade de Maria. Eu imagino-o jovem, forte, talvez com alguns anos mais do que a Virgem, mas na pujança da vida e das forças humanas. Para viver a virtude da castidade não é preciso ser velho ou carecer de vigor. A castidade nasce do amor; a força e a alegria da juventude não constituem obstáculo para um amor limpo. Jovem era o coração e o corpo de São José quando contraiu matrimônio com Maria, quando conheceu o mistério da sua Maternidade Divina, quando viveu junto d'Ela respeitando a integridade que Deus queria oferecer ao mundo como mais um sinal da sua vinda às criaturas[19]. Para São Josemaria é «inaceitável» apresentar São José como um homem idoso com a finalidade de calar os mal-intencionados[20]. É igualmente inaceitável não só duvidar da verdade do seu matrimônio com Nossa Senhora, como também não tomar em consideração o amor existente entre eles.

3.1. O amor entre São José e a Virgem Maria

D. Javier Echevarría oferece um valiosíssimo testemunho sobre o modo como São Josemaria contemplava as relações entre Maria e José, ao recolher as suas palavras perante Nossa Senhora de Guadalupe: “Uma família composta por um homem jovem, reto, trabalhador, forte; e uma mulher, quase uma menina que, com os seus esponsais cheios de um amor limpo, encontram nas suas vidas o fruto do amor de Deus pelos homens. Ela passa pela humildade de não dizer nada: que lição para todos nós, que estamos sempre dispostos a cantar as nossas façanhas! Ele move-se com a delicadeza de um homem reto - na ocasião seria muito duro quando se apercebeu de que a sua mulher, santa, estava grávida! - e, como não quer manchar a sua reputação, cala-se, enquanto pensa como resolver as coisas até que chega a luz de Deus, que sem dúvida pedia desde o primeiro momento, e se adapta sem vacilar aos planos do Céu”[21].

A autenticidade do casamento pressupõe a existência de amor conjugal, de desejo de vida em comum, de compromisso, e é lógico pensar que estes traços estiveram muito presentes no casamento de José e Maria. Deus juntou a esse amor o fruto de Nossa Senhora: o Filho Eterno feito homem, que quis nascer em uma família humana.

Como dissemos, São Josemaria dá como assente que o casamento entre São José e a Virgem é um verdadeiro casamento. Parte daqui como de um dado seguro, e aprofunda a consideração do amor existente entre os cônjuges: "São José devia ser jovem quando se casou com a Virgem Santíssima, uma mulher então acabada de sair da adolescência. Sendo jovem, era puro, limpo, castíssimo. E era-o, precisamente, por amor. Só enchendo de amor o coração podemos ter a certeza de que não se levantará nem se desviará, mas que permanecerá fiel ao amor puríssimo de Deus" [22].

Para São Josemaria, o amor é a chave de toda a vida humana, e também o é na vida de José: nele está a razão da sua fortaleza, da sua fidelidade, da sua castidade. Um pouco mais adiante, acrescenta: "Imaginais São José, que amava tanto a Santíssima Virgem e sabia da sua integridade sem mancha? Quanto terá sofrido ao ver que esperava um filho! Só a revelação de Deus nosso Senhor, através de um anjo, o tranquilizou. Tinha encontrado uma solução prudente: não a desonrar, afastar-se sem dizer nada. Mas, que dor!, porque a amava com toda a alma. Calculais a sua alegria, quando soube que o fruto daquele ventre era obra do Espírito Santo?" [23]

«Jovem era o coração e o corpo de S. José quando contraiu matrimónio com Maria, quando conheceu o mistério da sua Maternidade Divina, quando viveu junto d'Ela respeitando a integridade que Deus queria oferecer ao mundo como mais um sinal da Sua vinda às criaturas»

Embora não se detenha no motivo da perturbação de José, São Josemaria está querendo dizer que consiste em «não ver», não no fato de que duvidasse da virtude da sua esposa. Não sabe o que fazer: "José era um varão justo, um homem cheio de todas as virtudes, como convinha ao que havia de ser o protetor de Deus na terra. A princípio perturba-se, quando descobre que a sua Esposa Imaculada está grávida. Pressente a mão de Deus naquela situação, mas não sabe como comportar-se. E na sua honradez, para não a difamar, pensa afastar-se em segredo" [24].

A dor de José aponta para o próprio fato de ter de abandonar a sua esposa. São Josemaria cinge-se sobriamente aos dados que oferece o Novo Testamento, lendo-os com fé e com senso comum: segundo os textos, a perturbação de São José é clara; essa perturbação deve-se a uma ignorância que será ultrapassada com a mensagem do anjo; o amor e o conhecimento que José tem de Maria, levam-no a pensar que nesse acontecimento, que não entende, está a mão de Deus. São Josemaria sugere aqui o que bastantes exegetas pensaram: que a dúvida de José recai, não sobre a honra de Nossa Senhora, mas em como deve comportar-se pensando que há ali algo divino[25].

E sempre o amor pelo meio, pois São Josemaria não duvida de que havia autêntico amor conjugal entre eles [26]. Mais ainda, a castidade de José aparece protegida por esse amor, que se fundamenta na fé: "a sua fé funde-se com o amor: com o amor de Deus, que estava cumprindo as promessas feitas a Abraão, a Jacob, a Moisés; com o carinho de esposo para com Maria e com o carinho de pai por Jesus. Fé e amor na esperança da grande missão que Deus, servindo-se também dele - um carpinteiro da Galileia - estava começando no mundo - a redenção dos homens" [27].

Isto significa que, no meio do claro-escuro da fé, São José consegue pressentir também algo da grandeza de sua missão.

3.2. A paternidade de José

Em São Josemaria, não existe dúvida nenhuma sobre o modo de expressar a paternidade de São José. Desde os primeiros escritos até ao final, chama-lhe Pai de Jesus sem mais limitações. Pode-se dizer que o seu pensamento acerca da teologia de São José se inscreve nas coordenadas de dois Padres da Igreja: S. João Crisóstomo e Sto. Agostinho. De S. João Crisóstomo cita um texto que coloca na boca de Deus estas palavras: «Não penses que, por ser a concepção de Cristo obra do Espírito Santo, tu és estranho ao serviço desta divina economia. Porque, se é certo que não tens nenhum papel na geração e a Virgem permanece intacta; contudo, tudo o que diz respeito à paternidade sem atentar na dignidade da virgindade, tudo isso entrego a ti, tal como dar nome ao filho»[28]. De Sto. Agostinho, São Josemaria cita, como vimos, no Sermão 51[29].

O exercício da paternidade de Jesus constitui parte essencial de uma «missão» que enche toda a vida de José: "tem uma missão divina: vive com a alma entregue, dedica-se inteiramente às coisas de Jesus Cristo, santificando a vida quotidiana" [30]. Aqui reside um dos principais atrativos que o santo Patriarca exerce sobre São Josemaria: a sua total entrega a Jesus santificando a vida quotidiana, quer dizer, no exercício dos afazeres próprios de sua profissão e como um bom Pai de família judaica do seu tempo.

São Josemaria oferece em É Cristo que passa uma longa descrição da relação paterno-filial que tem lugar entre São José e Nosso Senhor. É uma página bela, sóbria e piedosa, em que se presta atenção aos detalhes: "para São José, a vida de Jesus foi uma contínua descoberta da sua vocação. Recordamos acima aqueles primeiros anos cheios de circunstâncias aparentemente contraditórias: glorificação e fuga, majestade dos magos e pobreza da gruta, canto dos Anjos e silêncio dos homens. Quando chega o momento de apresentar o Menino no Templo, José, que leva a modesta oferenda de um par de rolas, vê como Simeão e Ana proclamam que Jesus é o Messias. Seu pai e sua mãe ouviram com admiração (Lc 2, 33), diz S. Lucas. Mais tarde, quando o Menino fica no templo sem que Maria e José o saibam, ao encontrá-Lo de novo depois de O procurarem por três dias, o mesmo evangelista narra que se maravilharam (Lc 2, 48). José surpreende-se, José admira-se. Deus vai lhe revelando os seus desígnios e ele esforça-se por compreendê-los. (…) São José, como nenhum outro homem antes ou depois dele, aprendeu com Jesus a estar atento para conhecer as maravilhas de Deus, a ter a alma e o coração abertos" [31].

Eis a vida interior de São José descrita como uma autêntica peregrinação na fé, em certo sentido, muito parecida à de Nossa Senhora. Ambos, Maria e José, vão descobrindo a vontade de Deus pouco a pouco, e vão tornando realidade a sua primeira entrega em uma fidelidade com que se confortam mutuamente. Ao mesmo tempo, no exercício da sua paternidade, José transmite a Jesus o seu ofício de artesão, o seu modo de trabalhar, inclusive em tantas coisas a sua visão do mundo: "mas se José aprendeu de Jesus a viver de um modo divino, atrever-me-ia a dizer que, no aspecto humano, ensinou muitas coisas ao Filho de Deus (…). José amou Jesus como um pai ama o seu filho, tratou-o dando-lhe tudo que de melhor tinha. José, cuidando daquele Menino como lhe tinha sido ordenado, fez de Jesus um artesão: transmitiu-lhe o seu ofício. Por isso, os vizinhos de Nazaré falavam de Jesus chamando-lhe indistintamente faber e fabri filius (Mc 6, 3; Mt 13, 55): artesão e filho do artesão. Jesus trabalhou na oficina de José e junto de José. Como seria José, como teria atuado nele a graça, para ser capaz de levar a cabo a tarefa de desenvolver no aspecto humano o Filho de Deus? Por isso, Jesus devia parecer-se com José no modo de trabalhar, nos traços do seu caráter, na maneira de falar. No realismo de Jesus, no seu espírito de observação, no seu modo de se sentar à mesa e de partir o pão, no seu gosto por falar de um modo concreto tomando como exemplo as coisas da vida corrente, reflete-se o que foi a infância e a juventude de Jesus e, portanto, a sua convivência com José" [32].

Eis o paradoxo, e São Josemaria tem dele plena consciência: aquele que é a Sabedoria «aprende» de um homem as coisas mais elementares, como o ofício de carpinteiro. Manifesta-se neste paradoxo a «sublimidade do mistério» da Encarnação e a verdade da paternidade de José. Com a sua Mãe, o Senhor aprendeu a falar e a andar; no lar governado por São José, aprendeu lições de laboriosidade e de honradez. O carinho mútuo fez com que José e Jesus se parecessem em muitas coisas: "Não é possível desconhecer a sublimidade do mistério. Esse Jesus que é homem, que fala com o sotaque de uma determinada região de Israel, que se parece com um artesão chamado José, esse é o Filho de Deus. E quem pode ensinar alguma coisa a Deus? Mas é realmente homem e vive normalmente: primeiro como menino; depois, como rapaz que ajuda na oficina de José; finalmente como homem maduro, na plenitude da idade. Jesus crescia em sabedoria, em idade e em graça diante de Deus e dos homens." (Lc 2, 52)[33].

3.3. São José, Mestre de vida interior no trabalho

São José soube ensinar Jesus com as lições com que todo bom pai israelita sabia educar os seus filhos: lições de vida limpa e de sacrifício, de virtudes humanas e de trabalho oferecido a Deus e bem acabado; lições de vida sóbria, justa e honesta. São José nos ensinará também a nós, que formamos um só Corpo com Cristo. "José foi, no aspecto humano, mestre de Jesus; conviveu com Ele diariamente, com delicado carinho, e cuidou dele com alegre abnegação. Não será esta uma boa razão para considerarmos este varão justo, este Santo Patriarca, no qual culmina a Fé da Antiga Aliança, como Mestre de vida interior? A vida interior não é outra coisa senão o convívio assíduo e íntimo com Cristo, para nos identificarmos com Ele. E José saberá dizer-nos muitas coisas sobre Jesus. Por isso, não deixeis nunca de conviver com ele; ite ad Joseph, como diz a tradição cristã com uma frase tomada do Antigo Testamento (Gn 41, 55)" [34].

Duas características da vida de São José atraem poderosamente a devoção de São Josemaria: a sua vida de contemplação e a sua vida de trabalho. É lógico, pois ambos os rasgos são essenciais no espírito do Opus Dei. Na festa da Epifania de 1956 dizia: "E um último pensamento vai também para esse homem justo, Nosso Pai e Senhor, São José, que, como habitualmente, passa despercebido na cena da Epifania. Pressinto-o recolhido em contemplação, protegendo com amor o Filho de Deus,que, ao fazer-se homem, foi confiado à sua atenção paternal. Com a maravilhosa delicadeza de quem não vive para si, o Santo Patriarca entrega-se com um espírito de sacrifício tão silencioso como eficaz. Falamos hoje da vida de oração e do afã de apostolado. Queremos porventura melhor mestre nesta matéria do que São José? Se quereis que vos dê um conselho, dir-vos-ei - com palavras que venho repetindo incansavelmente há muitos anos: Ite ad Joseph (Gn 41, 55), recorrei a São José; ele vos mostrará caminhos concretos e meios humanos e divinos para chegar a Jesus. E em breve ousareis, tal como ele, segurar nos braços, beijar, vestir e cuidar deste Menino Deus que nasceu para nós" [35].

Para São Josemaria, o amor é a chave de toda a vida humana, e também o é na vida de José: nele está a razão da sua fortaleza, da sua fidelidade, da sua castidade

A citação é da oração a São José, preparatória para a santa Missa contida no missal romano[36]. Esta oração oferece como exemplo a contemplação de São José na proximidade de Jesus que, na sua simplicidade, é um bom exemplo da proximidade com que o cristão deve contemplar a vida de Jesus.

São Josemaria enamora-se da vida de trabalho de José e considera-o mestre de vida interior nessa vida de trabalho intenso e humilde, "porque nos ensina a conhecer Jesus, a conviver com Ele, a tomar consciência de que fazemos parte da família de Deus", e "nos dá essas lições sendo, como foi, um homem corrente, um pai de família, um trabalhador que ganhava a vida com o esforço de suas mãos. Este fato possui também, para nós, um significado que é motivo de reflexão e de alegria" [37]. A figura de São José fala também da universalidade do chamamento ao apostolado: ele soube converter o trabalho em ocasião de «dar a conhecer Jesus».

Grande parte da homilia Na oficina de José está dedicada a este tema: o espírito do Opus Dei "apoia-se, como em seu gonzo, no trabalho corrente, no trabalho profissional exercido no meio do mundo. A vocação divina dá-nos uma missão, convida-nos a participar na tarefa única da Igreja, para sermos assim testemunhas de Cristo perante os nossos iguais, os homens, e para levarmos todas as coisas a Deus" [38]. A figura de São José sobressai como a daquele que soube dar ao trabalho a sua dimensão própria na história da salvação.

É aqui, no oferecimento a Deus do próprio trabalho, onde o cristão exercita o sacerdócio que recebeu no batismo. Comentando a oração a São José que se acaba de citar, diz: «Deus qui dedisti nobis regale sacerdotium… Para todos os cristãos, o sacerdócio é real (…): todos temos alma sacerdotal. Praesta, quaesumus ut, sicut beatus Ioseph unigenitum Filium tuum, natum ex Maria Virgine, (...) suis manibus reverenter tractare meruit et portare, (…) ita nos facias cum cordis munditia… Assimquer Ele que sejamos: limpos de coração. Et operis innocentia - a inocência das obras é a retidão de intenção - tuis sanctis altaribus deservire. Servi-Lo não só no altar, mas no mundo inteiro, que é altar para nós. Todas as obras dos homens se fazem como em um altar, e cada um de vós, nessa união de almas contemplativas que é o vosso dia, de algum modo diz a sua missa, que dura vinte e quatro horas, à espera da missa seguinte, que durará outras vinte e quatro horas, e assim até o fim de nossa vida" [39].

O exercício da paternidade sobre Jesus constitui parte essencial de uma “missão” que preenche toda vida de José

Santificar é próprio do sacerdote. A santificação do trabalho tem lugar como exercício do sacerdócio dos leigos, pois todos os seus trabalhos, orações e empreendimentos apostólicos, a vida conjugal e familiar, o trabalho de cada dia, o descanso do espírito e do corpo, se forem feitos no Espírito, e as próprias incomodidades da vida, suportadas com paciência, se tornam em outros tantos sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por Jesus Cristo (cf. 1 Pe 2,5); sacrifícios estes que são piedosamente oferecidos ao Pai, juntamente com a oblação do corpo do Senhor, na celebração da Eucaristia[40].

O ato próprio do sacerdote é santificar. A santificação do trabalho se realiza como um exercício do sacerdócio dos fiéis, "pois todas as suas obras, orações e projetos apostólicos, vida conjugal e familiar, trabalho diário, o descanso da alma e do corpo, se forem realizados no Espírito; até os aborrecimentos da vida se a pessoa sofre pacientemente, tornam-se hóstias espirituais aceitáveis a Deus por de Jesus Cristo (1P 2,5), que na celebração da Eucaristia, com a oblação do corpo do Senhor, os cristãos oferecem o Pai mais piedosamente" [41].

Entre os gestos de devoção a São José destaca-se um com que São Josemaria se insere também em uma rica tradição anterior: a comparação do santo Patriarca com José, o filho de Jaco, que distribuiu o pão aos habitantes do Egito e aos filhos de Israel. Esta comparação é reforçada por um fato que o atinge profundamente no coração: porque «providenciar o pão» é característica do Pai de família - somos da família de São José -, e porque o pão de que se fala é a sagrada Eucaristia. Os textos mais vibrantes sobre este tema encontram-se quando evoca os acontecimentos que se relacionam com a obtenção da autorização para a reserva do Senhor na primeira residência de estudantes.

É assim que recorda este acontecimento:«Em 1934, se não me engano, começamos a primeira residência de estudantes (...). Precisávamos ter o Senhor conosco, no tabernáculo. Agora é fácil, mas, naquela altura, ter um sacrário era muito difícil (…) Comecei a pedir a São José que nos concedesse o primeiro sacrário, e o mesmo faziam os meus filhos que então tinha. Enquanto rezávamos por este assunto, eu tratava de encontrar os objetos necessários: paramentos, tabernáculo… Não tínhamos dinheiro. Quando juntava cinco duros, que então era uma quantia discreta, gastavam-se em outra necessidade mais imperiosa. Consegui que umas freirinhas, a quem muito quero, me arranjassem um sacrário; consegui os paramentos em outro lugar e, finalmente, o bom bispo de Madri concedeu-nos a autorização para ter o Santíssimo Sacramento conosco. Então, em sinal de agradecimento, mandei pôr uma corrente na chave do sacrário, com uma medalhinha de São José em que, por trás, está escrito: ite ad Ioseph! De modo que São José é verdadeiramente nosso Pai e Senhor, porque nos deu o pão – o pão eucarístico - como um bom Pai de família. Não disse já que nós pertencemos à sua família?» [42].

São José, dispensador do pão para a Sagrada Família, é também dispensador do pão para a Igreja. Do céu, continua a exercer a sua paternidade sobre aqueles que formam em Cristo um mesmo Corpo Místico. Com o correr dos anos, esta reflexão foi-se tornando cada vez mais viva, enraizando-se progressivamente na alma de São Josemaria. O Venerável Servo de Deus Álvaro del Portillo, refere esta recordação da viagem por alguns países da América do Sul em 1974: «Durante aquela viagem, o nosso Fundador começou a falar da presença misteriosa - "inefável", dizia - de Maria e de José junto aos sacrários de todo o mundo. Explicava-o do seguinte modo: se a Santíssima Virgem nunca se separou do seu Filho, é lógico que continue ao seu lado também quando o Senhor decide ficar nesta "prisão de amor" que é o tabernáculo: para O adorar, para O amar, rezar por nós. E aplicava a São José a mesma ideia: esteve sempre junto de Jesus e junto da de sua Esposa; teve a sorte de morrer acompanhado por eles, que morte tão maravilhosa! (…) Definitivamente, o nosso Padre[43] punha São José em tudo»[44].

Concluindo, a devoção de São Josemaria a São José e a sua visão teológica da figura e da missão do santo Patriarca têm o seu fundamento na meditação da Sagrada Escritura - na sua leitura cristã da Bíblia -, nos santos Padres, especialmente S. João Crisóstomo e Sto. Agostinho, e naquilo que constituem as linhas de força da teologia de São José no magistério pontifício anterior, especialmente no de Leão XIII. A teologia mariana costuma desenvolver-se em torno da verdadeira maternidade de Nossa Senhora (a sua maternidade de Cristo e de todos os homens); assim sucede de modo análogo com a teologia de São José, tal como a encontramos nos ensinamentos de São Josemaria: toda ela está fundamentada em torno de três eixos fundamentais: a verdade do seu casamento com Nossa Senhora, a verdade da sua paternidade de Jesus, a sua missão de protetor da Sagrada Família primeiro, e depois da Igreja. Dentro destas coordenadas, o leitor atento encontra como que um caminho amável na «descoberta» de pequenos detalhes, aplicações e matizes que vão durar até ao final de sua vida, como se salienta, por exemplo, no testemunho do Venerável Servo de Deus Álvaro del Portillo que acaba de ser citado.

* Artigo póstumo.


[1] SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ, Da família de José, apontamentos da pregação, 19-III-1971 (AGP, biblioteca, P09, pág. 136).

[2] Cf. ANDRÉS VÁZQUEZ DE PRADA, O Fundador do Opus Dei, vol. III, Rialp, Madri 2003, pág. 728 ss. Sobre a presença de São José nos ensinamentos de São Josemaria, cf., entre outros, os seguintes trabalhos: L.M. DE LA HERRÁN, La devoción a San José en la vida y enseñanzas de Mons. Escrivá de Balaguer, fundador del Opus Dei (1902-1975), Estudios josefinos, 34 (1980), pág. 147-189; I. SOLER, San José en los escritos y en la vida de San Josemaría. Hacia una teología de la vida ordinaria, Estudos josefinos, 59 (2005), pág. 259-284. Cf. também J.B. FREIRE PÉREZ, Para amar más San José, Promesa, San José de Costa Rica 2007, pág. 55-61; M. IBARRA BENLLOCH, La capilla de la Sagrada Familia, Scripta de Maria, II/4 (2007), pág. 351-364; J. FERRER, San José nuestro padre y Señor, Arca de la Alianza, Madri 2007.

[3] SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ, Caminho, nº 559.

[4] SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ, Cf. homilia Na Oficina de José, em É Cristo que passa, nº. 39-56. Daqui em diante, Na Oficina de José.

[5] SANTO AGOSTINHO, Sermão 51, 20: PL 38, 351; BAC 95, p. 40. Cf. Na Oficina de José, nº. 55.

[6] Na Oficina de José, nº 39.

[7] Ibid.

[8] As palavras de Santa Teresa: «Começo em nome do Senhor, tomando por ajuda a sua gloriosa Mãe, cujo hábito trago, embora indigna dele, e o meu glorioso pai e senhor S. José, em cuja casa estou» (SANTA TERESA, Fundações, prólogo, 5; BAC 212, 8ª ed., pág. 675). Cf. Caminho. Edição crítico-histórica preparada por Pedro Rodríguez, Rialp, Madrid 2002, pág. 689, esp. nt. 29.

[9] Sobre os diversos qualificativos que a paternidade de São José recebeu ao longo dos séculos - Pai legal, putativo, nutrício, adotivo etc. -, cf. B. LLAMERA, Teología de San José, BAC, Madri 1953, pág. 73-114. Llamera apresenta duas conclusões muito orientadoras: «As denominações pai legal, putativo, nutrício, adotivo, virginal e vigário do Pai celeste exprimem somente aspectos parciais e incompletos da paternidade de São José» (p. 94). E a conclusão seguinte que explica por que todas estas «paternidades» lhe parecem incompletas: «A paternidade de São José é nova, única e singular, de ordem superior à paternidade natural e adotiva humanas» (pág. 102). Seguindo Santo Agostinho pode dizer-se que a paternidade de São José quanto a Jesus é única, singular e de ordem superior como é único, singular e de ordem superior o seu casamento com Nossa Senhora.

[10] Além das numerosas alusões a São José que São Josemaria faz ao longo de toda a vida, existem quatro extensos textos dedicados a São José, com que é fácil esboçar uma teologia quase completa do santo Patriarca. São estes textos: homilia Na Oficina de José, 19-III-1963, em É Cristo que passa, nºs. 39-56; A escola de José, apontamentos de pregação, 19-III-1958 (AGP, biblioteca, P18, pág. 79-88); São José, nosso Pai e Senhor, apontamentos de pregação, 19-III-1968 (AGP, biblioteca, P09, pág. 93-103); Da família de José, apontamentos de pregação, 19-III-1971 (AGP, biblioteca, P09, pág. 133-141). De agora em diante, os três últimos serão citados como A escola de José; São José, nosso Pai e Senhor; e Da família de José, respectivamente.

[11] LEÃO XIII, Enc. Quamquam pluries (15-VIII-1889), nº. 3.

[12] «Uma vez que o casamento é a máxima união e amizade - a que por si própria vai unida a comunhão de bens – daí resulta que, se Deus deu José como esposo da Virgem, deu-o não só como companheiro de vida, testemunha da virgindade e protetor da honra, mas também para que participasse, por meio do pacto conjugal, na excelsa grandeza dela» (Ibid.).

[13] Cf. G.M. BERTRAND, Joseph (saint). II. Patristique et haut moyen âge, Dictionnaire de Spiritualité, VIII, Beauchesne, Paris 1974, 1304.

[14] «Nec te moveat quod frequenter Scriptura conjugem dicit: non enim virginitatis ereptio, sed conjugii testificatio, nuptiarum celebratio declaratur» (In Lucam, 2, 5: SC 45, pág. 74).

[15] Sto. Agostinho lembra as implicações desta situação providencial no próprio conceito de casamento ao propô-lo como modelo aos casamentos continentes dizendo: «este casamento é tanto mais real quanto mais casto é» (Sermão 51, 10, 13 y 16: PL 38, 342, 344-346, 348; BAC 95, 39-40). As expressões latinas de Sto. Agostinho no Sermão 51 são de uma grande beleza e clareza: «Quare pater? Quia tanto firmius pater, quanto castius pater (…) Non ergo de semine Joseph Dominus, quamvis hoc putaretur: et tamen pietati et charitati Joseph natus est de Maria virgine filius, idemque Filius Dei».

[16] Cf. SÃO BERNARDO, Homilia Super missus est, II, 15: «Nec vir ergo matris, nec filii pater exstitit, quamvis certa… et necessaria dispensatione utrumque ad tempus appellatus sit et putatus» (em Opera, t. 4, éd. J. Leclerq et H. Rochais, Roma 1966, pág. 33). O que aqui ocupa o primeiro plano não é a verdade do casamento, mas o fato de São José ter sido chamado «vir» e «pater» temporalmente, ad tempus. A tradução castelhana de Díez Ramos sublinha a pouca importância que o casamento de José e Maria recebe nesta homilia: «Nem foi, portanto, marido da mãe nem Pai do filho, embora (como dissemos), por uma necessária razão de ação e permissão em Deus, foi chamado e tido durante algum tempo uma coisa e outra» (BAC 110, 203). A pouca importância dada por S. Bernardo ao casamento entre a Virgem e São José não o impede de fazer uma ardente descrição da santidade de José, p.ex., ao compará-lo com José, filho de Jacob: «Recorda-te ao mesmo tempo daquele grande patriarca, vendido noutros tempos no Egito, e reconhecerás que este não só teve o seu nome, mas a sua castidade, a sua inocência e a sua graça (…) Aquele, guardando lealdade ao seu senhor, não quis consentir má intenção da sua senhora (cf. Gn 39, 12); este, reconhecendo Virgem a sua Senhora, Mãe do seu Senhor, guardou-a fidelissimamente, conservando ele próprio toda a castidade» (Ibid., 16: BAC 110, 204).

[17] «A forma do casamento consiste numa certa união indivisível das almas pela qual cada cônjuge de modo indivisível se obriga a guardar fidelidade ao outro; o fim do casamento é gerar e educar os filhos: ao primeiro chega-se pelo ato conjugal; ao segundo pelas obras do marido e da esposa com que se ajudam para criar a prole (…) Quanto à primeira perfeição, o casamento da Virgem Mãe de Deus e José foi um verdadeiro casamento, porque ambos consentiram na união conjugal (…) Quanto à segunda perfeição, que tem lugar pelo ato matrimonial, se se refere à união carnal pela qual se concebem os filhos, aquele casamento não foi consumado (…) porém aquele casamento teve também a segunda perfeição no que se refere à educação da prole» (S. Tomás, S. Th. III, q. 29, a. 2, in c.).

[18] A escola de José, pág. 80. E noutro lugar, diz: «Das narrativas evangélicas se depreende a grande personalidade humana de José: em nenhum momento nos aparece como um homem apoucado ou assustado perante a vida; pelo contrário, sabe enfrentar-se com os problemas, seguir em frente nas situações difíceis, assumir com responsabilidade e iniciativa as tarefas que lhe encomendam» (Na Oficina de José, nº. 40).

[19] Na Oficina de José, nº 40. Encontramos o mesmo pensamento em Da família de José, pág. 134, e em São José, nosso Pai e Senhor, pág. 95-96.

[20] Para «garantir» melhor a virgindade de Nossa Senhora alguns apócrifos falaram de um casamento anterior de José e apresentaram-no de idade avançada. Esta apresentação influiu poderosamente na arte (cf. G.M. BERTRAND, en Joseph (saint). II. Patristique et haut moyen âge, Dictionnaire de Spiritualité, VIII, cit., 1302-1303). Para o «realismo» e a simplicidade de São Josemaria, a imaginação desses apócrifos é inaceitável. A posição de São Josemaria é muito parecida com a de S. Jerônimo no Adv. Helvidium, 19 (PL 23, 203): é necessário apoiar-se sobriamente nos dados que Novo Testamento oferece.

[21] SÃO JOSEMARIA, Apontamentos da sua oração pessoal perante Nossa Senhora de Guadalupe, 21-V-1970, citado em J. ECHEVARRÍA, Carta, 1-XII-1996 (AGP, biblioteca, P17, vol. 4, pág. 230-231).

[22] Da família de José, pág. 134.

[23] Ibid., pág. 138.

[24] A escola de José, pág. 80.

[25] Após citar Mt 1, 20, P. GRELOT comenta: «A exortação a não temer ocorre em um relato de vocação: José, o justo, recebe de Deus um chamamento à medida da sua justiça (…) Ao tomar consigo a mãe do menino e converter-se em seu esposo, José converte-se ao mesmo tempo em responsável pela mãe e pelo filho perante Deus e perante os homens; é o seu papel especial no plano da salvação. A sua paternidade real está marcada pelo fato de que será ele a pôr o nome ao menino; esta será desde então "a palavra de reconhecimento" do Pai ao filho» (P. GRELOT, Joseph (Saint). I. Écriture, Dictionnaire de Spiritualité, VIII, cit., 1297-1298).

[26] E aqui está outra expressão feliz: «(…) mas José, seu esposo, sendo, como era, justo, e não querendo difamá-la… Não, em consciência não podia. Sofre. Sabe que a sua esposa é imaculada, que é uma alma sem mancha, e não compreende o prodígio que se verifica nela. Por isso voluit occulte dimittere eam (Mt 1, 19), deliberou deixá-la secretamente. Vacila, não sabe que fazer, mas resolve da maneira mais limpa» (São José, nosso Pai e Senhor, pág. 101).

[27] Na Oficina de José, nº. 42.

[28] S. JOÃO CRISÓSTOMO, In Mat., Hom. 4, 6: BAC 141, 70. Cf. A escola de José, pág. 80-81.

[29] Cf. Na Oficina de José, nº. 55.

[30] A escola de José, pág. 81.

[31] Na Oficina de José, nº. 54.

[32] Ibid., nº. 55.

[33] Ibid.

[34] Ibid., nº. 56.

[35] Homilia Na epifania do Senhor,6-I-1956, em É Cristo que passa, nº. 38.

[36] «O felicem virum, beatum Ioseph, cui datum est, Deum, quem multi reges voluerunt videre et non viderunt, audire et non audierunt; non solum videre et audire, sed portare, deosculari, vestire et custodire!».

[37] SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ, Na Oficina de José, É Cristo que passa, nº 39.

[38] Ibid., nº 45.

[39] SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ, Apontamentos de uma meditação, Roma, 19-III-1968.

[40] CONCÍLIO VATICANO II, Const. dogm. Lumen gentium, nº. 34.

[41] CONCILIO VATICANO II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 34.

[42] Da família de José, pág. 137.

[43] D. Álvaro del Portillo refere-se a São Josemaria como nosso Pai, pois o Opus Dei é uma família de caráter sobrenatural.

[44] ÁLVARO DEL PORTILLO, Entrevista sobre o Fundador do Opus Dei, Rialp, Madri 1993, pág. 161

Lucas F. Mateo-Seco