O Advento: um tempo de esperança cristã

No Advento os cristãos se preparam para a celebração do Nascimento de Cristo. Nesse texto selecionado, São Josemaria anima-nos a viver estes dias no “clima da misericórdia de Deus”.

Agora que se aproxima o tempo da salvação, é consolador ouvir dos lábios de São Paulo: Depois que Deus Nosso Salvador manifestou sua benignidade e amor aos homens, livrou-nos não pelas obras de justiça que tivéssemos feito, mas por sua misericórdia (Tit III, 5).

Se percorrermos as Santas Escrituras, descobriremos constantemente a presença da misericórdia de Deus: enche a terra (Ps XXXII, 5), estende-se a todos os seus filhos, super omnem carnem (Eclo XVIII, 12); rodeia-nos (Ps XXXI, 10), antecede-nos (Ps LXIII, 11), multiplica-se para nos ajudar (Ps XXXIII, 8), e foi continuamente confirmada (Ps CXVI, 2). Ao ocupar-se de nós como Pai amoroso, Deus nos tem presentes em sua misericórdia (Ps XXIV, 7): uma misericórdia suave (Ps CVIII, 21), agradável como a nuvem que se desfaz em tempo de seca (Ecclo XXXV, 26).

Correspondência humana

A existência do cristão desenvolve-se neste clima da misericórdia divina. Esse é o âmbito do esforço com que procura comportar-se como filho do Pai. E quais os principais meios para conseguirmos que a vocação se fortaleça? Hoje te indicarei dois, que são quais eixos vivos da conduta cristã: a vida interior e a formação doutrinal, o conhecimento profundo da nossa fé.

os dois eixos vivos da conduta cristã: a vida interior e a formação doutrinal, o conhecimento profundo da nossa fé

Vida interior em primeiro lugar. Como são poucos ainda os que a entendem! Ao ouvirem falar de vida interior, pensam na escuridão do templo, quando não no ambiente rarefeito de certas sacristias. Há mais de um quarto de século venho dizendo que não é isso. O que descrevo é a vida interior de um simples cristão, que habitualmente se encontra em plena rua, ao ar livre; e que na rua, no trabalho na família e nos momentos de lazer permanece atento a Jesus o dia todo. E o que é isso senão vida de oração contínua? Não é verdade que compreendeste a necessidade de ser alma de oração, com uma relação de amizade com Deus que te leve a endeusar-te? Essa é a fé cristã e assim o compreenderam sempre as almas de oração. Escreve Clemente de Alexandria: Torna-se Deus o homem que quer o mesmo que Deus quer (Clemente de Alexandria, Paedagogus, 3, 1, 1, 5 (PG 8, 556)).

A princípio custa; é preciso esforçar-se por dirigir o olhar para o Senhor, por agradecer a sua piedade paternal e concreta para conosco. Pouco a pouco, o amor de Deus - embora não seja coisa de sentimentos - torna-se tão palpável como uma flechada na alma. É Cristo que nos persegue amorosamente: Eis que estou à tua porta e bato (Apoc III, 20). Como vai a tua vida de oração? Não sentes às vezes, durante o dia, desejos de conversar mais com Ele? Não lhe dizes: mais tarde te contarei isto, mais tarde conversarei sobre isso contigo?

Nos momentos expressamente dedicados a esse colóquio com o Senhor, o coração se expande, a vontade se fortalece, a inteligência - ajudada pela graça - embebe em realidades sobrenaturais as realidades humanas. E, como fruto, surgem sempre propósitos claros, práticos, de melhorar a conduta, de tratar delicadamente, com caridade, todos os homens, de nos empenharmos a fundo - com o empenho dos bons esportistas - nesta luta cristã de amor e de paz.

A oração se torna contínua, como o palpitar do coração, como o pulso. Sem essa presença de Deus, não há vida contemplativa; e, sem vida contemplativa, de pouco vale trabalhar por Cristo, porque se Deus não edifica a casa, em vão trabalham os que a constroem (Cfr. Ps CXXVI, 1).

A esperança do Advento

Nada mais vos queria dizer neste primeiro Domingo do Advento, em que já começamos a contar os dias que nos faltam para o Natal do Salvador. Vimos a realidade da vocação cristã, como o Senhor confiou em nós para levar almas à santidade, para aproximá-las dEle, para uni-las à Igreja e estender o reino de Deus a todos os corações. O Senhor nos quer entregues, fiéis, delicados. Ele nos quer santos, muito seus.

Olhai e levantai a cabeça, porque está próxima a vossa redenção (Lc XXI, 28), lemos no Evangelho. O tempo do Advento é tempo de esperança. Todo o panorama da nossa vocação cristã, essa unidade de vida que tem como nervo a presença de Deus, nosso Pai, pode e deve ser uma realidade diária.

Pede-a comigo a Nossa Senhora, imaginando como Ela passaria aqueles meses à espera do Filho que ia nascer. E Nossa Senhora, Santa Maria fará com que sejas alter Christus, ipse Christus, outro Cristo, o próprio Cristo!