«Durante a conversa, com humor brincalhão e gesticulando muito expressivamente, o Papa comenta-lhe:
– Da primeira vez que ouvi falar do Opus Dei, disseram-me que era uma instituição imponente e che faceva molto bene. Da segunda vez, que era uma instituição imponentissima e che faceva moltissimo bene. Essas palavras entraram-me pelos ouvidos, e... o carinho pelo Opus Dei ficou-me no coração.
João XXIII não é um Papa empertigado e distante. Pelo contrário, a sua singeleza abre portas à confiança e facilita o diálogo. A certa altura, Escrivá explica-lhe os fatigantes trâmites e as longas esperas que teve de suportar durante vinte anos até que a Santa Sé aprovasse a existência de “cooperadores” não católicos e mesmo não cristãos no Opus Dei. João XXIII, bom conhecedor da alambicada burocracia vaticana, ri a bom rir do relato vivaz em que se contrapõem a impaciência de Escrivá e a lenta maquinaria da Cúria. Mas o que interessa ao Fundador do Opus Dei é sublinhar o fenômeno inédito de que pessoas de outras religiões possam cooperar com uma obra da Igreja Católica. Por isso, e ainda que a entrevista se dê dois anos antes do início do Concílio Ecumênico, Escrivá diz a João XXIII:
– Na nossa Obra, todos os homens, católicos ou não, sempre encontraram um lugar amável. Como vê, não aprendi o ecumenismo de Vossa Santidade: aprendi-o do Evangelho».
(Pilar Urbano, O homem de Villa Tevere)